Quando a cultura negra se projeta no mercado

Pensar em cultura das periferias carece de uma reflexão além do já implícito fator social: a periferia tem uma esmagadora maioria afrodescendente.

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Por Beatriz Almeida

Pensar em cultura das periferias carece de uma reflexão além do já implícito fator social. Tem-se uma periferia formada por uma esmagadora maioria afrodescendente, responsável por boa parte daquilo que se produz e reproduz na cena cultural brasileira, mas “pouco se discute sobre o fato de que a maioria destes criadores de cultura ser negra, e mesmo entre eles o fator ‘ser negro’ não é tratado de maneira reflexiva”, afirmou a empreendedora Adriana Barbosa, em debate promovido pelo Estéticas das Periferias.

Adriana é presidente do Instituto Feira Preta e participa do núcleo empreendedor com raízes nesta comunidade negra que esteve presente no SESC Belenzinho no dia 30 de agosto. Desta realidade surgiram ações culturais como a revista O Menelick 2º Ato, do jornalista Nabor Jr., e a Cubo Preto, empresa do setor cultural que prioriza a interlocução entre manifestações artísticas de origem afro, dirigida pela artista plástica Renata Felinto. Como ponto convergente, as três iniciativas carregam o potencial de ampliar o papel da cultura afro-brasileira no país e sua autonomia, gerando de forma concreta transformação social.

Elencada pela Revista Exame entre os 10 negócios da atualidade com capacidade de melhorarem o mundo, a Feira Preta tem como intuito auxiliar na capacitação de empreendedores de comunidades e abrir espaço para que eles comercializem objetos, ofereçam serviços e participem de ações culturais, com a particularidade de ser um evento pensado e voltado para um público majoritariamente negro.

Observando que eram poucos os produtos do mercado cultural que se aproximavam das especificidades de sua comunidade, os três empreendedores perceberam a necessidade de investir na disseminação da cultura negra voltada para esse meio. Guiados pelos eixos da economia criativa e novas formas de pensar as diferentes etapas da gestão cultural, eles buscaram quebrar estigmas criados por um mercado que tradicionalmente prioriza aquilo que é rentável.

É importante lembrar que a produção negra não se sustenta apenas em Hip Hop e Graffiti, e que ao engessar estas ações e considerar o artista negro como fonte imutável, este mesmo mercado torna a circulação de empreendedores culturais negros uma questão de resistência. “É importante não rotular a ponto de estigmatizar e “guetizar” as produções todas, mesmo porque elas convivem”, opinou Renata.

Ainda sobre esta questão ambígua que envolve competição de mercado e apropriação da cultura, Adriana completou, fazendo referência a um educador de seu convívio: “quando o branco se apropria da cultura negra ele se apropria com o olhar do mercado, com o intuito de lucrar e não necessariamente criar um espaço que projete e beneficie esta parcela da população. É ver o carnaval.”

Com relação à viabilidade financeira, os projetos se mantém por meio de editais públicos, privados e, muitas vezes, pelo orçamento pessoal dos próprios idealizadores. Faz-se necessária uma pressão para a redemocratização das políticas de incentivo cultural, mas também pela articulação de alternativas que garantam a sustentabilidade dessas ações. A mobilização para que elas aconteçam é também um enfrentamento político, segundo Adriana, muitas vezes pautada pelos movimentos sociais negros: “Hoje se fala muito em desenvolvimento econômico e a gente precisa discutir sobre isso. Não dá para depender só de editais quando se pensa em continuidade”.

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