Em meio ao “guerra do pixo” travada por João Doria, um grupo de parlamentares de São Paulo se aventurou no universo do graffiti. Nesta terça-feira (21/02), Adilson Amadeu (PTB), Eduardo Suplicy (PT), Sâmia Bomfim e Toninho Vespoli (ambos do PSOL) visitaram o ateliê do coletivo de grafiteiros Imargem, no Jardim Gaivotas, Extremo Sul da cidade.
A convite dos artistas, os parlamentares saíram da Câmara Municipal de São Paulo em região ao Grajaú, distrito que é celeiro de artistas de rua, onde ouviram sobre a história do pixo e do graffiti, além de observar os contrastes da cidade pela janela da van e das prioridades que deveriam ser tratadas pelos representantes do povo no Poder Legislativo, para além da pixação.
À beira da represa Billings, vereadores falaram do aprendizado que tiveram nesse percurso e finalizaram com uma pixação no muro do ateliê. A proposta do Imargem é construir canais de diálogo para reivindicar garantias de direitos aos parlamentares, já que não há mais como deter a lei que torna a cidade mais cinza – a primeira a ser discutida em 2017 pelos parlamentares.
Logo no início dos trabalhos do Legislativo, o prefeito João Doria Jr desenterrou e apresentou para votação na Câmara Municipal um projeto de lei de 2005 de autoria do vereador Adilson Amadeu, um dos presentes na visita ao Grajaú. O PL foi aprovado na terça-feira passada (14/02), inclusive com voto favorável de Eduardo Suplicy – presente no rolê de hoje, o ex-senador chegou a realizar audiência pública para discutir o assunto, mas acompanhou a bancada do PT na votação. Somente Sâmia e Vespoli, ambos do PSOL, votaram contra o PL.
Sancionado nesta segunda-feira (20/02), a lei da cidade cinza estabelece multa de R$ 5.000 para quem for pego pixando. Se o ato acontecer em patrimônio público, a multa dobra para R$ 10.000. A lei diferencia graffiti de pixação, não diz como isso ocorrerá na prática, e também prevê punição a grafiteiros não autorizados. Além disso, estabelecimentos comerciais ficam proibidos de vender sprays a menores de idade e devem coletar identidade dos compradores.
No Jardim Gaivotas, o grafiteiro Mauro Neri chamou atenção para os muros pintados na região sem autorização por candidatos durante campanhas políticas, da repressão que inibe o desenvolvimento de novos artistas e da necessidade de se discutir prioridades reais para a cidade.
Confira o vídeo:
Em nota, o Imargem destacou que há diversas demandas de extrema importância a serem discutidas na Câmara, e não a criminalização da juventude e da arte em São Paulo.
“O que se quer apagar tem cor, classe social e endereço. Uma cultura de rua que vem das margens, mas que não se limita a elas, circula por toda a cidade, transpondo barreiras físicas e simbólicas. Guerrear é não querer o diálogo, diálogo que nem sequer tentou-se estabelecer. Pintar uma cidade inteira de uma só cor é tirar da visibilidade das superfícies a diversidade que faz da nossa cidade o que somos”, diz o comunicado.
Thiago Borges