Todo cuidado é pouco: Quem trabalha ao ar livre sente impacto da exposição ao tempo e à poluição

Todo cuidado é pouco: Quem trabalha ao ar livre sente impacto da exposição ao tempo e à poluição

Na última reportagem da série Trampo é Trampo em 2025, você conhece Ivani e Catarino, que trabalham em pontos fixos nas periferias de São Paulo e enfrentam desafios que afetam saúde e renda

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Tempo de leitura: 7 minutos

O padrão climático da cidade de São Paulo já não é o mesmo há muito tempo. Relatórios da Prefeitura da cidade mostram que a temperatura média anual subiu cerca de 1,6 °C nas últimas décadas. 

O clima já não respeita as estações. O calor é extremo, o ar seco, o frio chega de forma brusca e a chuva, quando vem, é cada vez mais forte ou irregular. As mudanças climáticas deixaram de ser uma ameaça e se tornaram realidade, impactando quem realiza seus ofício ao ar livre. 

Para profissionais como Ivani da Silva e Catarino de Oliveira, que atuam em pontos fixos do Grajaú (Extremo Sul de São Paulo), é preciso ultrapassar os efeitos dessa crise para garantir o próprio sustento.

Confira a última reportagem da série Trampo é Trampo da Periferia em Movimento em 2025.

Sol, chuva e remédio

A animadora de loja Ivani da Silva tem 43 anos e é moradora da Vila São José (Extremo  Sul de São Paulo). Natural  de Imperatriz (MA), está na cidade desde 2015. Há cinco anos, ela trabalha com captação de clientes em uma ótica no Grajaú. 

Trajada de Chiquinha, personagem do seriado mexicano Chaves, ela fica na calçada de segunda à sexta, das 9h às 18h. Tempo suficiente para perceber as alterações do clima.

“O frio mudou, o calor mudou e quem trabalha na rua sofre bastante. Por isso que tem que se prevenir”, diz Ivani.

Por isso, ela tenta criar estratégias para driblar os diversos efeitos dessa exposição.

“Eu tenho bastante roupa de Chiquinha aqui na loja, porque eu posso descer para levar o cliente [para fazer o exame de vista] e estar caindo uma garoa bem fraquinha. E às vezes, quando volto, a chuva já engrossou e eu fico toda encharcada”. 

Tontura, dores pelo corpo, ressecamento de garganta, vias nasais e olhos são alguns sintomas que a profissional relata sentir trabalhando ao ar livre.

“Ano passado, teve um tempo aí que o sol tava tão quente que eu passei mal, tava com uma tontura, a vista escureceu… Falei: ‘Meu Deus do céu, parece que eu vou morrer!’”, diz ela, que sente que está na terra natal por conta do calor. 

“O que mais inflama é minha garganta, e eu acho que é por causa da seca, do calor, sabe?”

Com receio de perder o emprego, a trabalhadora tem sempre um remedinho e se automedica na esperança de não pegar um resfriado ou algo pior.

As alterações ambientais extremas podem aumentar os riscos de doenças, enquanto as pessoas trabalham ou em decorrência do ofício. É o que afirma Cirlene Luiza Zimmermann, coordenadora nacional da Coordenadoria da Defesa do Meio Ambiente do Trabalho e da Saúde do Trabalhador e Trabalhadora (Codemat) do Ministério Público do Trabalho, no artigo “Mudanças climáticas: desafio para a saúde e a segurança no trabalho” para o site ConJur.

Clique nas imagens para ampliar

Entre o asfalto e a poluição

O baiano Catarino José de Oliveira, de 68 anos, é de Palmeiras de Lençóis (BA), mas vive em São Paulo há 28.  Atualmente, ele reside no Marsilac (Extremo Sul), de onde sai de segunda a sábado rumo ao Grajaú.

Apesar de aposentado, há dois anos ele trabalha como panfleteiro, das 9h às 17h, em uma ótica e ainda complementa a renda com serviços de segurança.

Catarino também fica na calçada.

“Trabalho na avenida, então recebo muito pó, fumaça e me prejudica”.

Para ele, o clima tem estado muito instável e um dos principais problemas que enfrenta é a exposição ao sol e a poluição, que afetam a saúde diretamente.

“Estou com  começo de glaucoma, não posso tomar muito sol, nem muita poeira, porque senão fico cego de uma vez”, diz Catarino. 

Para diminuir os impactos, durante o trabalho está sempre de óculos para não embaçar a visão.

Pessoas que trabalham ao ar livre são as primeiras a serem expostas aos efeitos das alterações climáticas de maneira mais intensa e por períodos maiores, segundo estudo  da Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicado em 2024. 

A pesquisa aponta que a poluição do ar, é a responsável pela morte de mais de 860 mil trabalhadorus anualmente. 

O medo de ficar doente também passa pela cabeça de Catarino. 

“Eu sempre me agasalho por causa do tempo, porque de repente ele muda e eu não quero parar no hospital.”

Em dias de chuva, o panfleteiro – que recebe por dia trabalhado – fica no prejuízo porque a empregadora o dispensa.

“A moça manda ir para casa, para eu não molhar o folheto e nem eu pegar uma gripe forte.”, conta ele. 

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O padrão climático da cidade de São Paulo já não é o mesmo há muito tempo. Relatórios da Prefeitura da cidade mostram que a temperatura média anual subiu cerca de 1,6 °C nas últimas décadas. 

O clima já não respeita as estações. O calor é extremo, o ar seco, o frio chega de forma brusca e a chuva, quando vem, é cada vez mais forte ou irregular. As mudanças climáticas deixaram de ser uma ameaça e se tornaram realidade, impactando quem realiza seus ofício ao ar livre. 

Para profissionais como Ivani da Silva e Catarino de Oliveira, que atuam em pontos fixos do Grajaú (Extremo Sul de São Paulo), é preciso ultrapassar os efeitos dessa crise para garantir o próprio sustento.

Confira a última reportagem da série Trampo é Trampo da Periferia em Movimento em 2025.

Sol, chuva e remédio

A animadora de loja Ivani da Silva tem 43 anos e é moradora da Vila São José (Extremo  Sul de São Paulo). Natural  de Imperatriz (MA), está na cidade desde 2015. Há cinco anos, ela trabalha com captação de clientes em uma ótica no Grajaú. 

Trajada de Chiquinha, personagem do seriado mexicano Chaves, ela fica na calçada de segunda à sexta, das 9h às 18h. Tempo suficiente para perceber as alterações do clima.

“O frio mudou, o calor mudou e quem trabalha na rua sofre bastante. Por isso que tem que se prevenir”, diz Ivani.

Por isso, ela tenta criar estratégias para driblar os diversos efeitos dessa exposição.

“Eu tenho bastante roupa de Chiquinha aqui na loja, porque eu posso descer para levar o cliente [para fazer o exame de vista] e estar caindo uma garoa bem fraquinha. E às vezes, quando volto, a chuva já engrossou e eu fico toda encharcada”. 

Tontura, dores pelo corpo, ressecamento de garganta, vias nasais e olhos são alguns sintomas que a profissional relata sentir trabalhando ao ar livre.

“Ano passado, teve um tempo aí que o sol tava tão quente que eu passei mal, tava com uma tontura, a vista escureceu… Falei: ‘Meu Deus do céu, parece que eu vou morrer!’”, diz ela, que sente que está na terra natal por conta do calor. 

“O que mais inflama é minha garganta, e eu acho que é por causa da seca, do calor, sabe?”

Com receio de perder o emprego, a trabalhadora tem sempre um remedinho e se automedica na esperança de não pegar um resfriado ou algo pior.

As alterações ambientais extremas podem aumentar os riscos de doenças, enquanto as pessoas trabalham ou em decorrência do ofício. É o que afirma Cirlene Luiza Zimmermann, coordenadora nacional da Coordenadoria da Defesa do Meio Ambiente do Trabalho e da Saúde do Trabalhador e Trabalhadora (Codemat) do Ministério Público do Trabalho, no artigo “Mudanças climáticas: desafio para a saúde e a segurança no trabalho” para o site ConJur.

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Entre o asfalto e a poluição

O baiano Catarino José de Oliveira, de 68 anos, é de Palmeiras de Lençóis (BA), mas vive em São Paulo há 28.  Atualmente, ele reside no Marsilac (Extremo Sul), de onde sai de segunda a sábado rumo ao Grajaú.

Apesar de aposentado, há dois anos ele trabalha como panfleteiro, das 9h às 17h, em uma ótica e ainda complementa a renda com serviços de segurança.

Catarino também fica na calçada.

“Trabalho na avenida, então recebo muito pó, fumaça e me prejudica”.

Para ele, o clima tem estado muito instável e um dos principais problemas que enfrenta é a exposição ao sol e a poluição, que afetam a saúde diretamente.

“Estou com  começo de glaucoma, não posso tomar muito sol, nem muita poeira, porque senão fico cego de uma vez”, diz Catarino. 

Para diminuir os impactos, durante o trabalho está sempre de óculos para não embaçar a visão.

Pessoas que trabalham ao ar livre são as primeiras a serem expostas aos efeitos das alterações climáticas de maneira mais intensa e por períodos maiores, segundo estudo  da Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicado em 2024. 

A pesquisa aponta que a poluição do ar, é a responsável pela morte de mais de 860 mil trabalhadorus anualmente. 

O medo de ficar doente também passa pela cabeça de Catarino. 

“Eu sempre me agasalho por causa do tempo, porque de repente ele muda e eu não quero parar no hospital.”

Em dias de chuva, o panfleteiro – que recebe por dia trabalhado – fica no prejuízo porque a empregadora o dispensa.

“A moça manda ir para casa, para eu não molhar o folheto e nem eu pegar uma gripe forte.”, conta ele. 

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