Liberdade e autonomia em primeiro lugar: O tempo presenteia com o conhecimento do corpo

Liberdade e autonomia em primeiro lugar: O tempo presenteia com o conhecimento do corpo

Depois de dois casamentos e alguns filhos criados sozinhos por ela, Maurina Alves honra sua solitude acima de tudo. Embora tenha o desejo de se relacionar com outros homens, ela não abre mão da independência que criou ao longo dos anos. Este é o segundo de uma série de perfis de mulheres negras e a vivência da sexualidade na maturidade

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Por Vitori Jumapili. Edição: Thiago Borges. Fotos: Pedro Salvador

Maurina Alves é uma mulher negra, dona de casa, de 53 anos, que construiu uma relação com sua sexualidade e com o seu corpo que se integra com o estilo de vida que leva e com suas convicções. 

Às vezes, ela pode sentir falta de se relacionar sexualmente com alguém, contudo conta que suas experiências afetivas a levaram escolher muito bem com quem ela quer ter qualquer tipo de conexão. 

A Periferia em Movimento traz a série “Mulheres Negras e Sexualidade” para compartilhar diferentes percepções sobre o tema a partir de mulheres periféricas mais velhas. 

O assunto ainda é tabu para muita gente e a maturidade é cercada por estereótipos que dificultam que conheçamos olhares distintos sobre o tema.

Confira trechos da entrevista para conhecer a versão de Maurina Alves sobre sexualidade

“Meu nome é Maurina, eu tenho 53 anos, sou divorciada há 10 anos. Sou mãe de quatro filhos. Sou hétero, atualmente esou solteira. Tentei alguns relacionamentos depois que eu me divorciei, mas eu acho que fiquei meio temerosa, sabe?”

“Às vezes, eu falo que aprendi algumas coisas na escola. Tem gente da minha idade que fica: ‘Não acredito que na sua escola falava sobre isso!’ Eu aprendi sobre menstruação na escola, aprendi sobre sexo na escola e eu tenho 53 anos. Com 11 anos, se falava de sexo na escola.” 

“Não tinha camisinha, não tinha anticoncepcional, mas falava-se de sexo, falava-se de como um homem pode te tocar e como não pode. Tem que ser dito.”

“Não tive relações sexuais até os meus 14 anos… Eu fui estuprada… E foi algo que me machucou muito, sabe? Eu fiquei, depois disso, bastante tempo com medo dos homens, até porque foi uma quebra de confiança, foram pessoas que eu conhecia, que eu confiava… E eu fiquei com muito medo de falar isso por muitos e muitos anos…”

“Demorou muito tempo para eu me soltar. Até hoje eu tenho algumas coisas que eu não faço porque relembro… Perdi muito namorado por causa disso, porque eu era assim: a bonitinha assanhadinha que na hora H era aquela que saía de retranca”.

“Eu cheguei a namorar seis caras de uma vez e nenhum chegava ‘nos finais’ porque quando ia muito perto eu saía fora”.

“Quando se fala em relacionamento, eu sempre falo de relacionamento sério. Eu não sou mulher de ficar. Pode ser que aconteça, mas não com a intenção de só sair para ficar. Lá atrás eu ficava, não ligava para isso, mas hoje eu ligo muito.”

“Eu criei meus filhos dizendo assim: ‘Seu nome é tudo, sua pessoa é tudo’, e foi o que eu levei para mim: meu nome é tudo. Então eu tenho mó receio, porque eu conheço muita gente… Eu tenho amigas que não ligam, se conheceu o João ali, fica com o João. Conheceu o Antônio, fica com o Antônio. E eu não. Eu tenho muito receio do que vai virar o meu nome”

“Hoje eu entendi que eu não preciso de ninguém, não, para estar do meu lado ali. Não, não, não, não. Falta de sexo, eu sinto, mas é aquilo que eu falei: eu tenho receio do meu nome.”

“Eu me conheci sexualmente em casal, com os meus maridos, mas me conhecer melhor foi depois que eu fiquei sozinha. Eu sei até onde eu vou, e às vezes é mais rápido do que você estar com alguém ali deitado, não é? Sei lá. Então eu acho que estou me habituando e talvez isso me acomode.”

“Antes, o amor entrava e eu achava que era tudo,  até eu me conhecer como mulher. Cara, demorou e eu entendi que não era isso. Eu não quero nada rapidinho, não quero nada mal feito porque ele fez, então ele tá feliz e eu tô lascada… Não quero e hoje eu exijo estar satisfeita, senão não vira.”

“E eu sempre falo que cartas marcadas não é comigo. Se eu for conhecer um homem e ele fala: ‘Ah, mas eu gosto de fazer assim, assim, assado’ Eu falo: ‘Cara, vai devagar. Primeiro vamo tá lá, depois a gente vê como acontece. É que cê tá vendo muito filme pornô, aí já vem com o histórico feito, né?!’”

“Pode acontecer de ficar, se der o clima, mas sabendo que eu não vou ficar, ficar, ficar… Eu procuro relacionamento sério – e não é para morar na minha casa, porque é o que o homem entende, né? Que relacionamento sério é para casar. Casar, não. Casar é outra história e eu não caso mais não.” 

“Eu não tenho amiga para falar dessas coisas, não. Eu não tenho facilidade em conversar sobre isso, sem ser com quem eu esteja me relacionando, não acho necessário. Eu não tenho gente com quem eu me abra, mas eu tenho muita amiga para me levantar.“

“Minha nora colocou para mim o Tinder. E aí eu não gostei daquilo. Achei pior do que, por exemplo, cê tá no Instagram e fazer amizade com alguém que se começa com ‘oi’ conversando sobre alguma coisa (…) E aquele negócio, já é carta marcada, então eu não confio, entrei uma vez só e falei: Jesus Cristo!”.

Eu amo política, então às vezes eu faço amizade com alguém e aí vai comentando sobre política… E entrou como nada e vai acontecendo um relacionamentozinho”. 

“Desde o meu primeiro filho eu cuido muito da minha saúde mesmo sendo fumante. Todo ano faço o papanicolau, toda vez que eu faço exame de sangue eu peço o de HIV, e aí se der problema fico quase louca, eu vou lá até resolver. Porque eu quero saber, eu quero ficar livre, nesse sentido eu me cuido muito.”

“Eu fazia caminhada e faz dois anos que eu faço academia. Comecei com natação e é um parâmetro que estabeleci com meu filho, não vou sair da academia”.

“Hoje eu me valorizo mais, eu continuo linda, só que madura. Acho que por isso que eu tô sozinha, porque eu me valorizo demais. Ninguém me põe para baixo, não. Eu não permito.”

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Por Vitori Jumapili. Edição: Thiago Borges. Fotos: Pedro Salvador

Maurina Alves é uma mulher negra, dona de casa, de 53 anos, que construiu uma relação com sua sexualidade e com o seu corpo que se integra com o estilo de vida que leva e com suas convicções. 

Às vezes, ela pode sentir falta de se relacionar sexualmente com alguém, contudo conta que suas experiências afetivas a levaram escolher muito bem com quem ela quer ter qualquer tipo de conexão. 

A Periferia em Movimento traz a série “Mulheres Negras e Sexualidade” para compartilhar diferentes percepções sobre o tema a partir de mulheres periféricas mais velhas. 

O assunto ainda é tabu para muita gente e a maturidade é cercada por estereótipos que dificultam que conheçamos olhares distintos sobre o tema.

Confira trechos da entrevista para conhecer a versão de Maurina Alves sobre sexualidade

“Meu nome é Maurina, eu tenho 53 anos, sou divorciada há 10 anos. Sou mãe de quatro filhos. Sou hétero, atualmente esou solteira. Tentei alguns relacionamentos depois que eu me divorciei, mas eu acho que fiquei meio temerosa, sabe?”

“Às vezes, eu falo que aprendi algumas coisas na escola. Tem gente da minha idade que fica: ‘Não acredito que na sua escola falava sobre isso!’ Eu aprendi sobre menstruação na escola, aprendi sobre sexo na escola e eu tenho 53 anos. Com 11 anos, se falava de sexo na escola.” 

“Não tinha camisinha, não tinha anticoncepcional, mas falava-se de sexo, falava-se de como um homem pode te tocar e como não pode. Tem que ser dito.”

“Não tive relações sexuais até os meus 14 anos… Eu fui estuprada… E foi algo que me machucou muito, sabe? Eu fiquei, depois disso, bastante tempo com medo dos homens, até porque foi uma quebra de confiança, foram pessoas que eu conhecia, que eu confiava… E eu fiquei com muito medo de falar isso por muitos e muitos anos…”

“Demorou muito tempo para eu me soltar. Até hoje eu tenho algumas coisas que eu não faço porque relembro… Perdi muito namorado por causa disso, porque eu era assim: a bonitinha assanhadinha que na hora H era aquela que saía de retranca”.

“Eu cheguei a namorar seis caras de uma vez e nenhum chegava ‘nos finais’ porque quando ia muito perto eu saía fora”.

“Quando se fala em relacionamento, eu sempre falo de relacionamento sério. Eu não sou mulher de ficar. Pode ser que aconteça, mas não com a intenção de só sair para ficar. Lá atrás eu ficava, não ligava para isso, mas hoje eu ligo muito.”

“Eu criei meus filhos dizendo assim: ‘Seu nome é tudo, sua pessoa é tudo’, e foi o que eu levei para mim: meu nome é tudo. Então eu tenho mó receio, porque eu conheço muita gente… Eu tenho amigas que não ligam, se conheceu o João ali, fica com o João. Conheceu o Antônio, fica com o Antônio. E eu não. Eu tenho muito receio do que vai virar o meu nome”

“Hoje eu entendi que eu não preciso de ninguém, não, para estar do meu lado ali. Não, não, não, não. Falta de sexo, eu sinto, mas é aquilo que eu falei: eu tenho receio do meu nome.”

“Eu me conheci sexualmente em casal, com os meus maridos, mas me conhecer melhor foi depois que eu fiquei sozinha. Eu sei até onde eu vou, e às vezes é mais rápido do que você estar com alguém ali deitado, não é? Sei lá. Então eu acho que estou me habituando e talvez isso me acomode.”

“Antes, o amor entrava e eu achava que era tudo,  até eu me conhecer como mulher. Cara, demorou e eu entendi que não era isso. Eu não quero nada rapidinho, não quero nada mal feito porque ele fez, então ele tá feliz e eu tô lascada… Não quero e hoje eu exijo estar satisfeita, senão não vira.”

“E eu sempre falo que cartas marcadas não é comigo. Se eu for conhecer um homem e ele fala: ‘Ah, mas eu gosto de fazer assim, assim, assado’ Eu falo: ‘Cara, vai devagar. Primeiro vamo tá lá, depois a gente vê como acontece. É que cê tá vendo muito filme pornô, aí já vem com o histórico feito, né?!’”

“Pode acontecer de ficar, se der o clima, mas sabendo que eu não vou ficar, ficar, ficar… Eu procuro relacionamento sério – e não é para morar na minha casa, porque é o que o homem entende, né? Que relacionamento sério é para casar. Casar, não. Casar é outra história e eu não caso mais não.” 

“Eu não tenho amiga para falar dessas coisas, não. Eu não tenho facilidade em conversar sobre isso, sem ser com quem eu esteja me relacionando, não acho necessário. Eu não tenho gente com quem eu me abra, mas eu tenho muita amiga para me levantar.“

“Minha nora colocou para mim o Tinder. E aí eu não gostei daquilo. Achei pior do que, por exemplo, cê tá no Instagram e fazer amizade com alguém que se começa com ‘oi’ conversando sobre alguma coisa (…) E aquele negócio, já é carta marcada, então eu não confio, entrei uma vez só e falei: Jesus Cristo!”.

Eu amo política, então às vezes eu faço amizade com alguém e aí vai comentando sobre política… E entrou como nada e vai acontecendo um relacionamentozinho”. 

“Desde o meu primeiro filho eu cuido muito da minha saúde mesmo sendo fumante. Todo ano faço o papanicolau, toda vez que eu faço exame de sangue eu peço o de HIV, e aí se der problema fico quase louca, eu vou lá até resolver. Porque eu quero saber, eu quero ficar livre, nesse sentido eu me cuido muito.”

“Eu fazia caminhada e faz dois anos que eu faço academia. Comecei com natação e é um parâmetro que estabeleci com meu filho, não vou sair da academia”.

“Hoje eu me valorizo mais, eu continuo linda, só que madura. Acho que por isso que eu tô sozinha, porque eu me valorizo demais. Ninguém me põe para baixo, não. Eu não permito.”

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