Como outros 20 milhões de brasileiros, Cássia Aparecida Monteiro também tentou se cadastrar no sistema do governo federal para solicitar o auxílio emergencial de R$ 600 no período de distanciamento social. “Vai me ajudar a comprar mantimentos pra casa, pagar a conta de água que tá atrasada”, diz ela, que mora com o filho João Gabriel no Colônia Paulista, bairro localizado no distrito de Parelheiros (Extremo Sul de São Paulo).
O governo lançou o site e o aplicativo nesta terça-feira (07/04), gerando uma corrida entre quem depende do dinheiro pra enfrentar a pandemia de coronavírus. Mas um fator surpreendeu Cássia e outros moradores de bairros afastados das periferias: a necessidade de ter um número de celular para receber uma mensagem de texto com um código para confirmar a realização do cadastro.
O problema é que, a mais de 40 quilômetros do centro da cidade de São Paulo, milhares de pessoas estão fora da área de cobertura das empresas de telefonia móvel. “Pra receber o código, eu teria que subir em cima da laje pra tentar pegar sinal, porque a Vivo não pega aqui na minha casa. Nenhuma operadora pega. Tem que subir na laje, ir até o ponto de ônibus, não funciona direito”, conta Cássia.
Em 2019, uma reportagem do Desenrola e Não Me Enrola apontou que o extremo da zona Sul de São Paulo é “um ponto cego” na cobertura do sinal. A matéria mostra ainda que, de acordo com dados do mapeamento da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), existem mais 6.800 antenas de celular na cidade de São Paulo – a maior parte está concentrada nos bairros da região central.
Para sorte de Cássia, uma sobrinha que mora na zona Oeste da cidade fez o cadastro pra ela. Mas nem todo mundo tem esse recurso. “Tem gente indo até o centro de Parelheiros pra usar o celular”, diz ela, referindo-se ao ponto mais urbanizado do distrito, a 06 quilômetros do Colônia Paulista.
Já o barbeiro Sidnei Silva Chagas tentou várias vezes obter o sinal, mas “nem um pauzinho” preencheu. Além da internet fixa lenta, o que faz o sistema ficar mais demorado, no bairro do Barragem ele também não consegue receber o SMS por falta de cobertura.
Sidnei mora com a esposa e 02 crianças e é microempreendedor individual (MEI). A esposa é cadastrada no Bolsa Família e vai receber o auxílio. “O auxílio e muito importante pra alimentação e outras coisas”, diz ele, que está sem trabalhar desde que o governo estadual determinou o fechamento dos comércios.
No site do governo federal, o Ministério da Cidadania explica que pessoas que não tenham celular ou acesso à internet podem fazer o cadastro presencialmente em alguma casa lotérica ou agência bancária da Caixa. Porém, não é uma medida tão simples.
Sidnei vai aguardar para ver se consegue receber o código por mensagem de texto. Caso contrário, precisará se locomover até a lotérica mais próxima, distante a 10 quilômetros de sua casa, ou na agência da Caixa, a 20 quilômetros.
Além do trajeto de meia hora de ônibus, tem o percurso a pé. Sua irmã Sidineia Chagas, que também mora no Barragem, teria que andar 15 minutos até chegar ao ônibus. Como a Periferia em Movimento já relatou, o transporte público é insuficiente e há pessoas que caminham 1h para pegar o coletivo.
“Desde que começou o período da quarentena, eu não saí de casa. Eu acabo violando o distanciamento, mas pra pegar ônibus eu também preciso pagar a condução – e nem isso a gente consegue garantir às vezes”, explica Sidineia, que é educadora social. “Existe ciclo de dificuldades em que a gente já está inserido”.
Na porta de lotérias e agências da Caixa, as filas se estendem pelas calçadas, contrariando a própria recomendação do Ministério da Saúde de evitar aglomeração para prevenir o contágio de coronavírus.
Sidineia, que coordena o projeto de biblioteca comunitária no Colônia, agora trabalha em casa com apoio da organização. Mas com o distanciamento ela deixou de fazer trabalhos que complementavam a renda. Por isso, recorreu à irmã que vive em Interlagos para finalizar o cadastro e receber o auxílio emergencial. “Não é dinheiro do governo. É um dinheiro nosso, dos nossos impostos”, completa.
Redação PEM
7 Comentários
Moramos em um lugar esquecido pela sociedade Sidnéia um exemplo no nosso bairro corre atrás sempre si gratidão
[…] Periferia em Movimento – Como outros 20 milhões de brasileiros, Cássia Aparecida Monteiro também tentou se cadastrar no sistema do governo federal para solicitar o auxílio emergencial de R$ 600 no período de distanciamento social. “Vai me ajudar a comprar mantimentos pra casa, pagar a conta de água que tá atrasada”, diz ela, que mora com o filho João Gabriel no Colônia Paulista, bairro localizado no distrito de Parelheiros, no extremo sul de São Paulo. […]
[…] não atendem a nossa emergência. A fome não pode esperar análise ou regularização de CPF. Não rola sinal de celular nem baixar aplicativo Pic Pay onde mora quem mais precisa receber os R$ 55 da merenda escolar. […]
[…] Periferia em Movimento – Como outros 20 milhões de brasileiros, Cássia Aparecida Monteiro também tentou se cadastrar no sistema do governo federal para solicitar o auxílio emergencial de R$ 600 no período de distanciamento social. “Vai me ajudar a comprar mantimentos pra casa, pagar a conta de água que tá atrasada”, diz ela, que mora com o filho João Gabriel no Colônia Paulista, bairro localizado no distrito de Parelheiros, no extremo sul de São Paulo. […]
[…] Gabriel no bairro do Colônia Paulista (Parelheiros, Extremo Sul de São Paulo). Há 02 semanas, a Periferia em Movimento contou a história dela, que teve dificuldades para solicitar o auxílio num bairro em que não pega celular. Agora, a […]
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