Por Pedro Ariel Salvador
Chácara Santana, zona Sul de São Paulo.
A ladeira, o samba, a pipoca do outro lado da rua, os zines, o famoso escondidinho, a biblioteca, o povo lindo e inteligente. Aos poucos as pessoas chegam e o bar do Zé Batidão fica pequeno diante o aglomerado de gente que se prepara para Sarau da Cooperifa.
Além do encontro de poetas que acontece toda terça-feira tradicionalmente no mesmo lugar, quem veio nesta terça-feira (8/11) têm um motivo especial pra estar aqui: comemorar os 21 anos de atividade da Cooperifa, a Cooperativa Cultural da Periferia, co-fundada pelo poeta e agitador Sérgio Vaz. O evento desta noite faz parte da 13ª edição da Mostra da Cooperifa, que segue até domingo (13/11) com diversas atrações na zona Sul paulistana. Confira a programação aqui.
Artistas começam o revezamento no microfone, com poesias e músicas sobre assuntos que rodeiam quem vive nas periferias. Em meio aos versos, muitas demonstrações de afeto feitas por e para a organização do evento. Muita gente que nunca havia lido um livro ou poema, visto alguma peça no teatro, começou a se interessar na arte e na cultura aqui.
Dona Edite, uma das matriarcas e musa do sarau, se levanta e lê com esperança, orgulho e alegria um dos textos do livro Literatura, Pão e Poesia, escrito por Vaz. “Sarau é quilombo cultural. Grito do povo que se recusa a andar de cabeça baixa […] Neste instante, neste país cheio de Machados se achando serra elétrica, nós somos a poesia. Essa árvore de raízes profundas regada com a água que o povo lava o rosto depois do trabalho”, declama ela.
Após uma noite cheia de arte, chega a hora do encerramento. Sérgio Vaz traz uma fala emocionante que homenageia personalidades que são referências, como Carolina Maria de Jesus, Carlos de Assumpção e Lélia Gonzalez.
“Muito obrigado por nos ensinarem a lutar. Nós somos fruto. E aos mais jovens que estão aqui, quando vocês falam “Temos que respeitar nossos ancestrais”, nós somos os seus ancestrais. E estamos vivos, viu?! […] Nunca esqueçam, somos a periferia, crescemos aqui. Nós podemos. Precisamos de cultura para cuspir na estrutura”
Ao fundo, o público presente ecoa “Uh! Coperifa!”. O samba volta. Abraços acontecem. Descemos a ladeira de volta para casa. Um encontro democrático.
Pedro Salvador