Na noite desta terça-feira (21/1), morreu Rose Dorea. A agitadora cultural, poeta, cantora e integrante da Cooperifa morreu aos 51 anos de idade. Ela completaria 52 anos no sábado, dia 25, e deixa o filho Joshua, de 15 anos. Ainda não há informações sobre velório e sepultamento.
Segundo o jornal O Taboanense, Rose estava internada no Hospital do Campo Limpo (zona Sul de São Paulo). Há cerca de duas semanas, ela sofreu um AVC. Na internação, foi detectado um tumor no cérebro e ela teria sido submetida a uma cirurgia.
Moradora de Taboão da Serra (região metropolitana da capital paulista), nas últimas décadas Rose desempenhou um papel fundamental na cultura periférica, especialmente na zona Sul.
Tornou-se especialmente reconhecida por ser uma das integrantes e organizadoras do Sarau da Cooperifa, que ocorreu entre 2001 e 2024. Com a voz marcante, anunciava poetas da noite e pedia: “o silêncio é uma prece”.
Em 2013, durante a Mostra da Cooperifa, a Periferia em Movimento entrevistou Rose. Na ocasião, ela falou da importância do movimento literário periférico em sua própria vida.
“Voltei a estudar por conta da Cooperifa, me tornei uma pessoa mais flexível e, em um país cujo padrão de beleza é a mulher magra e branca, me tornei a ‘Musa da Cooperifa’ sendo negra e gorda. Então, tudo muda por completa (risos)”, ressaltou.
Para além da própria vida, Rose ela notava um número maior de pessoas leitoras e um novo olhar sobre as periferias. “As coisas mudam quando as pessoas acreditam. E a gente acredita de verdade no projeto”, diz.
O perfil da Cooperifa no instagram publicou a notícia entre terça e quarta-feira.
Repercussão
Muitas pessoas da cena cultural e literária das periferias se manifestaram a respeito. O poeta Sérgio Vaz, cofundador da Cooperifa, declarou que “a notícia é tão devastadora que não há palavras para descrever o que estamos sentindo. É só dor e lágrimas”.
“Que sua passagem seja de luz. Vai fazer muita falta. A gente aqui fica de coração rasgado”, publicou o rapper e poeta Cocão, também integrante da Cooperifa.
“Rose se encantou. Sigo não acreditando e tenho vontade de voltar pra cama e para o sonho que tive: uma mulher desbravava o mar com um boto. Na minha cabeça ficaram marcados os olhos grandes – da mulher e do boto, com as cabeças recostadas uma à outra, como se fizessem carinho (…) Quiçá, era você amiga, para um último abraço, simbólico, afetuoso, como todos os outros que trocamos”, publicou a cantora Fabiana Cozza, que contou com o apoio de Rose na execução de uma recente turnê.
“A Rose sempre foi uma inspiração de luta. Seu protagonismo na cultura periférica faz parte da nossa história”, comentou a socióloga Anabela Vaz, agente cultural e moradora do Jardim São Luís.
“Toda vez em que a gente se encontrava era um abraço tão amoroso. Tenho certeza de que Rose se foi sabendo da minha admiração, respeito, amor por ela. (…) Sentiremos falta do seu sorriso, profissionalismo. De seu protetor cuidado com o legado da Cooperifa”, publicou o escritor Marcelino Freire.
Protagonismo
Em 2023, Rose falou de sua trajetória ao portal Desenrola e Não Me Enrola. “Eu sempre tive um lado de liderança, tanto que eu fui chefe de formatura do colegial. Sempre tive esse lado do querer fazer, querer ajudar as pessoas”, disse.
No mesmo ano, em entrevista ao podcast Manda Notícias, destacou o protagonismo feminino na literatura periférica. “Hoje, a maioria das mulheres inscritas no sarau é de mulheres (…) A gente tinha essa dificuldade de trazer as mulheres pro sarau, até por ser dentro de um bar”.
Em 2021, em entrevista para a série “Poesia Delas” do Nós, Mulheres da Periferia, ela também falou da crescente de mulheres no movimento, que surge no início dos anos 2000 e forma uma geração leitora e escritora. “Só a elite podia, só a elite tinha os caras que escreviam bem. Eu acho que a Cooperifa abriu isso de uma forma, cada um do seu jeito, com outros saraus”.
Foto em destaque: Pedro Salvador
Thiago Borges, Pedro Salvador