Com informações da assessoria de comunicação. Foto em destaque: Pedro Salvador
Nas últimas 3 décadas, ocorreu uma transformação significativa na composição racial da sociedade brasileira: aumentou o número de pessoas não brancas, que se autoclassificam como pretas, pardas, indígenas ou amarelas. A população autodeclarada branca diminuiu de 54% em 1992 para 43% em 2021, enquanto as autodeclaradas preta e parda saltaram, respectivamente, de 5,4% para 9,1% e 40,1% para 47% no período.
É o que aponta a terceira edição do Relatório das Desigualdades Raciais no Brasil (clique para acessar), elaborado e publicado no final de dezembro do ano passado pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA), com sede na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
O relatório pontua que o aumento da população preta, parda e indígena (PPI) se dá por um processo de reclassificação racial, o que significa que pessoas de uma mesma geração deixaram de se declarar brancas ou amarelas. Isso demonstra que o expressivo aumento da população preta, parda e indígena ao longo dos anos ocorreu por uma mudança na autoclassificação e não somente por índices diferenciais de natalidade e mortalidade.
As regiões sul e sudeste são as que mais concentram pessoas brancas e amarelas, enquanto o norte e nordeste possuem maior concentração de pretas, pardas e indígenas.
Desigualdade
O relatório analisa também as desigualdades raciais relativas à educação formal, trabalho e renda.
Entre 1987 e 2021, houve uma atenuação das desigualdades raciais relativas à educação formal, ainda que todos os grupos raciais tenham elevado seus níveis de escolaridade. No período, a proporção de pessoas pretas, pardas e indígenas entre 18 e 65 anos com ensino superior completo saiu de menos de 20% para 30%.
Apesar disso, pessoas brancas e amarelas ainda possuem vantagens relativas ao tempo de estudo e, por consequência, maiores níveis educacionais: ainda são a maioria da população com ensino superior completo e incompleto, enquanto a população PPI leva vantagem nos níveis fundamental e médio.
Os dados mostram que em 2021 a média de anos de estudos era de 10,6 anos entre a população branca e amarela; e de 9 anos para pessoas pretas, pardas e indígenas.
Já nos quesitos trabalho e renda, nota-se uma grande diferença nas taxas de desocupação de pessoas pretas, pardas e indígenas comparadas às de brancas e amarelas, que também levam acentuada vantagem no quesito concentração de renda.
A diferença na taxa de desemprego variou em torno de 2 pontos percentuais entre 2000 e 2015, porém a partir de 2016 ela sobe para cerca de 4 pontos. A juventude preta, parda e indígena entre 14 e 17 anos compõe a faixa etária mais atingida pelo desemprego, comparada a pessoas brancas e amarelas da mesma idade.
Os dados sobre renda mostram que, entre 1987 e 2002, pessoas brancas e amarelas e chegam a receber o dobro da renda de pretas, pardas e indígenas. Os grupos raciais que compõem as faixas mais baixas de renda também são os chamados PPI.
O relatório indica que as desigualdades que afetam a sociedade brasileira são resilientes e complexas. A transformação desse cenário se concretizará com a produção de políticas redistributivas interseccionais e desenhadas para atender às especificidades da composição racial brasileira, nas áreas da educação, acesso ao trabalho e redistribuição de renda.
Redação PEM