por Julia Santiago e Rebeca Motta, do jornal Embarque no Direito. Fotos: Leandro Paiva
No último sábado (04/12), aconteceu o lançamento do livro “Reflexões Periféricas – Propostas em movimento para a reinvenção das quebradas”, no centro cultural Casa dos Meninos, localizado no Jardim São Luís (zona Sul de São Paulo). O evento reuniu algumas personalidades já conhecidas dos movimentos sociais.
O professor e educador popular Tiaraju D’andrea foi o anfitrião da tarde e puxou a mesa de debate junto a Jussara Basso, do MTST; Silvia Lopes, professora de geografia da Unifesp; e Guilherme Boulos, integrante do PSOL. Na plateia, estiveram presentes integrantes de alguns movimentos culturais da região, pessoas que moram no entorno e também na ocupação Vila Nova Palestina.
“Esse período (de pandemia) evidenciou as mazelas já existentes nos territórios marginalizados, mas também projetou as potências, como é o caso desse livro que fala sobre construção com as periferias sem precisar acessar nenhum conhecimento de fora. Na quebrada, conseguimos garantir políticas públicas mesmo na ausência do poder público, por meio da união dos nossos pequenos saberes”, aponta Jussara, que atua há 8 anos na luta por moradia na Vila Nova Palestina (região do M’Boi Mirim), fundada em 2013 e uma das maiores ocupações urbanas da América Latina.
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O livro “Reflexões Periféricas” é fruto de uma pesquisa acadêmica realizada pelo Centro de Estudos Periféricos (CEP) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). D’andrea, que além de educador popular é pós-doutor em Filosofia e Mestre em Sociologia Urbana pela USP, foi o responsável por organizar a obra que transita entre 10 principais eixos: cultura; gênero; habitação; participação popular; transporte; educação; infâncias; saúde; trabalho; violência, genocídio e racismo, divididos em artigos, entrevistas e coleta de dados. Ele aponta para o ganho gerado para toda a comunidade nesta ação, que une a vivência de quem faz pesquisa na periferia ao conhecimento acadêmico.
No total, 35 pessoas que atuam com pesquisa em universidades (entre estudantes da graduação, pós-graduação, mestrado, além de docentes) reuniram temáticas importantes dentro de cada eixo. Ao todo, foram ouvidas mais de 300 pessoas de forma individual e em debates coletivos durante quase 2 anos de produção. O livro também aponta para soluções tangíveis por meio da união das forças dos movimentos de base, da população e do poder público.
Soluções a partir das margens
A professora Silvia Lopes afirma que nenhum projeto de transformação social se realizará se não for abraçado pela maioria da população brasileira, que vive nas periferia urbanas, e conta que as vozes que discutiam esses territórios na década de 1990 catalogavam essas regiões numa posição de ausência, um lugar onde só havia espaço para problemas.
“Já passou da hora de pensar a universidade como um lugar pertencente à população, para que esta leve suas demandas e a partir disso seja possível construir um currículo real e não subjetivo, comprometido com as realidades das periferias”, diz ela.
Durante sua fala, Boulos ressaltou a importância da obra ao dizer que é necessário que se dê o devido valor para quem mora, estuda e pesquisa a partir das periferias da cidade. “Tem muito especialista que conhece as quebradas pelos gráficos de computador, mas nunca pisou num território periférico. As mudanças que queremos não virão apenas das instituições políticas. Se olharmos nos últimos anos, as maiores resistências nasceram no chão das quebradas. Todas essas incidências são chamas de esperança, é dar murro em ponta de faca mesmo em tempos difíceis porque quem acredita, milita e atua no esperançar”, completa.
O livro “Reflexões Periféricas – Propostas em movimento para a reinvenção das quebradas” recebeu apoio da Fundação Rosa Luxemburgo e foi publicado pela editora Dandara. A obra está à venda no site da Editora, onde é possível encontrar outros títulos de pessoas que diariamente, como ressalta a professora Silvia Lopes, desvendam as fabulações do período em que vivemos.
Redação PEM