Razallfaya: uma banda no centro das conexões com as próprias raízes

Do Grajaú à Bahia. Da Bahia à África. E de lá, de volta ao Grajaú: a descoberta da própria história é constante na vida de Alan Zas, da banda Razallfaya

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Tempo de leitura: 7 minutos

Do Grajaú à Bahia. Da Bahia à África. E de lá, de volta ao Grajaú: o processo de descoberta da própria história é constante na vida de Alan Zas, de 37 anos.

O capoeirista, professor de história na rede pública e músico criado no Jardim Eliana, Extremo Sul de São Paulo, percorre uma trajetória de conexão com as próprias raízes que se assemelham com as origens de todos nós, periféricos, filhos de nordestinos, descendentes de africanos.

Nesse percurso de Alan, a banda Razallfaya tem importante papel. E é sobre essa trajetória que vamos falar em mais uma reportagem do “Cultura ao Extremo”, projeto realizado com apoio do programa Agente Comunitário de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo que tem o objetivo de mapear e visibilizar as manifestações culturais no Extremo Sul.

Para saber mais e participar também do projeto, clique na imagem abaixo ou responda ao questionário no final da matéria.

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Como outros meninos da vizinhança, Alan cresceu jogando bola na rua. Em 1990, um vizinho começou a dar aula de capoeira pra molecada num campo de futebol improvisado, onde participou por um ano.

Três anos depois, já adolescente, começou a participar do Coletivo Altruísta, um grupo formado por bandas punks da região que se reunia para tocar e produzir zines com desejo de romper com o sistema. Nesses rolês, ele conheceu Leandro Sequelle, que mais tarde formaria com ele e Edmarcio Perninha a banda Razallfaya.

“Tanto eu quanto o Sequelle tivemos contato com a cena punk e fomos construindo uma série de valores importantes sobre discriminação e criminalização”, lembra Alan.

A necessidade de trabalhar desmobilizou o grupo e cada um seguiu seus caminhos. Sequelle foi para o hip hop, enquantto Alan continuou na capoeira e começou a estudar História na faculdade.

“Me afastei um pouco, e isso possibilitou ter contato com outros espaços e pessoas, o que possibilitou também outras visões sobre mim e meu lugar”, lembra.

Em 1996, a reconexão com o território: a falta de professores na rede pública, começou a dar aulas em uma escola no Grajáu. A região vivia uma série de ocupações por moradia na beira da represa Billings que viriam a se tornar bairros como o Jardim Prainha e Jardim Monte Verde.

Alan e um grupo de alunos fizeram registros em campo sobre a ocupação de áreas de mananciais, o que resultou no documentário “Margens”. Veja abaixo:

“Vivo uma relação de amor e reflexão com o Grajaú”, completa Alan que, ao aprofundar a busca por suas origens, voltou à capoeira em 1997 e, três anos depois, já era professor da expressão cultural brasileira criada por negros escravizados.

Porém, nesse mesmo ano, Alan fez novas conexões com a própria história. Em uma viagem à Bahia, de onde vieram seus pais, ele conheceu a capoeira Angola, uma modalidade que busca trabalhar os fundamentos por trás de cada movimento. Para além da estética, é uma forma de preservar e atualizar a memória dos antepasados arrancados da África.

De volta a São Paulo, em 2001 Alan entra para o grupo Semente do Jogo de Angola, da Cidade Ademar.

Entre uma ginga e outra, o caminho dele se cruza novamente com o de Sequelle, que vem de uma caminhada no hip hop. Desse encontro entre dois velhos amigos, entre o passado representado pela musicalidade afrobrasileira e o rap das quebradas, surge em 2003 a banda Brado N’Bando, com a proposta de fazer música percussiva de protesto a partir da mistura de diferentes gêneros.

Dois anos depois, eles fundam com Edmarcio Perninha a Razallfaya – uma banda criada para tocar em bares da noite paulistana, faturar uns trocados e garantir a sustentabilidade e independência da Brado N’Bando.

Por acaso, a banda “independente” chegou ao fim e a “comercial” continuou na ativa, preservando a mistura sonora dos três integrantes. Ouça abaixo algumas interpretações:

Razzalfaya

Apesar das apresentações pagas na Vila Madalena, por exemplo, e de não ter uma periodicidade de militância, frequentemente a Razallfaya participa de ações socioculturais no Extremo Sul – a última apresentação aconteceu neste sábado, 04 de julho, no arraiá do Circo Escola Grajaú, que desenvolve atividades educativas com crianças e adolescentes da região.

“Estamos antenados com o que está acontecendo e próximos a coletivos que acreditamos”, conta Alan, que milita principalmente no combate ao racismo.

Nessas conexões com as próprias raízes, no início do ano Alan deu mais um passo para unir a ancestralidade ao cotidiano no Grajaú: ele transformou a própria casa no espaço cultural Cazuá, onde quatro vezes por semana ministra aulas de capoeira Angola.

“Apesar de trazer a questão tradicional, as nossas raízes, hoje a capoeira Angola é praticada principalmente por pessoas de classe média. Então, trazer para o Grajaú é um meio para que haja a reapropriação dessa expressão cultural por nós, marginalizados, daquilo que já é nosso”, completa Alan.

Tudo sobre…

Razallfaya

Região de atuação: Extremo Sul de São Paulo

Desde quando atua: 2005

Linguagens: Música (gêneros diversos)

Temas abordados: Arte e cultura, Educação, Juventude, Gênero, Direitos humanos, Meio ambiente, História e memória local, Culturas populares, Culturas afrobrasileiras

Público principal: Jovens e adultos

Critérios para participação: Convite, Morar nas proximidades, Atuar no território

Com quem se articula: Artistas locais, Entidades do terceiro setor locais, Movimentos sociais

Como se mantém: Recursos próprios

Maiores dificuldades enfrentadas no dia a dia: Recursos financeiros, Recursos materiais, Divulgação, Apoio do poder público, Infraestrutura no entorno

Contatos: pelo site ou pelo Facebook

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