Trajando uma camiseta estampada com a figura do líder negro estadunidense Malcom X, na última segunda-feira (08 de dezembro) o rapper e professor Robson Martins de Oliveira, 30 anos, foi barrado na porta giratória de uma unidade do Banco do Brasil (BB) no distrito de Parelheiros, Extremo Sul de São Paulo.
Segundo ele, funcionários da agência vêm constantemente praticando racismo de forma velada.
“A assistente da gerência olhava pra mim e perguntava: ‘Mas o senhor foi chamado de preto? O segurança te chamou de macaco?’”, diz. “O racismo é institucional, não é verbalizado. Eles encontram outros meios de dizer que aqui não é seu lugar. Aí, travam a porta, atendem mal, cobram documentos, etc”.
Robsoul (como é conhecido no hip hop) começou a dar aulas na rede municipal de ensino em 2009. Desde então, utiliza o posto de atendimento exclusivo do BB para funcionários públicos em Parelheiros. Porém, com a mudança da equipe da unidade há nove meses, ele diz ter vivido situações vexatórias cada vez mais frequentes.
“Em março, ao utilizar o caixa convencional para pagamento das contas, fui o único cliente a ser interpelado pela atendente e por coincidência a única pessoa negra da fila”, contou ele, em publicação no Facebook.
“Entreguei o documento [comprovando que era funcionário público], mas questionei se era apenas comigo, geramos um estresse, ela fingiu não ter entendido a pergunta e disse apenas que eram normas. No mês seguinte havia vários cartazes pela agência informando exclusividade do uso e solicitando comprovação via holerite e RG para todos os clientes”, continua.
O constrangimento persistiu. Vestidos com roupas leves e simples, de chinelo nos pés, em julho Robsoul foi ao banco acompanhado de sua companheira – também professora – e dos filhos de três e dois anos, respectivamente. E, novamente, a porta barrou a entrada.
Aos prantos, a companheira de Robsoul chegou a tirar a roupa do filho mais velho para mostrar que não havia nada escondido. “Ela perguntou ao segurança sobre o fato de não sermos brancos. Ele riu ironicamente e disse: ‘Agora que não abro mesmo!’”. A gerente, cuja presença foi solicitada pelo casal, teria apoiado a decisão do funcionário.
Em setembro, a porta giratória travou novamente com Robsoul, que guardou a mochila com o notebook em um armário externo. Em outubro, a situação se repetiu e, dessa vez, Robsoul colou um cartaz no vidro da agência com os dizeres: “PORTA EQUIPADA COM DETECTOR DE PRETOS – banco racista!!!”.
Para evitar um novo estresse, nessa segunda-feira Robsoul saiu de casa sem notebook e outros pertences. Em vão. O “detector de pretos” funcionou novamente. O rapper e professor já desistira de entrar no banco, mas voltou atrás. Ligou no 190 e solicitou uma viatura da Polícia Militar.
“Mas eles se recusaram a me levar a uma delegacia que ficava a apenas 1km. Fui com meus próprios meios. E os funcionários da delegacia se recusaram a abrir o boletim de ocorrência. Na maior cara-de-pau, me entregaram o endereço do Fórum de Santo Amaro e indicaram para que eu fosse direto”, diz ele.
Ao chegar à repartição, Robsoul deu com a porta na cara devido ao feriado do Judiciário. A tentativa de registrar um boletim de ocorrência pela internet também foi frustrada.
Indignado, Robsoul publicou o relato no Facebook. Leia aqui.
“Diálogo”
Após a divulgação do que aconteceu, funcionários da Agência Belmira Marin (responsável pelo posto de atendimento em Parelheiros) entraram em contato com ele solicitando uma conversa por telefone ou pessoalmente.
“Entendemos que nos dá uma oportunidade de diálogo e verificação de eventuais desvios no atendimento prestado aos clientes”, diz o e-mail protocolar. “Querem colocar panos quentes”, retruca Robsoul.
Procurado pelo Periferia em Movimento, o Banco do Brasil informou por meio da assessoria de imprensa que não conseguiu localizar Robsoul e que a agência citada foi acionada para apurar o ocorrido.
Segundo a assessoria, quando atendimentos que fogem aos “padrões de qualidade” do BB há uma reorientação de funcionários e colaboradores. A nota ressalta ainda que o banco “pauta sua atuação sempre buscando a excelência no atendimento, baseado no respeito às necessidades dos clientes, de acordo com as regras de conduta previstas pela prática bancária”. Leia a íntegra no final da matéria.
Racismo rotineiro
Não é a primeira vez que Robsoul é vítima de racismo. Rapper desde 1998 e militante de movimentos sociais no Extremo Sul de São Paulo, ele identifica a discriminação no cotidiano.
Em 2012, quando voltava do trabalho às 14h, foi agredido por policiais de moto e, ao indagar o motivo, ouviu que “todos eram suspeito até que se provasse o contrário”. Após entrar com denúncia na Corregedoria da PM, sofreu ameaças de militares, fez reconhecimento dos agressores no Batalhão, mas o caso foi arquivado.
Dessa vez, com o Banco do Brasil, ele pretende ir até o fim. “Não faço isso no intuito de conseguir indenização, mas com a intenção de que outras pessoas fiquem sabendo e tenham coragem de denunciar”, conclui.
Leia na íntegra a nota enviada pela assessoria de imprensa do Banco do Brasil:
“O Sr. Robson Martins de Oliveira não foi localizado pela sua agência de relacionamento nos telefones indicados em nosso cadastro para esclarecimentos.
Informamos que o uso da porta giratória, bem como do detector de metais, atende às normas de seguranças dispostas pela Portaria 3233/2012, da Polícia Federal.
A agência citada foi acionada para apurar o ocorrido, ressaltando que, quando verificado algum atendimento que foge aos padrões de qualidade adotados pelo Banco do Brasil, funcionários e colaboradores devem ser reorientados, com o intuito de que tais situações não mais ocorram.
Reafirmamos o posicionamento do Banco do Brasil, que pauta sua atuação sempre buscando a excelência no atendimento, baseado no respeito às necessidades dos clientes, de acordo com as regras de conduta previstas pela prática bancária.
Assim, lamentamos o ocorrido e colocamo-nos à disposição para demais esclarecimentos.
Atenciosamente,
Banco do Brasil
Assessoria de Imprensa Regional São Paulo Capital”
Thiago Borges