Da educação à moradia, do asfalto à cultura: a luta por direitos nas periferias das grandes cidades tem as mulheres como protagonistas. “Desde que o mundo é mundo, são as mulheres que são acolhedoras e nós temos essa necessidade”, aponta Felícia Mendes, líder de movimento por moradia no Grajaú (Extremo Sul de capital).
Mas a fala de Felícia não é romântica.
O sistema patriarcal gera desigualdades que afetam as mulheres, em especial as mulheres negras. No Brasil, de 02 em 02 minutos é registrada uma queixa de agressão com base na lei Maria da Penha, uma mulher é vítima de estupro a cada 09 minutos e 03 são vítimas de feminicídio todos os dias. Mulheres também recebem menos que os homens na mesma função no mercado de trabalho e cumprem uma jornada maior com as tarefas domésticas.
“Apesar de sermos taxadas como sexo frágil, na realidade somos muito fortes. Temos que cumprir o papel de mulher, mãe, dona de casa e garantir essa sobrevivência”
Felícia Mendes, que experimenta a concretude dessas lutas no dia a dia
Desde 1989, Felícia reivindica o direito à moradia na periferia paulistana. Integrante da Frente De Luta Por Moradia – FLM de São Paulo, ela é conselheira municipal de habitação, coordenadora do Fórum de Moradia e Meio Ambiente do Estado de SP (Fommaesp) e presidente da Associação de Moradores da Chácara do Conde, no Grajaú, onde articulou um projeto habitacional para 720 famílias nos anos 1990.
Em outubro de 2019, Felícia esteve com Regiane Soares na estreia “Quebra das Ideias”, programa transmitido pela Periferia em Movimento na internet.
Assista na íntegra:
Moradora de Parelheiros e formada em Ciências Sociais, Regiane Soares vê o protagonismo das mulheres negras justamente no enfrentamento ao estado genocida, que cria várias ferramentas para que a população preta sucumba. E por outro lado, vê mulheres que não necessariamente lutam de forma consciente contra esse estado, mas seguem resistindo.
“Uma mãe que tem que trabalhar e não tem onde deixar o filho está lutando. A luta dela é anterior. É uma luta para que a criança exista, tenha esse acesso, pra garantir que ela tenha o direito dela efetivado”, observa Regiane, que idealizou projetos como “Enegrecendo os espaços: Mulheres Negras, inclusão e participação política”, “Infiltração: diálogos sobre gênero, etnia e sexualidade” e “Vivências negras – em perspectivas reais e periféricas”. Desde 2015 integra o coletivo ABAYOMI ABA Pela Juventude Negra Viva e, em 2016, iniciou o Coletivo Rusha Montsho – Liberte-se Negro.
“O que nos une é a capacidade de gerar a vida. As mulheres geram a vida, dão origem, e poder gerar uma vida é querer garantir que essa vida possa existir”
Regiane Soares
Para as convidadas, entre os aprendizados com essas mulheres na luta estão a mobilização na rua, na bolinha do olho, e a partir da necessidade da população.
“A maioria da população que mora na periferia não tem muito tempo de participação, pois perde muito tempo no transporte, ida e vinda do trabalho. Aí acho que nós precisamos ter esse olhar, ter essa percepção, perceber essas coisas e usar as ferramentas que temos”, completa Felícia.
O programa Quebra das Ideias acontece por meio do patrocínio do Programa VAI da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo. Apresentação: Aline Rodrigues. Produção: Thiago Borges e Laís Diogo. Audiovisual: Pedro Ariel Salvador e Paulo Cruz. Articulação: Wilson Oliveira.
Redação PEM
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