Policiais invadem lanchonete e agridem manifestantes durante ato contra tarifa

Policiais invadem lanchonete e agridem manifestantes durante ato contra tarifa

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Tempo de leitura: 8 minutos

Texto e fotos por Guilherme Rocha, em colaboração para o Periferia em Movimento

Após a Polícia Militar interromper a continuidade do 1º Ato Contra a Tarifa, convocado pelo Movimento Passe Livre na última sexta-feira (09/11) em São Paulo, manifestantes e transeuntes que estavam na rua da Consolação (centro de São Paulo) correram para os arredores para fugir das bombas de efeito moral.

Veja no vídeo abaixo, que repercutiu em mídias independentes de todo mundo: 

SAIBA MAIS: Após ato com 30 mil pessoas no centro, periferias se mobilizam contra tarifa do transporte

Na rua Matias Ayres, travessa da Consolação, policiais com armadura tipo Robocop reprimiram e prenderam outros participantes do ato. Alguns deles se abrigaram em uma lanchonete, mas não estavam a salvo.

“Depois de uns cinco minutos, a Tropa de Choque começou a passar [em frente à lanchonete]. Um cara começou a xingar os policiais por causa da maneira violenta com que acabou com o protesto. Aí, eles invadiram a lanchonete para prender esse cara”, relata Julio, de 16 anos, que filmou o momento da invasão.

Assista o vídeo:

Com os olhos ardendo, dificuldades para respirar e medo da polícia, Julio se escondeu no banheiro e por lá ficou até o bar fechar as portas. “Isso não é uma abordagem normal, foi com muita violência. No vídeo dá pra ver: um cara só não consegue fugir de quase 10 policiais”, conta Julio.

O manifestante em questão é Silas, um estudante de 21 anos que foi detido pela Tropa do Braço da PM. Ao tentar impedir a prisão, sua namorada Fernanda foi agredida com cassetete por um policial, que ainda quebrou a estufa de salgados da lanchonete. Além de funcionários e manifestantes, outros clientes estavam no estabelecimento. Veja as imagens:

“No mínimo cinco políciais da Tropa do Braço da PM me enforcaram, bateram com o cassetete na minha cabeça por pelo menos cinco vezes, fora os socos e chutes distribuídos gratuitamente sem eu ter qualquer tipo de chance de me defender”, conta Silas. “Depois me jogaram pra fora da lanchonete, me deram outro mata-leão e apanhei mais, até eu desmaiar, ser ‘algemado’, arrastado e detido pela polícia”.

Após esperar por 2 horas na rua, com outros manifestantes detidos, e mais 2 horas no camburão até chegar à delegacia, Silas foi liberado por volta das 2h30 da madrugada de sábado (10/01).

“O transporte público não é eficiente, muito menos bom, e os preços aumentam todo ano sem as devidas melhorias necessárias pra utilização dos cidadãos. Tenho a consciência de que se o transporte é público, ele deve ser gratuito e estatizado, da mesma forma que são as escolas e os hospitais públicos”, observa Silas.

Confira na entrevista que ele concedeu:

Pergunta: Silas, você estava no momento que as bombas começaram na consolação?

Resposta: Estávamos minha namorada Fernanda e eu na manifestação desde o início, no Teatro Municipal. A manifestação foi andando, seguindo o trajeto delimitado em assembleia na organiação do ato, sem qualquer tipo de confronto, vandalismo ou baderna. A manifestação estava pacífica até chegarmos na Consolação. Na altura do Cemitério da Consolação, a Tropa do Braço da PM e a Tropa de Choque começaram a tacar bombas de gás lacrimogênio, atirar balas de borracha gratuitamente contra os manifestantes. Um grupo da PM encurralou manifestantes na própria rua da Consolação e não os deixaram sair, atirando contra eles as balas de borracha. Outro grupo entrou na rua Matias Ayres, também jogando bombas e atirando contra os manifestantes que, em sua maioria, estavam passando mal pelos efeitos dessas bombas – inclusive minha namorada e eu, que entramos na lanchonete invadida pela polícia.

P: O que você achou da ação policial durante o ato e, especificamente, dentro da lanchonete?

R: Foi lamentável a ação da PM no ato. Até o momento do confronto, a própria polícia tava cumprindo seu papel de forma adequada, fazendo o cordão, acompanhando sem qualquer tipo de confronto ou confusão. Após as bombas na Consolação, a atuação da polícia foi de mal a pior, realmente não há palavras para descrever como foi a atuação da corporação. Eles realmente invadiram a lanchonete, sem mais nem menos. A lanchonete estava cheia de pessoas passando mal. Todos entraram na lanchonete para pedir vinagre e para lavar o rosto, para amenizar os efeitos do gás jogado pela polícia.

P: Você foi detido? sofreu algum tipo de violência?

R: Quando eu estava dentro da lanchonete, juntamente com minha namorada e um grupo de manifestantes, a polícia adentrou a lanchonete e me pegou. Foram no mínimo cinco políciais da Tropa do Braço da PM que me enforcaram e bateram com o cassetete na minha cabeça por pelo menos cinco vezes, fora os socos e chutes distribuídos gratuitamente, sem eu ter qualquer tipo de chance de me defender. Na tentativa de me salvar sem sucesso, minha namorada também foi agredida no braço e na perna. Depois me jogaram pra fora da lanchonete, me deram outro mata-leão e apanhei mais, até eu desmaiar, ser “algemado”, arrastado e detido pela polícia. Depois que fui detido, fui juntado a outro grupo de manifestantes detidos, todos eles também com escoreações e ferimentos, na prória rua Matias Ayres. Ficamos lá por 1h até sermos conduzidos até a rua da Consolação, onde tinha outro grupo de manifestantes detidos. Nesse grupo tinha 32 manifestantes, incluindo eu. Depois de muito tempo esperando, fomos encaminhados ao 78° DP da Polícia Civil, localizado na Av. Estados Unidos. O trajeto da rua da Consolação até a Av. Estados Unidos, que tinha aproximadamente 1,5km de distância, demorou duas horas. Sim, ficamos duas horas rodando no ônibus até pararmos na delegacia, a tortura psicológica dentro do ônibus por causa dessa demora foi absurda.”

P: Você foi libertado que horas?

R: Fui libertado às 2h30 da madrugada. Eu e mais um grupo de 11 manifestantes que também tinham sido detidos.

P: Você se machucou?

R: Tive ferimentos na cabeça e nas costas, por causa dos golpes de cassetete; no peito, nas costas e no pescoço, por causa do mata-leão aplicado até eu desmaiar e dos socos e chutes dado por eles; nos punhos, por causa das fitas que eles usaram para “algemar” os manifestantes, que estava realmente muito apertada; e outros ferimentos na perna e nos braços, porque me arrastaram na rua enquanto eu tava desmaiado.”

 

Amanhã vai ser maior!

Nesta sexta-feira (16/01), acontece o 2º Grande Ato Contra a Tarifa dos transportes. A concentração acontece às 17h, na Praça do Ciclista, esquina entre a rua Consolação e a avenida Paulista. Além disso, oficinas e reuniões estão ocorrendo em diferentes pontos da capital paulista e da região metropolitana. Confira aqui.

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