Um urbanista famosinho entre os urbanistas disse que o “O centro é onde os ricos estão”. Ele, o Flávio Villaça, mostrou em suas pesquisas que o centro de São Paulo mudou de localização sempre que as elites da cidade mudaram o lugar onde preferiam morar. Essas mudanças, sempre foram precedidas da instalação de toda a infraestrutura necessária, especialmente a de mobilidade, o que deixa trabalho e serviços públicos e privados de interesse por perto.
São Paulo tem 96 distritos e a diferença entre eles segue uma lógica geral: quanto mais distante da área central, piores são os indicadores. No Grajaú, na zona sul, por exemplo, mais de 30% da população vive em situação de alta ou muito alta vulnerabilidade, enquanto praticamente ninguém vive na mesma condição em Perdizes, na zona oeste, segundo o Mapa da Desigualdade 2017, da Rede Nossa São Paulo.
A baixa oferta de postos de trabalho e oferta de serviços públicos e privados nesses bairros obriga seus moradores a se deslocar em direção às regiões centrais. E é nessa hora que a distância e falta de transporte de qualidade pega: quem mora no extremo da zona leste, leva em média 3 horas e 26 minutos por dia no trânsito ou dentro de um vagão, penando pouco mais de uma hora no trânsito ou vagão em relação a quem mora no centro ou na zona oeste. Esses e outros indicadores interferem fortemente na qualidade de vida. No Alto de Pinheiros, a média de idade ao morrer é de 79,67 anos, enquanto na Cidade Tiradentes é de 53,85.
Mas a distância não é o único fator que faz da periferia a periferia. Cor, renda e escolaridade são fatores recorrentes. Quanto mais pigmentada a pele e menor a renda, mais periférico é o local, ainda que o bairro esteja no centro.
Nessa reportagem, a repórter Gisele Brito conversou com pessoas que afirmam que a periferia não é só uma localização. Everson Anderson,18, e Janaína Xavier, 36, moram respectivamente, na Favela do Moinho e nos Campos Elísios, na região conhecida como “Cracolândia”, duas áreas ameaçadas de remoção pelo Estado. Glauber Torres, 20, mora em Paraisópolis, uma favela colada num dos bairros mais elitistas de São Paulo. Amanda Letícia, 20, vive na periferia de Taboão da Serra, num bairro pertinho de São Paulo e vivência o que é ser periférica em duas cidades.
Para eles, a cor da pele e a ausência do Estado determinam mais sua posição social do que a distância de seus bairros em relação ao centro.
ASSISTA:
Esta reportagem faz parte do projeto #NoCentroDaPauta, uma realização dos coletivos Alma Preta, Casa no Meio do Mundo, Desenrola e Não me Enrola, Imargem, Historiorama, Periferia em Movimento e TV Grajaú, com patrocínio da Fundação Tide Setubal.
Cerca de 30 reportagens serão publicadas até o final de outubro com assuntos de interesses da população das periferias de São Paulo em ano eleitoral. Acompanhe os sites e as redes sociais dos coletivos e não perca nada!
Gisele Brito