Mecânica de motos da ZL se divide entre trabalho administrativo e sonho de mudar de carreira

Mecânica de motos da ZL se divide entre trabalho administrativo e sonho de mudar de carreira

Moradora da Vila Prudente se destacou em curso técnico e se especializou em marca de nicho em ramo majoritariamente masculino

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Tempo de leitura: 4 minutos

Catarina Hanna, de 38 anos, é formada em Administração e trabalha na área de compras há 13 anos. Mas desde criança nutre um sonho: a mecânica. Ela cresceu vendo o pai trabalhando e gerindo uma oficina multimarcas. E nesse universo, as motos chamaram sua atenção e estimularam o interesse de, enfim, passar a saber mais a respeito.

“Estudar mecânica, entender de mecânica sempre foi uma coisa que despertou meu interesse. Mas precisei estar em um emprego que eu não estava muito satisfeita naquele momento para procurar alguma coisa que gostasse mesmo de fazer”, diz a moradora da Vila Prudente, na zona Leste de São Paulo.

Com contas para pagar, a atenção foi dividida entre o trabalho de carteira assinada em horário comercial durante a semana e os estudos de mecânica aos sábados, das 9h às 18h, por cerca de dois anos. Com destaque nas aulas, ela recebeu a oportunidade de atuar em uma oficina que ficava a apenas 10 minutos de casa.

“Só tinha eu fazendo mecânica de motos naquele momento. É difícil ter uma mulher estudando mecânica, então os professores lá do SENAI mesmo me indicaram”, conta Catarina, que destaca não ter sofrido preconceito por ser mulher atuando em uma área majoritariamente masculina.

Desafios

Os estudos de mecânica começaram em 2019. Em 2021, com a oportunidade, Catarina deixou o banco em que trabalhava e foi pra oficina. Para a administradora, o apoio do companheiro foi fundamental.

“Meu marido sempre me apoiou muito, mesmo quando eu decidi sair do banco, que tinha um salário bom, para ir para a oficina e ganhar três vezes menos. A gente sabia que não seria fácil, mas era o começo de uma nova carreira”, relata.

Porém, em 2023, Catarina optou por voltar para a área de compras. Após sair da oficina, ela foi recolocada na área administrativa em um mês, conseguindo um salário que era o dobro do da oficina, além de benefícios, que pesaram bastante na tomada de decisão.

“Ele [o marido] estava tratando uma doença e acabou se afastando do trabalho por conta disso e eu percebi que, como mecânica, não tinha os mesmos benefícios como plano médico, um salário melhor ou algumas coisas que pudessem ajudar. Isso me ajudou na decisão de sair da oficina e voltar para um emprego que me pagasse melhor”.

Continuar sonhando

Catarina tem uma especialidade que pouquíssimas pessoas no Brasil têm. Ela mexe em uma marca de motos muito rara, chamada Indian Motorcycle. Estima-se que, no País, só existam umas 800 unidades dessa moto. A empresa encerrou as atividades aqui em 2018.

Toda a formação na Indian Motorcycle é em inglês, por isso, é necessário saber ao menos o básico para poder se especializar.

“Sou uma profissional de mais de 10 anos de experiência em compras, formada em Administração, e falo o básico de inglês. Por isso consegui essa formação e, mesmo sendo uma profissional diferenciada no mercado, o salário ainda é muito pequeno apesar de toda a especialização. O salário é o mesmo de uma pessoa que sai da escola hoje”, desabafa a mecânica.

Apesar da frustração inicial, Catarina segue estudando mecânica, inclusive, tendo feito um curso de manutenção de motos este ano. No momento, a rotina se divide assim: o trabalho na área de compras de segunda a sexta, atuação na oficina do pai aos finais de semana e, quando possível, ela faz trabalhos de manutenção de motos a domicílio.

“Pretendo fazer um curso no exterior e, para os próximos anos, quero abrir minha oficina”, sonha.

Edição: Thiago Borges. Fotos: Arquivo pessoal

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