Os marginais invadem o centro. Quem segura?

De um lado está o funk carioca, que toca em todo o país. Do outro estão os motoboys, que apenas em São Paulo somam 500 mil habitantes.

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De um lado está o funk carioca, que toca em todo o país e cria filhotes pela baixada santista, pela periferia de São Paulo, BH e Vitória, no Espírito Santo. Do outro estão os motoboys, que apenas em São Paulo somam 500 mil habitantes.

O que acontece quando esses sujeitos marginalizados invadem a cena?

“Trata-se de uma narrativa em que uma realidade é levada a sério”, avalia o professor José Guimarães Magnani, do Núcleo de Antropologia Urbana da USP, durante o seminário “Estéticas das Periferias”.

Essa narrativa constitui na voz que cada sujeito desses, cada um a seu modo, encontrou para se expressar.

Canal Motoboy

Geralmente, esse é o retrato que a mídia faz dos motoboys de São Paulo, uma categoria com 30 anos de existência que ainda não teve a profissão regularizada.Terror do trânsito ou vítima fatal.

Sem eles, a cidade para: documentos não chegam, cheques não são depositados, encomendas não são entregues. Ainda assim, impera o estigma da violência.

Para dar voz aos mais de 500 mil motoboys existentes na metrópole, em 2004 o artista plástico espanhol Anthony Abad criou “Canal Motoboy”.

Munidos de celulares com câmera, 11 motoqueiros registram locais por onde passam em fotos, vídeos e textos. Tudo vai para o site colaborativo.

A foto que ilustra essa matéria logo acima foi tirada por uma câmera de alta resolução acoplada no capacete do motoboy Luiz Bicchioni, um dos integrantes do Canal Motoboy.

“O mais interessante, no momento, é nós percebermos como um projeto como esse é capaz de possibilitar pessoas que antes não podiam falar para o mundo e através da internet isso passa a ser uma realidade”, aponta o motoboy e professor Eliezer Neca Muniz.

A criminalização do funk

Funk é apenas crime e putaria?

“Hoje, o moleque dança frevo, com samba e tambores africanos – e isso é funk”, conta Calazans.

O funk é o meio de comunicação encontrado por jovens que vivem em condições precárias, não têm educação de qualidade e precisam expressar de alguma forma aquilo que pensam e conhecem – nem que seja uma música com palavrão dentro de uma narrativa geralmente engraçada. E, sem saber o que é metáfora, mandm o papo reto, sem enrolação.

“O erotismo ta presente na música brasileira como um todo. Agora o problema é trazer o moleque da favela que canta funk pra discutir isso na academia com os mesmos parâmetros usados pra discutir Chico Buarque”, observa Calazans.

Morador do Morro do Alemão, estudante de serviço social na UFRJ e membro da APAFunk (Associação dos Parceiros e Amigos do Funk), o MC Raphael Calazans denuncia a “pacificação” das favelas cariocas, em que a opressão muda de mãos.

“Eu acordei um dia e vi um tanque de guerra entrando na favela”, recorda. “E vem a Rede Globo dizer que isso aí é a paz chegando no morro”.

E isso resultou na criminalização do funk. A prefeitura do Rio deu poderes à PM para proibir bailes funks na cidade. Antes, a desculpa é que os bailes eram locais de ação de traficantes. Hoje, mesmo em comunidades “pacificadas”, os bailes continuam proibidos. Na verdade, segundo Calazans, há um medo de que esses jovens pretos e favelados (que hoje se reúnem para dançar músicas com apelo erótico) passem a falar de sua situação social e questionar isso.

“O funk já foi divulgado, proibido, absorvido, proibido de novo… só não conseguiram acabar com o funk”, conclui Calazans. “O funk é mais que chegar e fazer um show. É nossa identidade”.

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