Mulheres negras resgatam saberes africanos em oficina de tecnologias ancestrais

Mulheres negras resgatam saberes africanos em oficina de tecnologias ancestrais

Projeto Ogunhê, feito por coletivo de São Bernardo do Campo (SP), discute importância de ofícios envolvendo natureza e espiritualidade africana

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Tempo de leitura: 4 minutos

Por Vini Linhares

Orientação de reportagem: Gisele Brito. Edição de texto: Thiago Borges. Artes: Rafael Cristiano

Com caixas de leite e de papelão, Erica Arnaldo confecciona uma pequena estrutura de peças que se encaixam e se movem em um sistema de engrenagens. É a deixa para a atriz e arte educadora dialogar com o público sobre tecnologias ancestrais de povos africanos. E a tradição oral permite que esse conhecimento circule agora pela internet com o projeto Ogunhê. 

Engrenagem de papelão (Foto: Samira Sousa)

“Os ofícios artesanais são um dos grandes vetores da tradição oral”, explica a produtora cultural Karina Costa, uma das organizadoras do encontro. “Nas sociedades africanas, as atividades humanas possuem frequentemente um caráter sagrado ou oculto, principalmente as atividades que consistem em agir sobre a matéria e transformá-la, uma vez que tudo é considerado vivo”.

O termo “Ogunhê” é uma saudação a Ogum, orixá das tecnologias, do trabalho e da metalurgia. Promovido pelo coletivo Manidade – Sociedade de Manas com Humanidade com fomento da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc em São Bernardo do Campo (SP), o projeto realiza oficinas e workshops para resgatar a memória, compartilhar saberes e apresentar a importância de ofícios e valores civilizatórios em torno dessas tecnologias, envolvendo a natureza e a espiritualidade africana. 

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Karina lembra que, por volta do século 13 e antes da colonização europeia, pessoas africanas que trabalhavam com ferragens precisavam sair de sua região para comercializar com outros povos. “E era dessa forma também que melhoravam a sua comunicação, que entendiam o que que tava acontecendo em outras nações (…) e essas novas notícias também alteravam toda a rotina daquela população”, explica.

Agora, a ideia é retomar esses fazeres em oficinas de experimentação artística com produção de objetos tridimensionais com materiais recicláveis, alinhada à urgência ambiental e à sustentabilidade. 

As engrenagens estão no todo e permitem criar um ritmo, formas e inúmeros possibilidades para que tenhamos vivências pluriversais – afinal, todes nós formamos uma organização coletiva que possui um movimento intrínseco, em engrenagens sociais que vão e vêm. 

“Tecnologia é tudo aquilo que está a auxílio da comunidade”, ressalta Mariana Calu, formada em turismo, pós-graduada em arte educação, empreendedora em temperos e participante na oficina.

A próxima atividade acontece no dia 4 de setembro, das 10h às 13h, na plataforma zoom, com interpretação em Libras (língua brasileira de sinais). Para participar, é preciso acompanhar a divulgação no instagram @coletivomanidade. Agradecemos ao Coletivo Manidade por nos proporcionar um encontro cheio de troca, emoção e aprendizado. Caminhamos daqui para um futuro antirracista. 

*Vini Linhares é participante do “Repórter da Quebrada – Uma morada jornalística de experimentações”, programa de residência em jornalismo da quebrada realizado pela Periferia em Movimento por meio da política pública Fomento à Cultura da Periferia de São Paulo

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