Documentário retrata cotidiano de escolas ocupadas nas periferias; estudantes voltam às ruas

Documentário retrata cotidiano de escolas ocupadas nas periferias; estudantes voltam às ruas

Três jovens ex estudantes de Escolas Estaduais registraram a mobilização de secundaristas, que voltam às ruas contra o fechamento de salas e máfia das merendas.

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Tempo de leitura: 5 minutos

Nesta terça-feira (22 de março), em meio ao caldeirão político que vive o Brasil, estudantes secundaristas voltam às ruas de São Paulo para em ato autônomo e apartidário para denunciar a reorganização escolar disfarçada orquestrada pelo governo de Geraldo Alckmin. Além das mais de 1.300 salas de aula foram fechadas em todo Estado, o sistema de ensino se vê às voltas com o escândalo de desvios de verba das merendas, enquanto a mídia noticia apenas os megacasos de corrupção do governo federal.

Os secundaristas revivem o processo de organização e luta que, entre novembro e dezembro do ano passado, ocupou mais de 200 escolas em São Paulo contra o fechamento de 94 unidades, mudanças de ciclo em 700 outras e impacto direto sobre mais de 300 mil alunos.

Essa mobilização resultou na volta de Willian Granieiro, que estudou todo Ensino Médio na Escola Estadual Alberto Conte, em Santo Amaro, zona Sul de São Paulo, à sua escola. Em 2015, já cursando a faculdade de Publicidade, ele voltou ao Conte com mais dois amigos para continuar aprendendo: queriam ver de perto e registrar o movimento secundarista que balançou o sistema de ensino.

Dessa jornada, nasceu o documentário “Ocupe-se: A luta entre o lápis e a borracha”, produzido por Willian com o também futuro publicitário Gabriel da Costa,  ambos moradores do Jardim Nakamura, e o estudante de História Fabricio Alves Rodrigues, do Jardim São Luís.

Batidores, momento da gravação na escola Alberto Conte. Oficineiro Francisco e Wilson.

Bastidores, momento da gravação na escola Alberto Conte. Oficineiro Francisco e Wilson.

A ideia surgiu logo na primeira semana das ocupações. Enquanto colégios da região central chamavam a atenção da mídia, o objetivo dos três rapazes era narrar o dia a dia em unidades das periferias. “Aquelas que poucos entraram e que sofriam maior repressão”, conta Fabricio.

O Conte foi o primeiro colégio escolhido por uma questão de afeto. As demais escolas foram indicadas pelos próprios estudantes: EE Plinio Negrão, também em Santo Amaro; EE Antonio Manoel, no Jardim Ângela; EE Zulmira Cavalheiro Faustino e EE Marilsa Garbossa Francisco, no Jardim São Luís.

Entrar nas ocupações não foi tão fácil. “Tínhamos que mostrar que nosso trabalho era sério. Os estudantes tinham receio, mas aos poucos fomos ganhando espaço”, explica Fabricio, que destaca a autonomia dos movimentos.

Os documentaristas passaram 24 horas no Conte e no Antonio Manoel, além de outras 12 horas nas demais escolas, onde conversaram, refletiram e gravaram com os alunos.

“O movimento é revolucionário. Os alunos faziam a política e a democracia acontecerem. Jamais vimos algo parecido no Brasil”, lembra Fabricio. “Infelizmente eram tratados como marginais. Em diversos momentos percebíamos que a luta não era apenas para derrubar um lei, mas para uma transformação educacional da qual diversos escritores já sonharam como Paulo Freire, Cipriano Luckesi e Milton Santos”.

 Registro da exibição no "Sarau Preto no Branco" Jd. Ibirapura.

Registro da exibição no “Sarau Preto no Branco” Jd. Ibirapura.

Não por acaso, o filme desperta interesse geral e já foi exibido no CEU Parelheiros, na Casa de Cultura do M’Boi Mirim, no Sarau Preto no Branco, na Casa de Cultura do Campo Limpo, no Sarau Natural (Estrada do Riviera) e na Casa de Cultura Palhaço Carequinha, no Grajaú. Para agendar uma sessão, clique aqui.

Porém, a luta entre o lápis e a borracha continua. Como o Periferia em Movimento abordou antes da volta às aulas, a reorganização escolar acontece na surdina. Leia aqui.

Nessa conjuntura, o documentário continua destacando o poder da juventude para formar opinião e disseminar direitos. “Esses secundaristas nos deram esperança”, conclui Fabricio.

 

1 Comentário

  1. Com a paralização das aulas, prejudicaram milhares de outros alunos que não puderam terminar o ano letivo. A “brincadeira” gerou, até agora, um prejuízo R$ 2 milhões, fora os atos de vandalismo. Nenhum deles protestou contra o corte de Dilma de 10% na verba para educação. Prova que os atos tinham motivação política. Queriam apenas colocar a população conta o governador Geraldo Alckmin. E a imprensa ainda os tratam como celebridades.

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