No candomblé, tudo é contato: Com avanço da vacinação, terreiros reabrem para comunidade

No candomblé, tudo é contato: Com avanço da vacinação, terreiros reabrem para comunidade

Recebides com um abraço forte e afetuoso, acompanhamos a volta dos encontros presenciais em um ilê de Embu-Guaçu

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Reportagem, imagens e edição de Gisele Brito

Imagens por Vitori Jumapili. Finalização: Pedro Ariel Salvador. Artes: Rafael Cristiano sobre fotos de Baltazar Lima

“Já tomou a vacina?”. 

Assim, a equipe da Periferia em Movimento foi recebida no terreiro Ilê Asé Alàketú Sàngó Aganjú, na cidade de Embu-Guaçu (SP), num domingo nublado no começo de outubro pelo Babá Cláudio de Aganjú, sacerdote da casa. Depois de responder que sim, recebi um abraço forte e afetuoso do até então desconhecido. 

No candomblé é tudo contato, explicou depois o babá. E justamente por isso, a pandemia de covid-19  “tirou o brilho” das celebrações e ritos. “Tudo a gente tem contato. O negro é  essa coisa de contato, de abraço. A gente tem muito isso. Então praticamente parou o candomblé”.

Na videorreportagem a seguir, a equipe da PEM conversa com o babá Cláudio de Aganjú, que explica como a pandemia influenciou os rituais do candomblé.

Fechamento

Em março de 2020, o governo de São Paulo recomendou que não houvesse reuniões religiosas no Estado e o Ministério Público pediu na justiça que os espaços religiosos fossem proibidos e até multados caso descumprissem a determinação. Para lideranças cristãs a medida foi polêmica e despertou em diversos tipos de protesto – o que levou a que vários estados, incluindo São Paulo, classificassem as atividades religiosas como essenciais. 

A resistência ao fechamento dos templos pareceu menor entre praticantes de matriz africana. Também em março do ano passado, Yabás e Babás dos terreiros mais antigos, chamadas de matrizes, informaram que orixás orientavam para a suspensão das atividades públicas das casas. 

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Mesmo sem que um terreiro possa mandar no outro, a orientação foi seguida pelas “casas conscientes”, afirma o Babá Cláudio. O candomblé não tem livros sagrados. O conhecimento é passado das pessoas mais velhas para as mais jovens, na convivência. 

“A gente tem muito cuidado com os nossos mais velhos, nossos abas. E se é uma doença engatilhada para eles, os nossos mais velhos tiveram que se afastar”, explica pai Cláudio. 

Reabertura

Apesar de ainda termos cerca de 347 mortes por dia no Brasil em decorrência do coronavírus,  o avanço da vacinação e o conhecimento sobre as formas de transmissão permitiram que a casa, aos poucos, fosse voltando às suas atividades. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, até 28 de outubro pelo menos 87% das pessoas com mais de 18 anos no Estado de São Paulo já estavam totalmente vacinadas. 

No dia em que a equipe da Periferia em Movimento esteve no terreiro, a casa se abriu pela primeira vez para a comunidade depois do começo da pandemia, para celebrar a cerimônia do Olubajé. A festa é uma homenagem a Omulu, o orixá da doença e da saúde, onde a comida do orixá é compartilhada com a comunidade. Também foram apresentados novos filhos, cuja feitura acabara de acontecer; e outro, feito já durante a pandemia e que cumpria a obrigação de 1 ano, um outro ritual realizado durante um retiro, desta vez menor.

Feitura é como se chama o processo de iniciação no candomblé. Durante o período de 21 dias no roncó, um quarto reservado e preparado para o retiro, o iniciado tem o orí feito, ou seja, é escolhido por um orixá. Nesse período, explica o sacerdote, todos os valores da religião são ensinados.  A saída de santo é justamente quando orixá é apresentade.

“Candomblé é a única religião em que a gente é escolhido. A gente não escolhe ser de candomblé, a gente é escolhido. O orixá escolhe a gente e a gente aceita com muito amor e carinho. A nossa igreja é nosso próprio corpo”, explica o babá.

Confira uma galeria de fotos de Baltazar Lima:

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