Associação de Mulheres do Grajaú promoveu, no último sábado, atividades sobre feminismo com moradores da região
Por Mariana Caires
Os apitos cor de rosa denunciavam a urgência da manifestação. Era 10h da manhã de sábado, 12 de março, quando moradores do Grajaú saíram em caminhada para relembrar suas guerreiras: Mulheres da periferia que vão à luta, cada uma da sua maneira, pra não ver seu lilás desbotar na cidade cinza.
A Associação de Mulheres do Grajaú é a mais antiga organização com atuação social da região. São moradoras que, desde 1983 lutam pelos direitos das mulheres no Extremo Sul de São Paulo. Hoje, é só chegar na casa 183 da Rua João Batista Barroso Filho, que encontrará exemplos, acolhimento e informação.
A caminhada se estendeu da Casa de Cultura Palhaço Carequinha até a Associação. Eram poucas pessoas, mas para o seu Raimundo, que atua há anos no bairro, isso não era um grande problema: “o importante nessa caminhada era a qualidade, não a quantidade de pessoas. Quem estava ali sabia pelo que lutava”. E mais, não se pode ter medo de ir pra rua, “não adianta fazer as entidades e se fechar num casulo, precisamos sair… Na época da ditadura militar, o povo saía mais pra rua que hoje, e é isso, quem resolve as coisas é o povo na rua”, completa.
Fazer uma caminhada pelas mulheres foi visto com espanto pelos que passavam, conta Maria Vilani: “tudo o que parte da mulher é visto com estranheza pela sociedade. Veja, quando tem briga de meninos, é bonito, quando é de mulher é um alvoroço, tudo é visto como curiosidade e espanto”.
Chegando à Associação, era a hora de ver Simone de Beauvoir e discutir sobre a sexualidade oprimida entre as mulheres. Desconstruir padrões e privilégios de gênero e sexualidade não é só uma questão pessoal. Orientar a mulher a conhecer seu próprio corpo, a entender seu ciclo menstrual e sua gravidez é assunto de saúde pública.
Não se nasce mulher, torna-se mulher. Quem vivencia a Associação de Mulheres sabe que o feminismo na periferia já vem por necessidade vital. Se não há vagas em creche, se o sistema de saúde é ineficaz, a mulher da quebrada não tem pra onde correr. Se a de classe média tem a opção de matricular os filhos numa escola integral pra poder trabalhar e render mais, na favela a história é outra. O jeito, como bem explica Vilani, foi trabalhar dobrado e ensinar os filhos a cuidarem uns dos outros. Depois, a classe média vai dizer que serviço público é desnecessário. Pra quem?
A Associação de moradoras não cria vagas em postos, não contrata mais professores, não é de nenhum partido, mas atua politicamente de outra forma. Além de ajudar em ações pontuais, atua semeando informação. Era sábado e a sala estava lotada de gente discutindo feminismo. Homens e mulheres de todas as idades trocavam uma ideia sobre Beauvoir. Isso significa muito para uma Associação que passou por muitos preconceitos desde que começou a atuar no bairro “chamavam aqui de Casa de Aborto, já ficamos até fechados um tempo”, conta seu Raimundo, que viu Vilani e Vanilde tirarem a ideia do papel.
Se, nesse ano, as calçadas já ficaram lilás, espera-se que no próximo as atividades sejam maiores, conta Maria Vilani. “Esse ato foi apoiado pelo CAPS e a gente espera que mais parceiros se juntem a nós no próximo ano. Interessante que os coletivos se conversem pensem e realizem mais coisas juntos”.
Todo segundo sábado do mês, acontece reunião do Fórum de Mulheres do Grajaú, com discussões sobre os direitos da mulher. As atividades na casa são abertas, participe! Acompanhe a programação na página do Facebook. Contatos pelo telefone: 11 59253472
Redação PEM