No bang loko, atrás de um troco: como trampar com o que gosta na crise dos outros?

No bang loko, atrás de um troco: como trampar com o que gosta na crise dos outros?

Desemprego, reformas, cerco aos coletivos de cultura... A perspectiva parece desanimadora. Como virar o jogo nesse rolê?

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Tempo de leitura: 6 minutos
Foto Victor Marinho / Instituto Pró-Comum

Reformas do Ensino Médio, Trabalhista e da Previdência; 14 milhões de desempregados; cortes nos investimentos em saúde e educação; cerco aos coletivos de cultura, como o que acontece em São Paulo, com a gestão Doria… O cenário de golpe e crise econômica, somado à realidade secular de uma sociedade racista e patriarcal, soa devastador para a juventude preta e periférica. Qual a esperança no futuro?

Esses pontos permearam a mesa de debate “No Bang Loko Atrás de Um Troco”, realizada na noite desta quarta (05 de julho) no Sesc Campo Limpo e que faz parte da programação do Festival Percurso. Com a proposta de discutir os desafios e perspectivas da economia solidária para inclusão social e produtiva por meio da cultura.

“Se a gente tá num trabalho agressivo, com pessoas agressivas, o ambiente inadequado, uma forma de saber que não tá bom é o corpo adoecer”, lembra Marta Aguiar Bergamin, professora da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. “Todo mundo deveria poder trabalhar com o que gosta”.

Por outro lado, como fazer isso na quebrada, socialmente segregado, e onde a urgência pra conseguir algo que dê grana – de preferência, até semana que vem – é gritante, e falta tempo para experimentar e descobrir aquilo que de fato faz os “olhos brilharem”?

Alex Barcellos, um dos integrantes da Agência Solano Trindade, diz que o futuro é desafiador, mas é preciso ser mais ligeiro que os donos do poder. “Essa crise não é nossa, não é pra gente. A gente sempre viveu em crise. A crise começou nos navios vindo da África”, diz ele.

Pra virar o jogo, Alex diz que é preciso estimular ainda mais a economia solidária, entendendo a lógica do consumo na quebrada – e não só a alimentação, mas tudo, desde vestuário a itens para casa. “Temos que sair do trabalho individual e trabalhar em rede, trazer o vizinho pra perto porque muitas vezes não conseguimos fazer um trabalho pedagógico”, observa Alex.

Nascida e criada no Morro de São Bento, uma comunidade de Santos (litoral paulista), Alzira Lucio voltou pra terra natal depois de construir uma vida no Rio de Janeiro. Formada em moda, há um ano ela criou o projeto Luzes da Vila, em que trabalha com moda sustentável e cria chaveiros, turbantes e outros itens de materiais reutilizados com a participação de meninas do morro. Pra se manter, já fez rifas, desfiles, bazares, todos os corres possíveis, e hoje já consegue expor os trabalhos em feiras de economia solidária.

“A pobreza também vai trazendo a pessoa pra uma condição em que ela perde a voz. Não fala. E a criança fica como se não tiver ninguém pra falar?”, questiona ela. Mais importante que a produção e venda, Alzira desenvolve um trabalho pedagógico com as garotas e apresenta novas possibilidades. “Se você começou, tem que ir até o fim. Ou vai ou não vai”.

“Como eu posso estar numa crise econômica se tenho tantos outros arranjos econômicos dentro do meu país e nos países vizinhos?”, provoca Alex, da Solano Trindade. “Economia solidária é mais do que geração de renda e emprego, e sim de transformação social”.

Festival Percurso

Rememorando os Bailes Blacks que tomavam conta das noites paulistanas na década de 70 e 80, fosse nas ruas de terra pelas favelas ou na região central, neste domingo (dia 09 de julho) o Festival Percurso 2017 chega a sua quarta edição pautando a Economia Solidária nas quebradas com debates, atrações musicais e culturais, brincadeiras e brinquedos para as crianças e práticas para a terceira idade.

Roberta Estrela D’alva é uma das mestres de cerimônia

O carro-chefe do Festival é a realização anual de uma grande Feira da Economia Solidária, iniciativa que reúne mais de 150 expositores e empreendimentos para comercializar produtos e serviços que representam a diversidade cultural e étnica da periferia. Além de diversos tipos de artesanatos, artes plásticas, acessórios e vestimentas, dentre tantos outros produtos, a Feira também conta com uma sessão de Gastronomia, com mais de 30 opções da culinária periférica e tradicional.
Ao longo do dia 09 de julho, diversos artistas se apresentam nesse baile: Mano Brown com o show Boogie Naipe; Dugueto Shabazz; Sandália de Prata; Ualdo e Coletivo Samba Rock; Zinho Trindade; Musical Muzimba de Akins Kintê; Mestre Aderbal Ashogun; Ajayô! Samba do Monte; Discopédia e DJ Kula.
Além disso, o evento tem atividades para todas as idades, como Maracatu, Dança do Leão e Dragão Chinês; Roda de Brincantes; Circo de Variedades; Batalha de Rap; Cinedebate; Exposições e intervenções de quadros e poesias; Oficinas e muito mais.

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