Marcha das Mulheres Negras pauta democracia, justiça e bem viver nas ruas do centro de São Paulo

Marcha das Mulheres Negras pauta democracia, justiça e bem viver nas ruas do centro de São Paulo

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Ponto alto da programação do Julho das Pretas, a 8ª Marcha aponta as prioridades de mudanças ainda necessárias e resgata a luta histórica das mulheres negras no Brasil

Por André Santos. Fotos de Vitori Jumapili. Edição de texto: Aline Rodrigues. Artes: Rafael Cristiano. Distribuição: Vênuz Capel

“ESTAMOS EM MARCHA PARA QUE NOSSAS VOZES SEJAM OUVIDAS E NOSSOS DIREITOS SEJAM GARANTIDOS. PELO DIREITO DE VIVER COM ALEGRIA, DIGNIDADE E PRAZER. AFIRMAMOS QUE NADA, SOBRETUDO A DEMOCRACIA BRASILEIRA, SERÁ FEITA SEM NÓS, MULHERES NEGRAS”, DIZ TRECHO DO MANIFESTO DESTA EDIÇÃO DISTRIBUÍDO AMPLAMENTE E PROCLAMADO DURANTE O EVENTO. 

A 8ª edição da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo ocorreu na última terça-feira, dia 25, e marca a Celebração ao Dia Internacional da Mulher Afro Latino-Americana e Caribenha e ao Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, data instituída em 2014 em mulheragem à Tereza de Benguela, líder quilombola símbolo da luta por liberdade de pessoas escravizadas no século XVI. 

Neste ano, a Marcha teve como pauta a democracia no Brasil e a luta antirracista e antifacista, além de ecoar os pedidos por justiça para o caso de Marielle Franco, cuja investigação teve importantes movimentações recentemente, e de Luana Barbosa, mulher negra, lésbica, mãe e periférica, morta aos 34 anos após três policiais militares a espancarem na esquina de sua casa, no bairro Jardim Paiva II, zona Norte de Ribeirão Preto (SP).

A Marcha

Cintia Gomes, integrante da organização da Marcha das Mulheres Negras, lembra que o movimento se iniciou em 2015, quando cerca de 50 mil mulheres organizaram ida para Brasília, onde marcharam contra condições de violência, disparidade salarial e desigualdade no acesso a serviços públicos. “Aqui em São Paulo a gente está na oitava edição, mas é claro que a luta das mulheres negras é muito anterior a isso”, ressalta.

A concentração da Marcha deste ano ocorreu na Praça da República, na região central de São Paulo. Palco e sistema de sons montados foram viabilizados pela vereadora Luana Alves (Psol). A estrutura contribuiu para chamar a atenção das pessoas que passavam pela região. Após uma série de discursos de acolhida e fortalecimento de mulheres negras feitos por diversas representatividades seguidos de apresentações artísticas e culturais, o bloco com centenas de mulheres marchou até a Biblioteca Municipal Mário de Andrade. 

No trajeto, os gritos e cartazes reivindicavam por direitos, pelo fim de todas as formas de opressão, pelo fim do genocídio do povo preto, dos povos indígenas, dus LGBTQIA+, das vítimas dos feminicídios e pelo bem viver.

“A marcha é um momento de várias coisas. De a gente celebrar a nossa existência, o nosso modo de viver, de ser alegre e superar os desafios e problemas que a gente tem, mas também é o momento da gente se indignar, denunciar e ir para as ruas dizer o que tá errado e qual que é o nosso projeto de mundo”, conta Cintia.

Cristiane Oladey, poetisa e assistente social, foi uma das pessoas responsáveis pela panfletagem do manifesto que pode ser lido na íntegra aqui. Participante da Marcha desde 2016, ela conta que o que a motiva estar presente é a esperança pela justiça social e reparação histórica. “Estou aqui na luta por toda violência que meu povo passou, e sempre vamos ter que reivindicar direitos para que haja uma real equidade no Brasil, porque o culto cultural, intelectual e da força de trabalho ainda nos deixa em desvantagem em relação aqueles que nos usurparam”, desabafa.

 

Atualizações do caso Marielle

Durante a última semana, pudemos acompanhar a evolução da investigação de um caso mundialmente conhecido: o assassinato de Marielle Franco, ex-vereadora alvejada por milicianos no Rio de Janeiro. O ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, motorista do Cobalt prata utilizado no atentado e preso desde 2019, fez acordo de delação premiada onde, dentre outras informações relevantes, apontou o também ex-policial militar Ronie Lessa como o autor dos disparos. A partir daí, os gritos por justiça se amplificaram e a pergunta passou a ser: quem foram os mandantes do crime?

As movimentações, é claro, mexeram com o brio das manifestantes, uma vez que os fatos recentes se interligam diretamente ao tema da marcha neste ano, que foi  “Mulheres negras em marcha por um Brasil com democracia. Sem racismo, sem violência, sem anistia para os fascistas. Justiça por Marielle e por Luana Barbosa, por nós, por todas nós, pelo bem viver”.

“Nós já estávamos conectadas com isso, e com esperança de que agora com esse novo governo, que enfim se chegue ao final dessa investigação, né? E que a verdade seja descoberta. Cada novo fato é muito doloroso, mas também renova a nossa esperança de que a gente chegue nesse objetivo”, avalia Cintia Gomes.

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Ponto alto da programação do Julho das Pretas, a 8ª Marcha aponta as prioridades de mudanças ainda necessárias e resgata a luta histórica das mulheres negras no Brasil

Por André Santos. Fotos de Vitori Jumapili. Edição de texto: Aline Rodrigues. Artes: Rafael Cristiano. Distribuição: Vênuz Capel

“ESTAMOS EM MARCHA PARA QUE NOSSAS VOZES SEJAM OUVIDAS E NOSSOS DIREITOS SEJAM GARANTIDOS. PELO DIREITO DE VIVER COM ALEGRIA, DIGNIDADE E PRAZER. AFIRMAMOS QUE NADA, SOBRETUDO A DEMOCRACIA BRASILEIRA, SERÁ FEITA SEM NÓS, MULHERES NEGRAS”, DIZ TRECHO DO MANIFESTO DESTA EDIÇÃO DISTRIBUÍDO AMPLAMENTE E PROCLAMADO DURANTE O EVENTO. 

A 8ª edição da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo ocorreu na última terça-feira, dia 25, e marca a Celebração ao Dia Internacional da Mulher Afro Latino-Americana e Caribenha e ao Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, data instituída em 2014 em mulheragem à Tereza de Benguela, líder quilombola símbolo da luta por liberdade de pessoas escravizadas no século XVI. 

Neste ano, a Marcha teve como pauta a democracia no Brasil e a luta antirracista e antifacista, além de ecoar os pedidos por justiça para o caso de Marielle Franco, cuja investigação teve importantes movimentações recentemente, e de Luana Barbosa, mulher negra, lésbica, mãe e periférica, morta aos 34 anos após três policiais militares a espancarem na esquina de sua casa, no bairro Jardim Paiva II, zona Norte de Ribeirão Preto (SP).

A Marcha

Cintia Gomes, integrante da organização da Marcha das Mulheres Negras, lembra que o movimento se iniciou em 2015, quando cerca de 50 mil mulheres organizaram ida para Brasília, onde marcharam contra condições de violência, disparidade salarial e desigualdade no acesso a serviços públicos. “Aqui em São Paulo a gente está na oitava edição, mas é claro que a luta das mulheres negras é muito anterior a isso”, ressalta.

A concentração da Marcha deste ano ocorreu na Praça da República, na região central de São Paulo. Palco e sistema de sons montados foram viabilizados pela vereadora Luana Alves (Psol). A estrutura contribuiu para chamar a atenção das pessoas que passavam pela região. Após uma série de discursos de acolhida e fortalecimento de mulheres negras feitos por diversas representatividades seguidos de apresentações artísticas e culturais, o bloco com centenas de mulheres marchou até a Biblioteca Municipal Mário de Andrade. 

No trajeto, os gritos e cartazes reivindicavam por direitos, pelo fim de todas as formas de opressão, pelo fim do genocídio do povo preto, dos povos indígenas, dus LGBTQIA+, das vítimas dos feminicídios e pelo bem viver.

“A marcha é um momento de várias coisas. De a gente celebrar a nossa existência, o nosso modo de viver, de ser alegre e superar os desafios e problemas que a gente tem, mas também é o momento da gente se indignar, denunciar e ir para as ruas dizer o que tá errado e qual que é o nosso projeto de mundo”, conta Cintia.

Cristiane Oladey, poetisa e assistente social, foi uma das pessoas responsáveis pela panfletagem do manifesto que pode ser lido na íntegra aqui. Participante da Marcha desde 2016, ela conta que o que a motiva estar presente é a esperança pela justiça social e reparação histórica. “Estou aqui na luta por toda violência que meu povo passou, e sempre vamos ter que reivindicar direitos para que haja uma real equidade no Brasil, porque o culto cultural, intelectual e da força de trabalho ainda nos deixa em desvantagem em relação aqueles que nos usurparam”, desabafa.

 

Atualizações do caso Marielle

Durante a última semana, pudemos acompanhar a evolução da investigação de um caso mundialmente conhecido: o assassinato de Marielle Franco, ex-vereadora alvejada por milicianos no Rio de Janeiro. O ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, motorista do Cobalt prata utilizado no atentado e preso desde 2019, fez acordo de delação premiada onde, dentre outras informações relevantes, apontou o também ex-policial militar Ronie Lessa como o autor dos disparos. A partir daí, os gritos por justiça se amplificaram e a pergunta passou a ser: quem foram os mandantes do crime?

As movimentações, é claro, mexeram com o brio das manifestantes, uma vez que os fatos recentes se interligam diretamente ao tema da marcha neste ano, que foi  “Mulheres negras em marcha por um Brasil com democracia. Sem racismo, sem violência, sem anistia para os fascistas. Justiça por Marielle e por Luana Barbosa, por nós, por todas nós, pelo bem viver”.

“Nós já estávamos conectadas com isso, e com esperança de que agora com esse novo governo, que enfim se chegue ao final dessa investigação, né? E que a verdade seja descoberta. Cada novo fato é muito doloroso, mas também renova a nossa esperança de que a gente chegue nesse objetivo”, avalia Cintia Gomes.

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