Por Thiago Borges. Foto em destaque: Pedro Ariel Salvador
Negros, jovens e em aglomeração. Os bairros periféricos destoam da média da maior cidade do País. É neles que se concentra o maior número de famílias em favelas, em comparação aos territórios centrais e mais ricos, além da distância aos postos de trabalho formal.
Essa diferença impacta inclusive na idade média ao morrer, que chega a mais de 21 anos: enquanto uma pessoa do Jardim Paulista (zona Oeste) vive em média até os 80 anos, no Iguatemi (Extremo Leste), ela chega aos 59,3 anos. A média da cidade é de 68,1 anos, bem acima do identificado em outras quebradas, Cidade Tiradentes (59,4 anos), São Rafael e Jardim Ângela (59,8), Grajaú (60,4), Guaianases (61,2), Lajeado e Anhanguera (61,5).
É o que revela o Mapa da Desigualdade 2021, divulgado nesta quarta-feira (23/22) pela Rede Nossa São Paulo. Publicado desde 2012, o levantamento apresenta dados sobre os 96 distritos da capital paulista utilizando fontes públicas e oficiais sobre população, meio ambiente, mobilidade, direitos humanos, habitação, saúde, educação, cultura, esporte, infraestrutura e trabalho e renda. Clique aqui para baixar o mapa e aqui para baixar as tabelas.
Em 2021, o pior ano da pandemia covid-19, também é nas quebradas em que a doença causada pelo coronavírus fez mais vítimas. A doença foi responsável por 24,6% dos óbitos registrados na capital paulista no ano passado, mas esse índice sobe para 30,8% no Jaguará (zona Oeste), 30,2% em Perus (Noroeste), 29,3% em Sapopemba e 29% em José Bonifácio (ambos na zona Leste).
Quem vive nas periferias?
Enquanto 37,1% da população paulistana se autodeclara preta ou parda, o índice vai a 60,1% no Jardim Ângela. O distrito na zona Sul da capital tem o maior percentual de pessoas negras do município e contrasta com o menos negro, que é o distrito rico de Moema, com 5,8% da população assim autodeclarada.
O número de pessoas pretas ou pardas é maior ou igual à média do município em outros 36 distritos da cidade, sendo que apenas a Sé (38,3%) fica na região central.
Com 392.734 habitantes, o Grajaú (Extremo Sul) continua sendo o mais populoso da cidade. Também é o segundo distrito mais negro, com 56,8% da população autodeclarada preta ou parda, que também é maioria em Parelheiros (56,6%), Lajeado (56,2%), Cidade Tiradente (56,1%), Itaim Paulista (54,8%), Jardim Helena (54,7%), Capão Redondo (53,9%), Pedreira (52,4%), Guaianases (51,5%), Jardim São Luís (51,3%), Vila Curuçá (51,2%), Iguatemi (50,9%), Brasilândia (50,6%), Anhanguera (50,3%) e Cidade Ademar (50%).
A população jovem também é maior nas margens da cidade. Quase metade (49,4%) da população de Parelheiros tem entre 0 e 29 anos – e 11,6% tem até 6 anos, apenas.
Na média da cidade, 39,9% da população é jovem, mas esse número é maior em 40 distritos. Cidade Tiradentes (48,5%), Iguatemi (48,1%), Lajeado e Jardim Ângela (47,8%), Grajaú (47,3%), Jardim Helena e Brasilândia (47,2%), Perus (47,1%)e Guaianases (46,6%) têm a maior concentração.
Aglomerada, desconectada e distante do trampo
Enquanto 9,4% da população da cidade vive em favelas, na Vila Andrade (onde está localizada Paraisópolis) esse índice atinge 32,7%. Na Brasilândia, chega a 25,1%. E no Sacomã, que contempla Heliópolis, 23,7% da população do distrito.
A média de distribuição de antenas de internet móvel na cidade chega a 4 por quilômetro quadrado, mas isso é muito maior no Itaim Bibi (49,3), enquanto o com menor acesso é Marsilac (apenas 0,02). Já por população, o número de antenas no Itaim Bibi chega a 50,9 para cada 10 mil habitantes, contra menos de 1 (0,88) por 10 mil habitantes no Jardim Helena (zona Leste).
A oferta de emprego formal é maior no Centro: a Barra Funda tem 67 vagas com carteira assinada para cada 10 habitantes do distrito, contra 0,3 vagas por 10 habitantes em Cidade Tiradentes (zona Leste).
Isso significa que um contingente maior de pessoas precisa se deslocar diariamente para conseguir trabalhar em um emprego formal, o que nem sempre é fácil. Afinal, o tempo de deslocamento também é maior para quem vive nas periferias.
O tempo médio gasto no transporte público no horário de pico da manhã chega a 73 minutos por dia para quem mora em Marsilac (no Extremo Sul), 69 em Cidade Tiradentes, 66 em Parelheiros e 64 minutos diários em Perus ou no Grajaú. Quem vive em Pinheiros gasta apenas 25 minutos por dia, em média, assim como residentes da Barra Funda, Bom Retiro, República, Pari e Sé (27 minutos). A média paulistana é de 42 minutos por dia.
Thiago Borges, Pedro Salvador