-“Somos mal tratados na área da saúde. Pedimos, por favor, para que as pessoas que nos recepcionam sejam preparadas”. – empresário boliviano que atua no ramo da costura.
-“Queria pedir uma política pública na área da educação. Milhares de jovens bolivianos que deviam estar se qualificando profissionalmente estão trabalhando em oficinas de costura”. – imigrante bolivana.
-“Quero trazer à tona o descaso aos filhos de imigrantes que têm seus sintomas subvalorizados [no atendimento à saúde]. (…) Acho que falta a capacitação a respeito disso, principalmente na área hospitalar”. – imigrante andina que trabalha em uma unidade básica de saúde.
– “Queremos destacar um pouco mais a cultura paraguaia e integrar com bolivianos, peruanos e brasileiros e ter mais participação política. Esperamos que nas zonas periféricas também sejamos atendidos, não só quem está no centro”. – imigrante paraguaia
Os pedidos acima foram feitos em 2013, durante encontro da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) da prefeitura de São Paulo com imigrantes que vivem na cidade. A origem dos participantes revela que a nova face da imigração na capital paulista é majoritariamente sul-americana.
Segundo os dados do Sistema Nacional de Cadastramento e Registro de Estrangeiros (Sincre), atualmente o Brasil tem 1 milhão de imigrantes vivendo em seu território. Cerca de 370.000 vivem na capital paulista com situação regularizada – 109.000 são de países da América do Sul. Porém, considerando os que estão em situação irregular, estima-se que apenas a comunidade boliviana seja formada por mais de 300.000 imigrantes.
“Efetivamente existe uma marginalização de cidadãos estrangeiros, fundamentalmente de países que comportam o Mercosul, e dentro deles se destacam bolivianos, peruanos, colombianos, paraguaios e alguns chilenos”, aponta o advogado peruano Grover Calderón, que está há 15 anos por aqui e é presidente da Associação Nacional de Estrangeiros e Imigrantes no Brasil (Aneib).
Mas a Babel paulistana também é negra: seja por conta dos imigrantes do Haiti, aqui no nosso continente, ou de países da África, como Angola, Moçambique, Congo, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, que desembarcam nas duas últimas décadas.
Latinos ou africanos, os novos imigrantes ajudam a compor o caldeirão cultural que é a cidade de São Paulo, assim como os outros povos que aqui desembarcam desde meados do século 19. A diferença é que os que chegaram a menos tempo vêm de países economicamente mais pobres, considerados “periféricos” em relação ao Brasil.
Ondas imigratórias
Além dos colonizadores portugueses, que invadiram o País em 1500 e “fundaram” a vila em 1554, São Paulo começou a vivenciar ondas imigratórias no século 19. Na década de 1820, os primeiros alemães chegaram à cidade para viver onde hoje é o bairro Colônia Paulista, no Extremo Sul da cidade.
Entre 1871 e 1930, o Brasil recebeu mais de 4 milhões de imigrantes, sendo que 60% se fixaram no estado de São Paulo – a maioria deles, italianos, espanhóis e portugueses. O movimento fazia parte da política governamental de “embranquecimento” da população brasileira, então composta majoritariamente por negros, indígenas e mestiços.
Entre 1910 e 1920, chegaram sírios, libaneses, judeus e japoneses. De 1930 a 1990, mais de meio milhão de estrangeiros vieram para o Brasil, incluindo oriundos do leste europeu, coreanos e os primeiros latinoamericanos. Nos últimos 20 anos, africanos começaram a desembarcar. E, nos últimos anos, haitianos estão chegando em busca de oportunidades de trabalho e fugindo da situação de miséria do país caribenho, que piorou após o terremoto de janeiro de 2010.
PRÓXIMA REPORTAGEM: Como “escravos da moda” ou “mulas do tráfico”, imigrantes procuram o Brasil para ganhar dinheiro. Clique abaixo para ler todas as reportagens da série:
Thiago Borges