Distantes do centro – e dos olhos do poder público – os bairros periféricos acumulam ao longo dos anos problemas de todos os tipos. Falta infraestrutura, saúde, educação e segurança, além da pobreza que os assola. Esses fatores contribuíram para mitificar a periferia como um local onde só aqui coisa ruim, anulando todo o resto. É o que conclui o antropólogo Alexandre Barbosa, do Núcleo de Antropologia Urbana da USP, durante o primeiro debate do projeto Periferia em Movimento, que aconteceu no sábado (26/07).
Com o tema “Mano sim, com muito orgulho!”, o debate realizado no CEU Navegantes, Grajaú, discutiu a periferia por diversos pontos de vista – o que se diz, o que se vê e o que se vislumbra para ela. Além de Alexandre, participaram da mesa debatedora o rapper Banndog e a professora Dora Torres, uma das coordenadoras da Imprensa Jovem da EMEF Teodomiro Toledo Piza.
A plateia presente também participou da discussão contando casos do dia a dia. Rodrigo, que mora no Parque Residencial Cocaia, diz que é ‘zuado’ no serviço porque mora no ‘fim do mundo’ e chega de galocha no trabalho, com os pés sujos de barro’. Já Fernanda, do Jardim Gaivotas, aponta que as pessoas de for a se surpreendem com o tempo de viagem de casa para o local de trabalho e quando ela diz que não sente violência no Grajaú respondem falando que ‘está acostumada’.
Banndog ressalta que o “povo da periferia quer realizar em tudo, assim como o do centro”. Dora, que fez parte da mesa debatedora, relata que quando chegou à EMEF Teodomiro se desesperou e se arrependeu profundamente. A escola é rodeada por um morro ocupado irregularmente. Hoje, ela pensa diferente: “Fiquei apaixonada pelo lugar e não consigo ir embora”. Para Alexandre, quem contribui para a mudança dessa imagem distorcida são os próprios moradores e as ações que eles desempenham em suas comunidades. Paulo, ator amador e morador do Jardim Gaivotas, concorda e diz que é preciso mobilizar para mudar a mentalidade da sociedade. “Por que a Atento não abre um call center aqui?”, questiona.
Uma das formas que encontrou de valorizar o espaço e mostrar um lado diferente da região foi a criação da Imprensa Jovem, um projeto da prefeitura em que jovens estudantes da rede municipal desempenham o papel de jornalistas-mirins e alimentam blogs com textos, vídeos e podcasts. Alguns dos pupilos de Dora estiveram no CEU Navegantes e participaram cobrindo o evento e fazendo perguntas aos participantes.
Ainda há o que melhorar, entretanto. O grupo de dança Expressão Rítmica, formado por ex-alunos do Circo Escola Grajaú, apresentou uma coreografia country e também foi sabatinado no palco. E reclamaram: falta espaço para ensaiar e em muitos casos o encontro tem de ser marcado na casa de um dos integrantes.
Bastidores
Alexandre diz que é preciso se mobilizar. Já o professor Christian, que veio do Campo Limpo para assistir ao debate, aponta que talvez até existam espaços e o que falta é maior divulgação para o público tomar conhecimento da estrutura.
A plateia recebeu de presente uma cópia do documentário “Grajaú na construção da Paz”. No final do evento, houve sorteio de brindes como DVDs do Criolo Doido e livros de Ferréz. A cobertura aconteceu em tempo real, via twitter. O próximo encontro está marcado para o dia 17 de julho. Aguardem informações.
Redação PEM