Idosos proclamam independência na era digital

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Por Aline Rodrigues (texto e fotos)

Uma mudança social que tem contribuído com o isolamento de alguns idosos é a revolução das tecnologias e, por consequência, dos meios de comunicação, que criam para a mente dos mais jovens a sensação de que os valores e saberes antigos são obsoletos e até indesejáveis.

E os idosos, por representarem esses conhecimentos, sofrem com esse preconceito presente em diferentes classes econômicas e sociais.

Exemplo de quem luta para mudar essa imagem e dar mais espaço de atuação na era da comunicação digital é Tony Bernstein, 47 anos, coordenadora geral e idealizadora do site Portal 3ª Idade.

Muitos idosos ainda estão à margem da sociedade, mas quando damos espaço de atuação, eles surpreendem e se mostram capazes de muitas coisas”, conta Tony.

12032014PortalterceiraidadeSão mais de 40 mil cadastrados no site, que ultrapassou a marca de 8 milhões de acessos feitos de vários cantos do país. Independente do local de origem, a também jornalista afirma que “recebemos e-mails muito bem escritos, eles enviam perguntas pertinentes e críticas, querem fazer alguma atividade, participar de um grupo de sua região ou pedir informações sobre seus direitos”.

O portal, criado em 2006, tem um acesso expressivo de moradores das periferias. Isso porque foi pensado com base na presença frequente dos idosos nos Telecentros da cidade de São Paulo. Apesar do interesse, esse público não tinha muita familiaridade com o computador. Então, com a capacitação básica em informática, o Portal 3ª Idade chegou a eles nesses locais de acesso gratuito à internet.

Tony diz que se surpreende com o bom resultado do site “Eles dizem que antes de fazer os cursos de informática estavam deprimidos, sem nenhuma atividade, mas depois que aprenderam como mexer no computador e conheceram o nosso portal muita coisa mudou na rotina”.

Maria Luiza Dias Lopes, 61 anos, desde 2005 atua nos Telecentros da zona Sul e hoje é supervisora da unidade do CEU Casa Blanca, na região do Campo Limpo. Ela confirma que o maior público sempre foi o idoso. Inclusive, até pouco tempo o Portal da 3ª Idade era divulgado pela própria Prefeitura, em seu site.

Eles vêm sem saber nada. Às vezes nem têm computador em casa e quando têm, netos e filhos não têm muita paciência para ensinar”, diz Maria Luiza, que gosta de trabalhar com essas pessoas. “Eles são mais dedicados. É difícil faltarem e, quando acabam, geralmente mantêm contato. Fazem visita, mandam e-mail.” Já os jovens é mais difícil ensinar, “eles acham que já sabem tudo”.

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Às vezes eu quero ver o resultado da Mega Sena, saber das notícias, ver o que aconteceu com a conta de luz que não chegou e eu sempre preciso de ajuda. Quero ser independente, por isso vim fazer o curso”, conta Efigênia Helena Teixeira Martins, 66 anos, que está concluindo o curso de um mês no Telecentro do CEU Casa Blanca.

12032014IdososEvanirNo caso de Evanir Rocha Correia, 79 anos, um amigo a convenceu de fazer as aulas no mesmo Telecentro e até a presenteou com um computador. Eu estava muito jogada dentro de casa sem ligar pra nada, mas aí resolvi começar as aulas de informática e a hidroginástica”diz ela, que concluirá o curso pela segunda vez. A baiana que há mais de 50 anos mora na cidade reconhece as dificuldades, mas está animada com os novos aprendizados. “A cabeça não é a mesma das crianças, mas eu estou aprendendo. Eu não conseguia mexer nas teclas, colocar ponto e vírgula nos textos. Agora sei”.

PRÓXIMA REPORTAGEM: Contra o idoso existe não só a violência física, mas a financeira e moral

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