Foto em destaque: Joseh Sillva
É preciso olhar com mais cuidado e respeito para uma população que em 2013 chegou a 14,9 milhões no país. São os idosos, que somam 7,4% do total da população brasileira, de acordo com o IBGE.
Porém, o futuro traz um alerta ainda maior. Pessoas com mais de 60 anos serão 26,7% do total da população brasileira. Até 2060, eles chegarão ao número de 58,4 milhões.
E trata-se de um grupo plural, com necessidades das mais variáveis. Muitos inclusive, apesar de chegarem à idade que define idoso, não se consideram velhos e procuram aproveitar a vida.
Efigênia Helena Teixeira Martins, de 66 anos, é um exemplo. Moradora da região do Campo Limpo, ela mantém no mesmo terreno de sua casa um barzinho que funciona somente aos finais de semana. “Lá no meu bar eu recebo sempre as amigas para tomar uma cerveja, ouvir uma música”, conta.
Célia Maria Barros Almeida, 53 anos, diz nem se preocupar com a idade que está chegando. “Para mim a idade não importa. Eu me sinto plenamente realizada e não me acho velha. Sou cabeça aberta e quero aprender sempre”. Ela completa dizendo que separar as pessoas por idade é uma bobagem, porque “tem velho com a mentalidade de uma pessoa de 15 anos jovens já com a cabeça de velho.”
Na cidade de São Paulos, há distritos de elite em que os idosos já superam o total de crianças até 14 anos, como Alto de Pinheiros (23%) e Lapa (22%). No outro extremo, estão bairros periféricos como Parelheiros (6,2%) e Cidade Tiradentes (6%).
No centro ou na periferia, entretanto, os idosos continuam à margem da margem e isso se deve à percepção que se tem sobre a terceira idade.
“Os idosos só estão em um processo mais avançado do que o nosso. E é só isso”. Para a assistente social e terapeuta de família, Maria Iannarelli, é um equívoco tratar o idoso como alguém diferente dos demais. Eis o principal ponto que, para ela, desencadeia diversas ações simplificadas. Por exemplo, para a terapeuta “a infantilização do idoso, adotada por muitas famílias, é uma maneira de lidar melhor com a situação, porque as pessoas sabem mais interagir com a criança”.
Claro que, ao avançar dos anos, a saúde é colocada a prova e cuidados a mais são necessários, mas daí desconsiderar toda sua trajetória até o presente, para ela, é um desrespeito. Talvez por isso muitos gostem de contar suas histórias para mostrar que nem sempre foram tão dependentes e agem, pensam e são bem diferentes de quando eram crianças.
Por parte do poder público, o que se cobra e espera são mais políticas públicas que vão além e considerem a complexidade e a diversidade que se tem nesse grupo. Leia mais aqui.
Chegar a uma certa idade não só garante alguns benefícios como andar de transporte público de graça, pagar meia em eventos culturais e “facilidades” em empréstimos e financiamentos. Envelhecer também vem junto com outra realidade como mais idas ao médico, dificuldades de locomoção e quando conseguem se aposentar e não precisam continuar trabalhando começa a reflexão sobre o que fazer com seu tempo livre.
Alguns serviços, por parte do governo, são especialmente direcionados para o idoso, como é o caso das Unidades de Referência à Saúde do Idoso, o Centro de Referência da Cidadania do Idoso (Creci) e o Centro de Acolhida Especial para Idosos. Mas todos esses espaços não conseguem atender toda a demanda da terceira idade que vive na metrópole. Por exemplo, o Núcleo de Convivência do Idoso (NCI) que acaba funcionando muito mais nas mãos dos próprios beneficiários do que nas da prefeitura.
É o caso do NCI Vida Ativa, do Jardim Lídia. “Algumas mulheres doam os artesanatos [feitos por elas nas oficinas] para a venda, o dinheiro ajuda a pagar o aluguel do NCI”, diz Maria Valdeci, 67 anos, que é oficineira do núcleo.
Causa e consequência
Algumas mudanças na sociedade contribuíram com a referência de idoso na cabeça das pessoas e no direcionamento de políticas públicas para os cidadãos com mais de 60 anos. No livro “O Século da Terceira Idade”, publicado pelo Sesc São Paulo, algumas possíveis causas são levantadas.
Nas novas estruturas familiares, menores e mais maleáveis, os integrantes de idade mais avançada perdem o espaço de figura central e passam a assumir papéis periféricos.
“O aumento da escolarização de crianças e adolescentes, o mundo adulto do trabalho e do mercado, a ‘invenção’ da aposentadoria, a comunicação globalizada, o consumo e outros fatores socioeconômicos criaram espaços exclusivos para cada geração”. Nesse cenário, desvaloriza-se a velhice pela “suposta incapacitação física” e valoriza-se a juventude com base em sua adequação às necessidades do mercado.
Mas existem muitas pessoas empenhadas em desmistificar algumas das definições do que é ser idoso. Nas periferias e fora delas, temos cidadãos acima de 60 anos em funções diversas no mercado formal e informal de trabalho, atletas, educadores dentro e fora da escola, líderes comunitários, avôs e avós que cuidam e seus netos e netas enquanto seus pais trabalham.
PRÓXIMA REPORTAGEM: Na era da internet, idosos proclamam sua independência on-line.
Aline Rodrigues