Por André Santos. Edição: Thiago Borges. Arte: Rafael Cristiano
“As propostas que estamos defendendo são direitos trabalhistas para que a gente consiga o mínimo para a sobrevivência. Se você não tem o mínimo, você passa por uma sobrecarga. Então, a gente não consegue acompanhar o trabalho básico”.
A fala acima é de Vivian Cardoso, 36 anos, moradora de Pirituba (zona Norte) e que está em greve. Há 6 anos, ela é professora da rede municipal de ensino de São Paulo e sente na pele a desvalorização profissional que impacta diretamente na saúde de quem está na sala de aula – por vezes, sem condições físicas e principalmente mentais para o pleno exercício da função.
“Imagina ser um trabalhador sem direitos? A gente não rende. E se não conseguimos render, como vamos entregar um bom trabalho exaustos, doentes, sendo obrigados a dobrar a jornada pra manter as contas da casa? O básico não nos é garantido”, diz Vivian.
Por isso, na última sexta-feira (8/3), Vivian e centenas de profissionais da educação cruzaram os braços e estiveram em frente à Prefeitura de São Paulo para a realização de uma assembleia convocada por sindicatos da categoria, como Sinpeem e Sedin. Outras carreiras do funcionalismo municipal também participaram.
A gestão Nunes ofereceu reajuste salarial de 2,16%, a categoria não aceitou e está em estado de greve por tempo indeterminado. As entidades reivindicam a incorporação de 39% em todos os vencimentos, tanto de trabalhadores ativos ou pensionistas.
Uma nova paralisação de todo o funcionalismo municipal com indicativo de greve por tempo indeterminado está prevista para esta quarta-feira (13/3), com ato às 14h novamente em frente à Prefeitura.
Outras demandas são o fim do confisco previdenciário, contra a política salarial por subsídio, a favor do aumento dos valores dos pisos de docentes e profissionais da gestão e quadro de apoio das escolas, além de melhores condições gerais de trabalho.
“O servidor público evita a greve ao máximo. Entendemos o dano que isso traz à população porque também somos usuários do serviço público. A paralisação é uma estratégia para juntar pessoas e pressionar o prefeito para que ele avalie nossas propostas. A ideia é fazermos essa pressão com grande volume, paralisarmos para mostrar nosso poder de negociação para que assim o prefeito traga uma proposta melhor. Infelizmente, se o diálogo não funciona, temos outros meios”, explica Vivian.
Sucateamento
Segundo o livro “Precarização, Adoecimento e Caminhos para a Mudança. Trabalho e saúde dos Professores”, da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho), ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego, o sucateamento da educação se manifesta a partir de um alto número afastamento de profissionais devido a questões de saúde, como síndrome de burnout, estresse e depressão além de distúrbios de voz e lesões nos músculos, tendões ou articulações.
Para Vilson Antonio Fiorentin, 51, professor de história no Jardim Líbano (zona Noroeste) desde outubro de 2023, a falta de condições ideais impactam diretamente na qualidade da educação pública. Ele conta que as longas jornadas impossibilitam que haja tempo hábil de preparar as aulas da melhor maneira e as salas superlotadas prejudicam o acompanhamento de estudantes.
“Existem professores que chegam à escola às 7h da manhã e saem às 20h30, com dupla jornada mais projetos para poder se sustentar. A questão salarial é muito importante, pois está levando boa parte dos professores a adoecerem pela questão da jornada”, conta.
Atualmente, a rede municipal de ensino de São Paulo tem 4.125 unidades educacionais (entre creches e escolas) e mais de 52 mil profissionais que atendem quase 1,3 milhão de estudantes na cidade.
Os sindicatos também denunciam a proposta de reestruturação dos planos de carreira do magistério, tocada pela gestão de Ricardo Nunes (MDB), por meio da Secretaria Municipal de Educação em parceria com o Instituto Península. A conclusão e entrega do diagnóstico por parte da gestão municipal estão previstas para este mês.
Segundo a professora Vivian Cardoso, o Instituto Península não sentou para conversar com representantes da classe trabalhadora.
“Vai ser uma caixinha de surpresas. Como uma empresa que não está conversando nem com os trabalhadores e nem com o sindicato vai chegar com uma proposta que é satisfatória para todos? Ainda mais uma proposta que está em sigilo pra todo mundo, pra população, vereadores, sindicato… então, como a gente pode abrir esse debate? Isso não é justo. O que está sendo discutido é nosso setor, nossa carreira”, diz Vivian.
André Santos, Thiago Borges, Rafael Cristiano
18 Comentários
É uma pouca vergonha oque fazem com os professores!
SEI NÃO HEIN! FUI NO ESTACIONAMENTO DE UMA ESCOLA ONDE OS PROFESSORES ESTÃO EM GREVE E O CARRO QUE VI MAIS VELHO CREIO SER ANO 2021!
E só por ser professor não pode ter um carro descente? Francamente nhé e outra você não sabe que eles podem trabalhar em mais de uma escola? Se informe melhor ao invés de ser fiscal de estacionamento de escola.
Se os professores estão em greve, como vc viu o carro deles no estacionamento? 🤔
É importante a manifestação dos professores diante da desqualificação sistemática da educação por parte dos governantes desta cidade e deste estado
Concordo!!!
Como podemos trabalhar e dar o melhor para a sociedade, se trabalhamos em meio a obras( excesso de barulho, poeira, devido as obras irresponsável do nosso prefeito). Sem garantia de que iremos nos aposentar? Sem um hospital digno para nós tratar? Juntamente com a violência que ronda nossas escolas? Difícil!
Com certeza é uma greve política, em apoio ao esquerdista Guilherme Boulos.Entendo que são maus remunerados,mas a qualidade atual do ensino também decaiu substancialmente!!!
Desse quando me conheço por gente e só reclamação
Então se já sabe que é assim porq não procura outra profissão ou já que ama tanto ser professora vai dar aula em escola particular
Essa palhaçada todo ano de paralisação sabe quantas mães de família são prejudicadas
Professores tem todos os direitos garantidos e nos mães temos que nos virá para arrumar alguém de última hora para cuidar das crianças pagar por fora e muita das vezes não podendo trabalhar
Revoltada
Se todos os direitos estivessem garantidos como vc diz, não precisariam paralisar. Aí dia 15 de outubro vem com discursinho que o professor precisa de valorização. 🙄
O direito de manifestarem é válido, lutar por salário melhor, por estrutura melhor de trabalho, pelo material aplicado e pelo alimento fornecido aos pequenos, tudo isto é válido.
Porém o direito do professor (obrigados pelo sindicato) a entrar em greve, não deve ultrapassar o meu direito de levar o pão nosso de cada dia para os meus filhos, e minha esposa.
Simplesmente paralisando, vocês colocam empregos de mães e pais em jogo, essas mães que em alguns casos ganham menos que vocês professores, as vezes até mesmo abaixo do salário mínimo.
Por favor revejam isto, e pensam um pouco mais nos outros.
Obrigado.
Essa sua fala deveria ser direcionada ao prefeito! Com dinheiro em caixa e com aumento de 46% no seu salário! Ele que precisa repensar o que está fazendo com a educação! Estudamos, prestamos um concurso que não é fácil. Merecemos o mínimo de valorização e boas condições de trabalho. Os professores estão adoecendo! O que adianta abrir a escola e o professor não conseguir dar uma boa aula, com uma sala lotada, com deficientes, sem estrutura e suporte?
A chance de uma educação de qualidade acaba justamente em comentários como o seu. A escola não existe para exercer o papel de CUIDADOR DE CRIANÇAS. Escola é espaço para transmissão de conhecimento e ponto final. O papel de cuidador compete à família e a profissões próprias para isso, e DOCENTE não é uma delas. A desvalorização e sucateamento da educação no Brasil começa quando você enxerga a escola como um depósito de crianças para que vocês, “responsáveis” por elas, possam tocar suas vidas. Professores não são babás. Escola não é centro de recreação.
Queremos tbm que melhore tudo na educaçao as pessoas tem direito de estudar em uma escola de qualidade não pode ser um deposito de adolescente e crianças.
Sou diretora de escola aposentada. Adoeci na educação e vi muitos professores e funcionários adoecerem. O salário não compete com outros setores com curso superior do mercado, a jornada é desgastante. É só pensar que como pais muitas vezes é difícil cuidar de um filho e o professor cuida de mais de 30 crianças, por 6, 8 horas seguidas, cada uma com suas necessidades específicas, suas vontades, seus problemas familiares. Esse país não respeita o professor, como a população vai ter educação? Professor tem que ganhar bem, para ter pelo menos ânimo de ensinar bem, já que não é nada fácil!
Vergonha desse País com esses poli ticos ladrões e sem pudor com a população, só pensam neles o resto é resto está na hora de mudar tudo.
Concordo plenamente, os professores merecem boas condições de trabalho e jornadas menores e salários maiores!! A população só sabe criticar. A escola não é deposito de crianças, os pais tem que ter a responsabilidade sobre seus filhos, porque todos têm direitos de reivindicar seus direitos!! Isso mesmo professores continuem as paralisações até que sejam cumpridas todas as necessidades básicas de um funcionário que merece respeito!!!
Acho que a greve seja válida, todos têm o direito de ter condições de trabalhar e devem lutar por isso.
Porém é um absurdo que crianças fiquem há quase 3 semanas sem aula. A maioria dos pais trabalham e não tem com quem deixar, as crianças ficam entediadas em casa e o aprendizado é prejudicado.
Acredito que devemos levar em considerção todos os lados envolvidos.