Com divulgação boca a boca, ocupação cultural atrai vizinhança para festival literário na zona Leste de SP

Com divulgação boca a boca, ocupação cultural atrai vizinhança para festival literário na zona Leste de SP

Realizada na Cidade Patriarca, primeira edição do Floc contou com programação variada, lançamentos de livros e debates políticos

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Por André Santos. Edição: Thiago Borges. Arte: Rafael Cristiano

Na era da digitalização, agentes culturais saíram às ruas para convidar a população para um evento literário. Essa foi uma das estratégias de divulgação adotadas na primeira edição do Floc – Festival Literário Ocupação Cultural Vento Leste, promovido pelo Dolores Boca Aberta nos dias 21 e 22 de outubro deste ano.

“Fizemos um cortejo de Maracatu e ficamos chamando as pessoas, e elas saíram na sacada, na janela, no portão para entenderem, e vieram. A dona de casa não vai ver meus stories, não sabe qual é meu Instagram. Então, para eu falar com o outro, eu vou ter que ir até o outro. A gente fez uma circulação com o carro de som também, que é muito forte aqui no bairro”, conta Erika Viana, de 44 anos.

Jornalista por formação, Erika atua como arte-educadora e dedica a vida ao teatro, sendo atriz e uma das co-fundadoras do Dolores Boca Aberta. O coletivo de teatro formado por atrizes e atores poetas é um dos responsáveis pela manutenção do CDC Vento Leste, ocupação cultural localizada em um terreno na Cidade Patriarca, zona Leste de São Paulo.

Segundo a agente cultural, o festival é uma forma de consolidar o local, mapeado e reconhecido pela Secretaria Municipal de Cultura como um equipamento cultural, seguindo uma tendência dos últimos anos em que foram ministrados cursos de formação.

“Isso nos fortalece, fortalece os outros e faz com que a gente veja e faça nossas produções circularem também. A gente tenta fazer com que essa produção cultural e artística consiga escoar, se diluir”, conta Erika.

Almir Rosa (foto: Divulgação)

O escritor e multiartista Almir Rosa, 47, segue a mesma linha de pensamento. Ele valoriza a realização de festivais literários em territorialidades periféricas e diz que as produções de artistas locais são uma forma de comandar as próprias narrativas.

“Eventos que celebram a literatura em territórios periféricos, principalmente com a presença de autoras e autores desses territórios, são a construção do nosso presente e o assentamento de nossos futuros. Dessa forma, avançamos para que nossas histórias sejam contadas por nós”, diz Almir.

O escritor ainda afirma que “cada vez mais a literatura se torna parte da periferia”, e indica que o movimento de trazer essas discussões para locais próximos à base trabalhadora por si só carrega um poderoso aspecto de conscientização política que estimula “protagonismo e coletividade, dois pilares que considero muito importantes para o fortalecimento político, para cidadania e território”.

Particularidades

Parte do calendário das feiras literárias que acontecem em São Paulo, o Floc Vento Leste tem algumas diferenças, como o fato da programação acontecer em uma ocupação cultural.

O evento trouxe apresentações de teatro, recitais de poesia, shows musicais, rodas de conversas e outras atividades artísticas e culturais, abrangendo a literatura por uma ótica que vai muito além dos livros.

O festival aconteceu em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e contou com apoio da Mandata Coletiva Quilombo Periférico, com a proposta de fomentar o debate político na região e promover o fortalecimento de vínculos de luta, resistência e coletividade.

A incidência política ficou mítica em apresentações e nas falas realizadas. No palo, foram estendidas as bandeiras do Brasil, do MST e da Palestina, país que vêm sofrendo constantes ataques bélicos devido ao conflito entre Israel e Hamas.

“É um ato político você fazer poesia, arte, teatro e música na quebrada. Mas eu acho que a gente sempre precisa entender também que nós somos da classe trabalhadora. Eu sou filha de pai e mãe trabalhadores”, diz Erika

O anseio por uma conscientização coletiva é uma tentativa de gerar mudanças na sociedade a partir da base, com a participação popular para que os objetivos da classe trabalhadora sejam alcançados e seus direitos sejam respeitados. Para isso, os caminhos que foram encontrados pelo Dolores foram a arte e o diálogo.

“É claro que a gente vai ter todas as diversidades e elas são bem-vindas e servem para nos engrandecer, mas a gente precisa ter esse viés de se entender e de se olhar, principalmente enquanto classe”, reforça a atriz.

Desafios

Erika Viana (foto: Divulgação)

O espaço possui um histórico de resistência, e por um longo tempo a administração foi alvo de uma forte disputa. Hoje, consolidado como polo cultural da região, a ocupação faz eventos desse porte, ainda que enfrentando dificuldades burocráticas.

Realizado a partir do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca (PMLLLB), política pública que tem o objetivo de promover o acesso a leitura e literatura, foi necessário que a produção se articulasse junto à Biblioteca Pública Municipal Jovina Rocha Álvares Pessoa, localizada em Artur Alvim e único equipamento público de toda a região, que carece de teatros e centro culturais.

Erika conta que a burocracia quase inviabilizou a realização do festival, mas com a articulação e argumentação de que a região sofre também com a falta de uma agenda cultural, foi possível que o projeto saísse do papel e se transformasse em realidade.

“É pensar que a gente pode tentar acessar, com histórico e luta política, para fomentar mais ações para o espaço, para o território”, completa Erika.

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