Por Thiago Borges
Colaboração de Fernanda Souza, Karina Rodrigues, Paula Sant’Ana
Aulas presenciais retomadas, comércios abertos com ocupação total, rolezinhos lotados… Nem parece que estamos numa pandemia, não é mesmo? A propósito, quando poderemos comemorar o fim disso tudo?
A Periferia em Movimento coletou essas e outras dúvidas do nosso público e conversou com uma profissional de saúde para respondê-las. Pra começar: mesmo com a diminuição do assunto “pandemia” nas rodas de conversa e na mídia em geral, ainda não dá para estipular um prazo para que tudo termine.
“O cenário é incerto. Enquanto 70% da população não estiver vacinada no Brasil e no mundo, a gente sempre vai ter a possibilidade de surgimento de variantes e do aumento de surtos”, explica a pesquisadora de epidemias Gladys Prado, médica infectologista no Hospital Sírio Libanês e uma das responsáveis pela metodologia do projeto Agentes Populares de Saúde, da Uneafro. Em 2020, a rede de cursinhos populares reuniu uma equipe multidisciplinar e formou agentes locais para prestar assistência e auxiliar a população das quebradas a se prevenir ou lidar com a doença. Uma cartilha foi distribuída junto a cestas básicas, além do lançamento de um site com informações completas sobre a covid-19.
Como estamos?
Gladys observa que a vacinação contribuiu para que o número de casos graves e mortes por covid-19 diminuísse. Com mais de 586 mil óbitos registrados no País, a média móvel de mortes pela doença caiu para 473 no último domingo (12/9). Por outro lado, 64,75% de toda a população brasileira recebeu a primeira dose da vacina e 34,31% está totalmente imunizada. Na cidade de São Paulo, todas as pessoas com mais de 18 anos já receberam a primeira dose e 62% tomaram a segunda dose ou dose única.
Ainda assim, Gladys aponta que é preciso continuar alerta para evitar o surgimento e proliferação de novas variantes do vírus que podem ser mais resistentes às vacinas disponíveis. E o imunizante em si não é uma proteção garantida, uma vez que não há vacina ou medicamento que sejam 100% eficazes contra qualquer doença. Por isso, há situações de mortes por covid-19 mesmo entre quem foi totalmente imunizade. “Tem algumas pessoas, especialmente idosas, em que a vacina vai falhar”, conta.
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Esses casos, inclusive, são utilizados como justificativa para aplicação de uma terceira dose da vacina em pessoas com mais de 70 anos e imunidade mais frágil. Porém, a OMS ainda não tem estudos conclusivos sobre a eficácia dessa nova aplicação.
“A OMS aponta que, na falta de evidências da terceira dose, o melhor seria focar na primeira e segunda doses onde a vacinação está atrasada”, diz Gladys. É o caso do continente africano, em que menos de 10% da população foi vacinada. “Seria o melhor do ponto de vista humanitário, mas também do ponto de vista pragmático, porque enquanto não se vacina podem surgir outras variantes”, completa.
O que fazer?
Se o risco continua mesmo com a vacina chegando a mais pessoas no Brasil, a principal medida a seguir neste momento é manter os cuidados de sempre: utilizar máscaras, evitar aglomerações e a permanência em espaços fechados. Ao se encontrar com outras pessoas, mesmo com a vacina aplicada, devemos priorizar espaços abertos e com distanciamento.
Gladys explica também que não há sintoma específico da covid-19 e muito menos de uma variante que possa ser diferenciado de uma gripe ou resfriado. Por isso, ao sentir dores de cabeça, febre, tosse ou coriza, a pessoa deve procurar um serviço de saúde e fazer o teste.
“As pessoas estão expondo todo mundo da família nessa comida de bola”, completa Gladys. “Enquanto tiver circulação do vírus, não há proteção de avós e pessoas mais velhas”.
Thiago Borges
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