Expõe Favela movimenta zona Leste com arte, lazer e pequenos empreendimentos

Expõe Favela movimenta zona Leste com arte, lazer e pequenos empreendimentos

Formado por jovens da Vila Nhocuné, coletivo promove encontros mensais com intervenções, performances e venda de produtos

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Colaboração de André Santos. Edição: Thiago Borges. Fotos: Mel Gomes e Alessandro Kawan

Formado por jovens da Vila Nhocuné, na zona Leste de São Paulo, o coletivo Expõe Favela promove um encontro mensal estimular o empreendedorismo, lazer, arte e cultura na região. O espaço aberto para intervenções e performances de diferentes linguagens é acompanhado de lanches e bebidas artesanais.

O evento acontece na casa de Larissa Lima, uma das idealizadoras do projeto. Mãe da Maria Alice, de 5 anos, e dona de uma marca de cosméticos naturais, Larissa explica que a iniciativa surgiu a partir da necessidade de ter um espaço para expor produtos e serviços alternativos com aceitação, além de fomentar parcerias com mais artistas e empreendimentos do bairro.

Larissa Lima

“Tínhamos a ideia que seria um centro de ajuda ao empreendedor. Pensamos em fazer um escritório compartilhado, ou algo assim, mas ainda é muito inacessível. Já as feiras são uma coisa comum fora das periferias, onde casas espaçosas abrem as portas, mas cobram um valor alto para os stands. Nós quisemos reproduzir isso de uma forma acessível e consciente, voltada à profissionalização dos artistas daqui mesmo”, diz Larissa.

Além dela, existem mais 7 integrantes que coordenam desde a cozinha e finanças ao gerenciamento de redes sociais e curadorias estética e musical. Mel Gomes, irmã de 22 anos de Larissa, é dona de uma marca de acessórios alternativos. Responsável pelos registros fotográficos, ela conta que o Expõe Favela nasce também com o intuito de ser mais uma opção de lazer para a Vila Nhocuné.

“Buscamos trazer as pessoas pra perto da gente e suprir uma carência que sofremos. Todos aqui trabalhamos com marcas independentes, e um dos nossos objetivos é apoiar o empreendedorismo de periferia”, diz Mel.

De portas abertas

Para que o encontro aconteça, Larissa recepciona em sua casa artistas e visitantes todos os meses. E a cada mês, é uma experiência diferente. O coletivo trabalha com temáticas, remetendo a datas ou trazendo elementos que combinem o estilo musical predominante no espaço, o rap, com outras vertentes que ecoam nas periferias de todo o Brasil, como o samba e o rock, por exemplo.

Esses estudos e curadoria são feitos pela dupla Bastoy e Mil Grau, mestres de cerimônias e idealizadores da Batalha do Morcegão, que já revelou nomes como o de Yago, O Próprio.

A escolha dos temas é feita com cuidado. O planejamento no ano já foi traçado, com destaque para o mês de maio, onde haverá uma edição especial de dia das mães, com direito a “espaço kids”; e para dezembro, quando haverá a edição “Sobrevivendo no Inferno”, uma homenagem aos 25 anos do álbum dos Racionais MCs, além de marcar um possível fim de mandato do atual governo.

“A gente quer reproduzir isso de uma forma cultural, e não como uma festa underground apenas. E isso ecoa na vizinhança”, diz Larissa. “Quando começamos a divulgar, as pessoas desconfiavam e hoje todo mundo adora. É um rolê numa casa, de uma forma organizada”, conta Larissa.

Vila Nhocuné Cultural

Larissa conta que abrir as portas de sua casa a deixou receosa em um primeiro momento por morar sozinha com sua filha, mas que após a primeira edição entendeu que seria possível ao perceber o quanto o bairro mudou nos últimos anos, muito por conta de iniciativas culturais de outras coletividades atuantes no bairro.

A visão de que as periferias são lugares violentos e de pobreza cultural é disseminada pelo sensacionalismo de parte da imprensa convencional, sobretudo em programas policialescos.

Para Junior Santos, diretor audiovisual, esse cenário vai mudar a partir do momento que a população for responsável por apresentar a narrativa de suas histórias.

“É importante protagonizar essa parada, a gente vive aqui, então só nós conseguimos contar como funciona. Por isso que perdemos tantas histórias, por não conseguir contar. Quanta gente foda não viveu aqui? Tem muita gente incrível, mas a gente não sabe. Precisamos registrar essa história, porque passaram várias pessoas fodas”, conta Junior.

Aqui tem arte

William Melo tem 24 anos e é dono de um brechó, além de um dos produtores do evento. Ele cita a importância de movimentar o dinheiro dentro das próprias periferias, com artistas e empreendedores locais. Prince, como é conhecido, também conta que o Expõe Favela é um lugar de reflexão, descoberta e quebra de estereótipos.

Ele promoveu em uma das edições anteriores uma intervenção artística de moda intitulada de “A sensibilidade do Vida Loka”, que tinha como proposta debater como uma determinada peça de roupa poderia erradicar ou potencializar preconceitos, a depender do corpo que a veste.

Já Juliana Cavichiolli, responsável pela geração de conteúdo nas redes sociais, ao lado de seu companheiro Bruno Barbosa, possui uma marca cannábica que visa debater a redução de danos e o uso de substâncias, sobretudo em um contexto periférico e com objetivo de “encurtar” distâncias.

“É muito sobre o que o Bastoy sempre fala: nós somos células atuantes na periferia, de resistência, junto dos outros coletivos. E o importante é sempre somar essas forças, pra fazer acontecer alguma parada aqui, porque aqui também tem arte”, completa Juliana.

Com a intenção de promover e expandir o projeto, alugar uma casa para abrigar o coletivo e promover os eventos com maior frequência, estabilidade e planejamento está nos planos.

“A gente tem uma meta que é alugar uma sede, e então toda semana abrir culturalmente. Ocuparíamos essa casa para ser uma casa cultural. E aqui na Nhocuné, porque foi onde a gente se criou. Temos um laço muito afetivo, e aqui é uma quebrada que tem muito histórico de ações nesse sentido”, conta Mel.

 

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