Educação libertadora: Escola no Grajaú estimula protagonismo estudantil

Educação libertadora: Escola no Grajaú estimula protagonismo estudantil

Neste 15 de outubro (dia de professoras, professoras e professories), apresentamos a EMEF Padre José Pegoraro, no Extremo Sul de São Paulo. A escola oferece diversas atividades extracurriculares, além de sua própria estrutura, como formas de apoio pedagógico a estudantes. O corpo docente tem destaque

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Por André Santos. Edição: Thiago Borges. Arte: Rafael Cristiano

“A gente está numa escola que amplifica vozes, eu acredito que a palavra é essa. Nosso trabalho é mostrar que eles (estudantes) podem ir além, que podem sonhar, podem pensar num futuro e podem também viver o hoje tendo experiências que realmente deixam marcas”.

A fala de Regiane de Souza, de 43 anos, é uma síntese de um bonito e já consolidado trabalho desenvolvido há alguns anos pelo corpo docente da EMEF Padre José Pegoraro.

A escola municipal localizada no Grajaú (Extremo Sul de São Paulo) se destaca como referência na proposição de atividades e ações de cunho integrativo e social.

Regiane de Souza, professora na EMEF Pegoraro (foto: André Santos)

Regiane de Souza, professora na EMEF Pegoraro (foto: André Santos)

Moradora do Grajaú e professora de alfabetização da instituição desde 2020, Regiane celebra as várias iniciativas propostas pela escola, que visam promover a reflexão e o desenvolvimento humano de estudantes, e conta que ela mesma gostaria de ter vivenciado experiências similares quando era aluna.

“A gente tem uma gestão que nos apoia. Todo projeto que a gente tem que promova o avanço e o protagonismo dos nossos estudantes, a nossa gestão aprova e faz com que a gente realmente expanda essa voz. O trabalho que a gente realiza é compartilhado com outros profissionais e outras escolas da região”, diz.

Regiane conta também que conduz um projeto de prevenção contra o abuso sexual, onde, a partir de rodas de conversa realizadas em sala de aula, explica métodos que ajudem as crianças a identificar situações de perigo mais facilmente e desenvolverem habilidades de proteção.

“A gente tem tido muitos relatos de que a prevenção realmente salva vidas, né? E que a gente vê que eles começam a identificar aí toques desrespeitosos, falas desrespeitosas e acabam se olhando também nas relações entre eles. Então eu posso testemunhar claramente porque é um projeto que eu desenvolvo”, diz, enaltecendo o trabalho desenvolvido.

Conhecimento

Regiane destaca também outros projetos que fornecem esse apoio pedagógico, como o CFE – Consciência Feminina nas Escolas e o Wakanda na Escola. As propostas discutem diversidade, raça e gênero, além de promoverem a exaltação da própria identidade.

Os dois projetos citados por Regiane estão sob responsabilidade de Lucidalva de Azevedo, de 44 anos, professora de artes da instituição há 14 anos. As duas iniciativas foram propostas por estudantes que, com as ações desenvolvidas, passaram a identificar mais facilmente a reprodução de machismo e racismo.

“Às vezes o avanço acontece até de uma forma cruel, porque você começa a falar sobre racismo e estudantes que antes não se identificavam como negros, ou não identificavam situações de racismo, começaram a sentir as dores do racismo porque elas se colocaram naqueles lugar. Isso é um avanço e também um apoio pedagógico, também faz parte da educação e também tem a contrapartida desse grupo que hoje está unido. Tem muitas camadas”, diz Lucidalva.

A educadora aponta que a ideia é que esses processos sejam algo constante durante toda a formação dos estudantes, e valoriza o sucesso e a forte adesão que as atividades têm na escola, especialmente entre as turmas do 3° ao 6° ano.

O Projeto de Apoio Pedagógico é uma iniciativa da Prefeitura de São Paulo, mas a forma que é aplicado no EMEF Padre José Pegoraro é uma particularidade do local. A escola possui um histórico de condecorações e é reconhecida pelas diversas proposições de atividades que valorizem a educação libertadora, o esporte, a cultura e, sobretudo, o desenvolvimento do pensamento crítico.

“A ideia é que nesse momento os professores que estão responsáveis se proponham a elaborar projetos dentro da disciplina para estudantes que estão frequentando a recuperação de aprendizagens”, aponta Lucidalva.

A participação de estudantes nas atividades é voluntária, mas existe um esforço por parte do corpo docente para atender, sobretudo, quem demanda um acompanhamento mais próximo.

“O que há de mais valoroso dentro da nossa escola hoje é um grupo de educadores que têm o protagonismo como seu viés pedagógico. Eu trabalho tanto no Ensino Fundamental 1 quanto Fundamental 2 e percebo isso nos meus colegas, e está presente na minha didática também, o quão é importante o momento da escuta, da produção do estudante, da voz e muitas vezes do erro”, diz Lucidalva.

Protagonismo de estudantes

Além desses trabalhos de conscientização em sala, existe uma forte integração entre o corpo docente e responsáveis legais de estudantes.

De acordo com Luiza Aparecida, aluna de apenas 8 anos da EMEF Padre José Pegoraro, sua família, professoras e professores estão em constante contato e possuem uma relação para além da sala de aula.

Ela conta que uma das lições mais valiosas que recebeu na escola foi sobre a necessidade de contar tudo que acontece em seu dia a dia para sua mãe.

“Todo mundo conhece minha mãe. Isso é importante pras pessoas cuidarem da escola e também cuidarem de si mesmas, né?”, pontua Luiza.

Luiza Aparecida, 8 anos, em frente à parede com trabalhos de estudantes (foto André Santos)

Luiza Aparecida, 8 anos, em frente à parede com trabalhos de estudantes (foto André Santos)

Algumas de suas atividades favoritas, além das aulas e dos projetos de apoio pedagógico, são desenhar e brincar com massinha de modelar, uma vez que sua mãe a alertou sobre como essas brincadeiras são mais interessantes que o celular.

Luiza também é integrante da Imprensa Jovem, projeto de educação midiática que incentiva a produção jornalística multimídia por estudantes.

Ela conta com entusiasmo sobre as experiências de entrevistar, escrever e fotografar, e diz que sonha em ser jornalista no futuro, reforçando a importância de projetos que estimulem essas possibilidades desde a infância e uma construção de pensamento com maior senso de cidadania.

“A Imprensa Jovem dá tudo pra gente gravar, entrevistar e fazer fotos. Eu falei sobre o Leituraço, e teve um dia que fui lá no estádio de futebol. Lá, eu aprendi que nunca se deve julgar o outro. Com a professora Amanda eu aprendi que devo contar tudo pra minha mãe, com o professor Marcelo eu aprendo em inglês. Com a professora Lu eu aprendi a ser livre pra sonhar, e a professora Renata me dá as câmeras. Eu gosto muito de gravar, filmar, e principalmente estar na frente das câmeras”, conta Luiza.

Lucidalva destaca a importância da educação libertadora na formação de crianças e adolescentes, e indica que a principal meta do projeto é criar um espaço onde a expressão artística se torne ferramenta de conscientização social, empoderando estudantes a refletirem sobre sua realidade e a buscarem transformações.

“Quando essas potências começam a aparecer nas nossas paredes, começam a aparecer no nosso espaço, quando começam a pensar sobre a juventude preta do território e começam a ver as belezas e as dores nisso, eu penso que no micro a educação tem cumprido seu papel”, completa Lucidalva.

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