Texto e fotos por Gisele Brito
Quase 3 anos depois de Mano Brown dizer para uma plateia atônita que o Partido dos Trabalhadores (PT) havia desaprendido a falar a linguagem do povo e precisava voltar para as bases, o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula do PT se reuniram no último sábado (25/9) com coletivos culturais e com o movimento negro e periférico de São Paulo.
Cerca de 20 participantes desses movimentos tiveram oportunidade de falar ao microfone. O encarceramento em massa, a defesa das terras indígenas, a oportunidade para jovens e o aumento dos investimentos em cultura foram alguns dos assuntos abordados.
Entre os presentes, no geral, transparecia o entendimento de que Lula é a melhor alternativa para vencer o Bolsonaro em 2022. Mas o que deu o tom ao evento foram as críticas ao racismo que, entre outras coisas, bloqueia a participação de pessoas pretas e periféricas nos partidos e nas disputas institucionais.
A avaliação foi confirmada por Gleisi Hoffmann. Logo na abertura do evento, a presidenta do partido admitiu que o PT, apesar de ter sempre se preocupado e apoiado pautas antirracistas, nunca tratou o racismo como “estruturante junto com a luta de classes”.
A resposta de Lula
Após ouvir todas as falas, em um discurso que variou entre aconselhamento, pito e o compromisso com o objetivo comum de vencer o bolsonarismo e assumir a pauta preta e periférica, Lula afirmou que 2022 será um ano de “revolução cultural” para que o povo não continue a amargar a destruição do País.
O ex-Presidente também enfatizou a importância da participação política e a necessidade de eleger parlamentares que representem os interesses da população mais pobre e que pensem de forma progressista.
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“Temos que dizer para a juventude, juventude que mais protesta, mais reclama, mais grita, que parece mais radical, que ela tem que tirar o título para votar. Esse é um discurso que temos que fazer”, destacou Lula.
“Temos que dizer: ‘cara, tira o seu título. Nós aprovamos para você votar a partir dos 16 anos. Ah, você acha que ninguém presta, então seja você o candidato. Escolha alguém que você acha bom, mas coloque alguém lá e assuma a responsabilidade”, continuou.
Lula ainda voltou a dizer que o movimento precisa ocupar espaço sem “gritar que a gente é vítima”. “Muitas vezes nós falamos pouco de política. Nós criticamos muito e fazemos pouco. Como é que a gente vai fazer para que a gente tenha uma maioria de negro no Congresso Nacional, já que a sociedade brasileira é negra?”, questionou.
“Não é apenas gritando que a gente é vítima, porque isso a historiografia já está escrevendo há muito tempo. Nós vamos quando a gente conseguir convencer as pessoas que nós temos competência para fazer o Brasil diferente do que eles fizeram. O Brasil feito pelo povo negro certamente será melhor que o Brasil feito pelo escravista durante tantos anos”, enfatizou Lula.
Vitimismo?
O petista já havia falado em suposto “vitimismo” durante e entrevista para o podcast Mano a Mano no início de setembro e foi durante criticado por militantes do movimento negro e periférico.
Durante o próprio evento, Douglas Belchior, liderança da rede de cursinhos populares Uneafro Brasil, já havia lembrado o episódio e ponderado por que é tão difícil ocupar esse lugar.
“E é preciso dizer aqui: essas pessoas [lideranças reunidas no evento] não deixaram de ocupar o poder por vitimismo, por coitadismo, por incapacidade ou desorganização. Não. Foi porque as estruturas de poder são racistas. Porque os partidos reproduzem isso e nos impedem de exercer a plenitude das nossas lideranças”, afirmou Belchior.
A Uneafro Brasil compôs a mesa do evento ao lado de Fernando Haddad, Claudinho Silva, Jaqueline Lima e dona Edith Marques da Silva, poeta do Sarau da Cooperifa, de 79 anos.
Gisele Brito