O arquiteto autônomo Agostinho Martinho, de 31 anos, mora no Brasil há quase sete anos. Assim como ele, muitos outros imigrantes saíram de Angola rumo a São Paulo por diferentes motivos. E é aqui que, há um ano, eles se organizam para denunciar e defender a libertação de 17 ativistas políticos presos em sua terra natal.
No dia 20 de junho de 2015, cerca de 15 jovens que estudavam formas pacificas para derrubar ditaduras foram detidos com acusação de conspirarem contra o presidente de Angola e planejar um golpe de estado. José Eduardo dos Santos governa o país desde 1979 e é o segundo presidente de Angola desde sua libertação de Portugal, em 1975.
“Suas condições são precárias, pois foram condenados de dois anos e meio a oito anos e meio de prisão, e suas vidas por diversas vezes correram perigo tanto pelos guardas prisionais quanto pelo outros detentos”, explica Agostinho. Outras duas jovens que não foram encontradas no momento da apreensão, mas que frequentavam o mesmo espaço, também foram condenadas no processo.
Judicialmente, o caso já estava para ser encerrado. Mas os advogados rejeitaram a sentença uma vez que o Ministério Público não conseguiu sustentar a acusação inicial e os ativistas acabaram condenados por “organização de mal feitores”.
O processo ganhou repercussão internacional. Em São Paulo, Agostinho e outros angolanos criaram o coletivo Muxima na Diáspora, com objetivo de dar visibilidade ao caso aqui e constrager o governo angolano. O grupo já fez protestos em frente ao Consulado Geral de Angola em São Paulo, vigílas e, na última segunda-feira (20 de junho), um sarau pela libertação dos presos um ano após a detenção. Esse ato contou com a participação de militantes de movimentos sociais brasileiros.
Chico César, Emicida, Dexter, os Racionais MCs, o movimento Mães de Maio, o Círculo Palmarino e a deputada federal Luiza Erundina manifestaram apoio aos ativistas angolanos. Mas a sensibilização é quase nula.
“São poucas as pessoas que conhecem Angola e não é do interesse da mídia brasileira abordar assuntos africanos no geral e, em particular, os de Angola, mesmo tendo uma relação histórica muito intima contemporânea muita em valores financeiros”, observa Agostinho.
Em Angola, os advogados entraram com recurso e o processo corre no Tribunal Supremo de Angola. Por aqui, a luta segue. “Nós nos organizamos aqui porque cá nos temos a liberdade que eles lá não têm. Queremos ser a voz dos que estão calados e o corpo dos oprimidos”, completa Agostinho.
Thiago Borges
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[…] Em São Paulo, imigrantes angolanos lutam contra prisão de ativistas em sua terra natal […]