Os brasileiros têm mais acesso à televisão (97,2%) que a abastecimento de água (85,4%) ou à rede coletora de esgoto (65,3%). Isso é o que aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2015 e que deu gerou dados sobre as áreas urbanas do país.
Um pouco antes, em 2013, a Fundação Perseu Abramo realizou estudo específico, batizado Pesquisa de Opinião Pública Democratização da Mídia, que apontou que o brasileiro se informa prioritariamente pela televisão (94%), sendo que quatro a cada cinco pessoas entrevistadas dizem assistir televisão diariamente.
Estes e outros inúmeros estudos mostram como os meios de comunicação, em especial a TV e a internet, tem papel fundamental na construção do imaginário e influenciam o processo educativo de crianças, jovens e adolescentes, especialmente.
Thais Siqueira, uma das responsáveis pelo projeto Você Repórter da Periferia, diz que mais que apreender o jornalismo na prática, quem tem contato com educomunicação tem uma importante formação política, de visão de mundo.
Estimular o contato ou a descoberta com a comunicação preenche uma lacuna na formação política do jovem periférico, porque ele passa a se auto reconhecer como cidadão e protagonista da sua história,
explica a jovem, que integra o Coletivo Desenrola e Não Enrola, localizado no Jardim Ângela, zona sul.
Durante a Virada Comunicação 2017, a Rede Jornalistas das Periferias traz o assunto para o centro da roda com a mesa Educomunicação e Direito à Comunicação – Como pautamos / pautamos certo? O que precisamos pautar?
Mediada por Karol Coelho, da Agência Mural, a partir das 16h, você acompanha Ronaldo Mattos (Desenrola e não me Enrola), Aline Rodrigues (Periferia em Movimento) e Ana Claudia Mielke (Intervozes) conversando sobre isso.
UMA EXPERIÊNCIA PRÁTICA DE CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA COMUNICATIVA
Desde 2014, o Você Repórter já formou mais de 140 pessoas com idades entre 16 e 42 anos de, a partir de oficinas de jornalismo escrito, técnicas de entrevista, conteúdo mobile entre outras linguagens. Para Thais, “o jovem passa a entender o processo de produção e construção do que é notícia para grande mídia e a partir deste momento ele percebe o quanto é importante construir e produzir uma contranarrativa para combater falsas informações, notícias enviesadas e, principalmente, o processo de desinformação”, aponta a jornalista.
Apesar de ter se tornado uma política pública na cidade de São Paulo (LEI 13.941/2014), e em seguida ganhar o Brasil graças ao MEC que expandiu programa formando mais de 2500 professores nos anos de 2004 e 2005, a educom ainda tem mais vitalidade dentro das organizações de educação não formal, como são chamadas as ongs e coletivos. Os cursos superiores de comunicação, ambiente perfeito para impulsionar uma geração de comunicadoras e comunicadores comprometidos em mais que produzir e distribuir conteúdo, ainda estão longe de conseguir dar conta dessa demanda. Para Thais, as experimentações feitas pelos coletivos, especialmente nas periferias, é quem tem dado o tom crítico que todo curso de comunicação deveria dar aos seus alunos e alunas.
“E esse cenário só poderia mudar se existissem políticas públicas e organizações da sociedade civil que endossassem o trabalho que vem sendo produzido pelos coletivos de comunicação orientando um estudante a pensar sua profissão com responsabilidade social e não com um olhar baseado apenas no crescimento profissional e atuação em grandes empresas. Afinal de contas”, aponta ela, “essa realidade é coisa do passado, mas muitas faculdades ainda vendem isso aos estudantes e a mudança tem que começar por aí, tirando do meio acadêmico essa ilusão”, finaliza.
SOBRE A REDE JORNALISTAS DAS PERIFERIAS
Formada por comunicadoras, comunicadores e coletivos que atuam a partir das bordas da Grande São Paulo, a Rede Jornalistas das Periferias tem como objetivo promover e disseminar a informação produzida pelas e para as quebradas. Enquanto movimento, acredita na potência e importância de que essas vozes sejam protagonistas também no conteúdo jornalístico sobre essas regiões da cidade, constituídas historicamente em condições sociais de desigualdade de raça, classe e gênero que se reproduzem, inclusive, no ambiente profissional da comunicação.
SOBRE A VIRADA COMUNICAÇÃO 2017
A Virada Comunicação é realizada com apoio das instituições Ford Foundation, Fundação Tide Setúbal e Instituto Alana, e idealizada e organizada por 13 coletivos integrantes da Rede: Alma Preta, Capão News, Casa no Meio do Mundo, Desenrola E Não Me Enrola, DiCampana Foto Coletivo, DoLadoDeCá, Historiorama: Conteúdo & Experiência, Imargem, Mural – Agência de Jornalismo das Periferias, Nós, Mulheres da Periferia, Periferia em Movimento, Periferia Invisível e TV Grajaú.
Evento no Facebook: goo.gl/vo7vht
Foto de capa: Você Repórter da Periferia.