Por Ludmila Lima. Foto em destaque: Projeto Vargem Grande Comunidade Saudável (CPCD/Ibeac)
Alimento: o que essa palavra significa para você? Na maioria das vezes, está ligada a algo físico, que ingerimos. Mas Tião Rocha e Cris Lima nos convidam a ampliar esse conceito – ainda mais em meio à pandemia de coronavírus.
É importante alimentar o corpo, mas o espírito deve ser abastecido na mesma proporção. De forma que, se houver uma negligência em um dos lados, o conjunto nunca estará em sua forma plena.
Com o cenário atual, a rotina tanto de Tião quanto de Cris foi ainda mais intensificada: a procura por ajuda aumentou assim como a troca de informações entre movimentos e coletivos. As doações de alimentos foram cruciais neste momento, garantindo que, cada um em seu movimento, tivesse a oportunidade de mudar o quadro de necessidade de diversas pessoas.
Os dois falaram sobre isso no debate “Pão, proteção, poesia e plantio: a luta pelo bem viver nas periferias”, que aconteceu no dia 18 de setembro como parte da programação da 6ª edição da Feira Literária da Zona Sul (FELIZS). Confira abaixo:
Os 4 Ps
“O século 21 surgiu da complexidade”, aponta Tião. E em meio a essa complexidade, ele ajudou a criar o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento Humano, que tem como objetivo promover a educação popular e o desenvolvimento das comunidades através da cultura.
Tião também é um dos colaboradores da biblioteca comunitária Caminhos da Leitura, localizada na região de Parelheiros. E hoje, o antropólogo e educador popular é diretor-presidente do Banco de Êxitos Solidariedade e Autonomia, que realiza todo o processo de identificar projetos, mapear, auxiliar sua articulação e disseminação.
“As coisas podem ter preço e podem ter valor, né? E eu sempre gosto de usar uma comparação que me leva simbolicamente a isso. Leite em pó tem preço e leite materno tem valor”, diz ele.
Nessa trajetória, ele participou da criação do conceito dos 4 Ps: pão, poesia, proteção e plantio.
O pão simboliza o ato de alimentar o seu próximo, enquanto a proteção significa o ato de encontrar um meio para proteger aqueles que não têm a escolha de ficar em casa, por exemplo. Nesse sentido, Tião cita a mobilização de alguns coletivos de Parelheiros (no Extremo Sul de São Paulo), que se uniram para angariar máscaras, álcool em gel e produtos de higiene para garantir tanto a segurança do próximo quanto a própria.
Já a poesia vem em forma de alimento para o intelecto e para a alma, provendo alegria e força pra enfrentar momentos difíceis. Com distanciamento social, os coletivos estão realizando eventos digitais para que as pessoas não fiquem sem esse sustento.
A psicóloga e educadora popular Cris Lima, que integra o coletivo Brincantes Urbanos e a Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino (na região do Campo Limpo, zona Sul de São Paulo), lembra o que aconteceu com sua amiga e integrante da biblioteca, Vanuza. No meio da noite, enquanto ela retornava para casa de uma festa, encontrou uma pessoa esperando por ela para pegar um livro com ela.
A base de tudo isso é o plantio: dos cuidados que temos com a terra colhemos não só comida mas também aprendizados para garantir que o que nos alimenta continue existindo.
A mensagem passada impactou os participantes que, com toda certeza, alimentarão cada vez mais a solidariedade em suas vidas. “É pensar grande e fazer pequeno e fazer o tempo todo”, completa Tião.
Redação PEM
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[…] Rocha: criador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento Humano (CPCD), nesta entrevista ao Periferia em Movimento ele fala dos alimentos para o corpo e alma nos tempos atuais. […]