Covid-19 em São Paulo: A raça como fator de risco

Estudo do Instituto Pólis mostra que taxa de mortalidade por covid-19 é 49% maior entre negros do que brancos. Homens negros correm ainda mais riscos

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Tempo de leitura: 6 minutos

Com informações da Assessoria de Imprensa. Foto em destaque: Douglas Fontes

Divulgado na semana passada, um novo estudo realizado pelo Instituto Pólis indica que a taxa de mortalidade por covid-19 na cidade de São Paulo é 49% maior entre a população negra do que entre brancos. Homens negros correm ainda mais risco.

Considerando o período de 01 de março a 31 de julho de 2020, o índice foi de 172 óbitos por cada 100 mil habitantes entre pretos e pardos. Já entre brancos, essa taxa foi de 115 óbitos/100 mil.

O quadro indica que, embora mais jovem, a população negra é proporcionalmente mais vulnerável à pandemia.

A equipe do Pólis utilizou o método de padronização, comum na epidemiologia, para analisar as taxas de mortalidade de brancos e de pretos e pardos. Era preciso considerar as diferentes composições etárias entre essas populações, uma vez que o segundo grupo é composto por um maior número de jovens.

O estudo teve como base os dados da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS), do PRO-AIM (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade), da Fundação Seade, IPVS (Índice Paulista de Vulnerabilidade Social), da pesquisa Origem-Destino do Metrô de Paulo, da Rede Nossa SP, do DataSUS e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Vidas perdidas

O método também permite identificar qual seria o número de óbitos esperados das populações analisadas caso as condições de vida e pirâmide etária fossem iguais a da cidade como um todo.

A taxa padronizada de pretos e pardos indica que, no município, seriam esperados um total de 4.091 óbitos entre pessoas negras. Entretanto, foram registradas 5.312 mortes até 31 de julho – 1.221 vítimas ou 29,85% a mais do que o esperado.

Em relação aos brancos, a padronização aponta que seriam esperados 11.110 óbitos até 31 de julho, quando foram registradas 9.616 mortes de pessoas dessa raça/cor. Ou seja, 1.494 pessoas ou 13,4% a menos.

Homens x Mulheres

A análise também verificou que mulheres apresentam taxas de mortalidade menores quando comparadas às de homens da mesma raça/cor.

Com a padronização, entretanto, também foi possível identificar enorme disparidade entre as taxas na comparação por gênero entre os negros e brancos.

A maior diferença é observada entre os homens. Até 31 de julho, a taxa de mortalidade padronizada para brancos era de 157 óbitos a cada 100 mil habitantes. Para homens negros, a taxa subiu para 250 mortes a cada 100 mil habitantes.

Entre as mulheres brancas, a padronização mostra uma taxa de 85 óbitos/100 mil hab. Para negras, o indicador sobe para 140 mortes/100 mil hab. Esta comparação reforça a análise que a raça/cor tem grande peso quando se trata de acesso à saúde no município.

A evolução do número de vítimas entre os grupos também reflete como a pandemia impacta mais a população negra. Embora todas as taxas tenham crescido durante o período analisado, o movimento ascendente da curva de homens negros é nitidamente mais intenso.

Territorialização

Com o método de padronização também foi possível territorializar o estudo, analisando as diferenças entre óbitos esperados e óbitos registrados nos 96 distritos de São Paulo.

A margem calculada, quando negativa, aponta que morreram menos pessoas do que o estimado de acordo com as taxas do município como um todo. Quando positiva, mais pessoas morreram.

Grande parte dos distritos mostra margens positivas para a população negra e negativas para a branca. Porém, essa realidade não se aplica em todos os territórios.

Em 27 distritos, maioria localizada na periferia, foram registradas mais mortes de pessoas da raça/cor branca do que o previsto pela padronização. Os distritos de Lajeado (+53,4%), Guaianases (+52,1%), Iguatemi (+40,2%), Cidade Tiradentes (+37,2%) e Vila Curuçá (+32,1%) apresentaram as cinco maiores diferenças.

Para a população negra, os dados mostram que onde morreram menos negros do que o esperado também é onde morreram menos brancos. De acordo com o estudo, a diferença negativa do número de mortes registradas e esperadas entre pessoas de raça/cor negra poderia estar associada a melhores condições de acesso ao sistema de saúde e menor circulação do vírus.

Dos 23 distritos que tiveram menos mortes de pessoas negras do que o esperado, 15 estão localizados no quadrante sudoeste da capital. Esta região possui o padrão de renda mais alto da cidade e mais acesso a serviços de saúde de qualidade.

Há exceções. No distrito de Vila Andrade, por exemplo, em que a favela de Paraisópolis está localizada, não só houve menos mortes de brancos do que o esperado (-30,3%) como de pretos e pardos (-2,8%).

Nesse caso, é possível afirmar que este cenário reflete o trabalho e a organização comunitária de Paraisópolis. A favela agrega 43% da população de Vila Andrade e conta com população majoritariamente negra (63%).

Nos distritos de Jaguará, Anhanguera, Campo Limpo e Pedreira a população negra também apresentou melhores números do que o esperado. Entretanto, ainda não há explicação imediata para as taxas observadas, sendo necessárias análises de caso mais atentos.

Acesse os resultados na íntegra aqui.

1 Comentário

  1. […] Com informações desencontradas entre diferentes esferas governamentais, parte da população voltou ao trabalho e para atividades corriqueiras do pré-pandemia, como frequentar praias, bares e academias de ginástica. A curva de mortes e de casos de covid-19 no País ensaia uma queda depois de semanas em um platô de cadáveres. Na cidade de São Paulo, o impacto é maior entre a população negra e nas periferias. […]

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