Futebol feminino: Apesar de visibilidade maior para modalidade, quebrada ainda não vive “clima de Copa”

Futebol feminino: Apesar de visibilidade maior para modalidade, quebrada ainda não vive “clima de Copa”

Com desempenho irregular da Seleção brasileira em “grupo da morte”, empolgação pode esfriar antes mesmo de ganhar impulso: o time de Marta e companhia precisa vencer a Jamaica no jogo desta quarta-feira (2/8) para seguir à segunda fase

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Por Paula Sant’Ana. Edição: Thiago Borges. Arte: Rafael Cristiano. Distribuição: Vênuz Capel

A Copa do Mundo feminina tá rolando. A competição que começou em julho e segue até 20 de agosto já é histórica por conta de todo investimento realizado, com recordes de público e feitos inéditos. Mas por aqui, o verde e amarelo que colore as ruas ainda é do Mundial de futebol masculino, que terminou em dezembro do ano passado – e a pintura já tá desbotando. Não há bandeirinhas decorando os comércios nem correria pra ver os jogos.

“Lembro que eu fiz um passeio com a minha filha na segunda [dia 24 de julho] e eu saí na rua com a blusa do Brasil, vesti a minha [filha] mais nova também com a camiseta e é engraçado porque eu não vi pessoas usando […] Tinha mais umas adolescentes usando a camiseta, achei isso bem interessante”, nota a fotógrafa Jucinara Lima, 31 anos, conhecida como “Juh na Várzea” pelo trabalho que faz com registros de jogos nos campinhos das periferias paulistanas.

Jucinara Lima, a Juh na Várzea (foto: arquivo pessoal)

A moradora de Parada de Taipas, na zona Norte de São Paulo, comenta que saiu trajada com o manto da Seleção após a vitória de 4 a 0 na estreia contra o Panamá, na última segunda-feira (24/7), mas observou que poucas pessoas estavam na mesma vibe. Ela nota que, na competição feminina, o público parece mais restrito.

“Que loucura, né? Porque no mundial masculino, eu lembro a onda… até no busão os motoristas estavam [de camiseta], cobrador… É muito louco construir essa ideia na cabeça, é muito preconceito, ainda. De formiguinha, estamos começando ainda”, destaca Juh.

O horário também dificulta. Com a diferença do fuso de 13 e 15 horas para Austrália e Nova Zelândia, países-sede do Mundial, em solo brasileiro temos visto os jogos bem cedinho – as rodadas ocupam a madrugada. Quem acompanha o Brasil, que jogou partidas transmitidas aqui entre 7h e 8h da manhã, destaca a dificuldade de se ligar na competição como um todo.

“Comecei a acompanhar a Seleção brasileira, né? Não consegui acompanhar os outros jogos. Vou vendo placar, jogadas etc […] Não tem como conciliar nossa rotina. Enfim, o horário às vezes é muito cedo e é a internet que ajuda mesmo”, diz Juh na Várzea.

Redes X Ruas

Logo na abertura, durante a transmissão de Nova Zelândia x Noruega, a Cazé TV precisou desativar o chat no YouTube. Milhares de ofensas preconceituosas e machistas foram direcionadas ao futebol feminino, às atletas e a quem consome a modalidade. Dentre os comentários, alguns chegaram a dizer que Casimiro Miguel, influenciador, streamer e dono do canal, se rendeu à “lacração”.

Ainda assim, na vitória do Brasil contra o Panamá, a Cazé TV bateu o recorde de pessoas assistindo a uma partida de futebol feminino no YouTube: 1 milhão de internautas simultaneamente. Já no jogo de sábado (29/7), mais uma importante marca: mais de 1,2 milhão de pessoas viram a Seleção brasileira ser derrotada por 2 a 1 para as Les Blues. Naquela manhã, a Rede Globo registrou a melhor audiência para a faixa de horário desde 2008.

“Gosto bem dessa pegada já na hora [nas redes sociais], porque o público que me segue lá no Instagram, como eu trabalho no futebol de várzea da quebrada, 80% são homens”, diz a fotógrafa Juh Na Várzea, para quem a competição é uma oportunidade para atrair mais pessoas para a modalidade feminina.

Luana Nunes, jornalista (foto: arquivo pessoal)

A jornalista Luana Nunes, 28, percebe uma animação nas redes sociais. “Tô vendo que, pelo menos nos meus círculos, quase todo mundo está vendo. Tanto a galera que mora aqui na zona Norte, quanto a galera lá de Parelheiros, as meninas do time […] mesmo que seja cedo, posta, comentando sobre o jogo, torcendo”, observa ela. .

Moradora da Vila Gustavo (zona Norte), Luana trabalha no Portal Terra e tece comentários sobre os duelos em transmissões do Terrabolistas. Apesar de estar vivendo esse clima gostoso da competição, ela relata um pouco de frustração e sente falta do engajamento mais ‘físico’.

“Não fiz decoração, e isso é uma coisa bem louca, porque na masculina a gente fez na casa de uma amiga. Na feminina, a gente ainda não tem esse hábito, o que é bem ruim, né? Seria bem legal o pessoal usar vuvuzela e todos esses apetrechos […] Camiseta eu uso, mas só fora do ambiente de trabalho. E eu também não tenho visto muito, vejo uma ou outra pessoa no transporte público, mas poucas”, destaca Luana.

Em São Paulo, é possível se juntar para assistir aos jogos da Seleção em espaços como o Nossa Arena, na Barra Funda, ou no Museu do Futebol (ambos na zona Oeste da cidade). Alguns bares estão possibilitando as reuniões de fãs da amarelinha, mas esses locais estão em áreas mais centrais da capital.

Com final marcada para 20 de agosto, ainda há muita competição pela frente e a mobilização do público pode engatar de vez. Porém, para isso, a Seleção brasileira precisa ganhar da Jamaica nesta quarta-feira (2/8), que joga por apenas um empate. Se empatar com o time caribenho, o Brasil depende ainda de um resultado improvável na outra disputa da rodada: a França precisaria perder do Panamá.

Ocupando a terceira colocação no grupo F, a empolgação pode esfriar antes mesmo de ganhar impulso se a equipe for eliminada ainda na primeira fase. Juh na Várzea, entretanto, é otimista. “O time da Jamaica não é bobo, vai vir com muita vontade pra cima de nós. Pecamos contra a França… erros que não poderemos cometer de jeito nenhum no jogo de quarta-feira. Se mantiver o foco, alinhar posicionamento e marcação, conseguimos ganhar na quarta-feira. Torcendo pra que isso aconteça”.

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