Como é o rastreamento de câncer de mama para pessoas trans? Entenda os riscos e sinais de atenção

Como é o rastreamento de câncer de mama para pessoas trans? Entenda os riscos e sinais de atenção

Falta de informação e barreiras no acesso à saúde aumentam os riscos de câncer de mama entre pessoas trans. Especialista explica principais sintomas e cuidados preventivos

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O câncer de mama é um dos tipos mais incidentes entre a população brasileira, o INCA (Instituto Nacional de Câncer) estima 73.610 novos casos da doença em 2025, mas pouco se fala sobre como isso afeta pessoas trans e travestis.

Entre o uso prolongado de hormônios, as cirurgias de redesignação corporal e as barreiras no acesso a serviços de saúde, esse grupo enfrenta desafios específicos tanto na prevenção quanto no diagnóstico da doença.

Isabela Correia, ginecologista e sexóloga com atuação em terapia hormonal para pessoas trans e saúde LGBT, ressalta que o SUS (Sistema Único de Saúde) ainda tem gargalos no acolhimento a essa população.

“Quando a gente tem uma transfobia tão enraizada na nossa sociedade, que coloca pessoas trans como cidadãos de segunda classe, parece que eles têm menos direito a exames que são do SUS, que deveriam ter uma cobertura universal e isso não é verdade”, afirma.

É o preconceito e exclusão que também afastam a população do acesso à informação, tão crucial para a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama.

“Quando a gente trata a questão do câncer de mama como se fosse um câncer exclusivamente feminino, a gente também afasta os homens trans desse rastreamento. Seria até ideal que a gente não mantivesse esse binarismo dentro de um hospital, dentro de um serviço de saúde”, ressalta.

Em nota enviada à Periferia em Movimento, o Ministério da Saúde destacou que o SUS oferece atendimento universal, integral e equitativo, garantindo o acesso da população trans aos serviços de prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer de mama.

“Neste ano, o Ministério da Saúde ampliou o acesso à mamografia a partir dos 40 anos e orienta estados e municípios a incluir pessoas trans, travestis e não binárias nas ações de rastreamento conforme o risco biológico. A Atenção Primária à Saúde realiza acolhimento e avaliação individualizada, assegurando o cuidado adequado às necessidades de cada pessoa”, diz a nota.

Além disso, a pasta esclareceu que, também em 2025, foi reinstalado o Comitê Técnico Nacional de Saúde LGBTIA+, responsável por desenvolver novas diretrizes e protocolos de atenção integral.

O que diferencia o risco de câncer de mama na população trans?

Isabela Correia, ginecologista e sexóloga./Foto: Divulgação.

No caso de pessoas trans que passaram pela mamoplastia masculinizadora, cirurgia que retira as glândulas mamárias, o risco de câncer de mama reduz consideravelmente. Ainda assim, a ginecologista Isabela Correia ressalta que como podem permanecer remanescentes das glândulas, é preciso se atentar a sinais que indiquem algo fora do comum.

No caso de mulheres trans com mais de 40 anos, que passaram por pelo menos cinco anos de hormonização e tiveram desenvolvimento da mama, é necessário fazer os exames de rastreio.

“A partir de cinco anos de hormonização, a gente considera que essa mama passa a ter um risco de câncer assim como na população cis. Mas a gente sabe que o risco de câncer de mama na população transgênero feminina é menor do que na população cis feminina”, explica a especialista.

Ela acrescenta ainda que as barreiras no acesso a exames e informações de qualidade configuram um risco adicional para essa população, cuja saúde é impactada pelas múltiplas expressões de preconceito e transfobia.

De que modo terapias hormonais e cirurgias de transição interferem no risco de câncer de mama?

Quando se fala em hormonização, a ginecologista explica que o risco é o mesmo para mulheres trans e cisgêneras. No caso de mulheres trans, o risco se justifica pois há alguns tipos de câncer de mama que são estrogênio dependentes.

“Mas mulheres cis que usam pílula anticoncepcional combinada e que fazem terapia hormonal, também vão estar submetidas a esses riscos. Então, se há um câncer que a gente pensa que tem um fator hormonal, a gente aumenta [o risco] através da hormonização nas mulheres  transgêneras”, explica a ginecologista Isabela Correia.

Como é o rastreamento de câncer de mama para pessoas trans?

Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil

Segundo a especialista, mulheres trans que usam hormônios há mais de cinco anos e têm mais de 40 anos precisam fazer mamografia, mesmo se tiverem prótese.

“A gente faz mamografia em mulheres que têm prótese, isso não afasta a necessidade da mamografia. Se é um homem trans que não fez a mamoplastia masculinizadora, também precisa fazer mamografia”, explica a ginecologista.

Em pessoas trans que passaram por mamoplastia, a realização do autoexame é fundamental para identificar precocemente qualquer nódulo na linha mamária ou na área da cicatriz.

“Se tiver algum nódulo, a gente tem que puncionar e afastar a chance de um câncer de mama”, ressalta a médica.

Outros sintomas que exigem atenção: lesões na pele, mudanças no aspecto da região – como poros dilatados com aparência de “casca de laranja” e vermelhidão. Nessas situações, a ginecologista destaca que é importante procurar avaliação médica e, se necessário, realizar uma ultrassonografia e punção da área.

Quais são os fatores de risco para câncer de mama que continuam válidos para pessoas trans?

De acordo com o Ministério da Saúde, 5 a 10 % dos casos de câncer de mama estão relacionados a fatores genéticos ligados aos genes BRCA1 e BRCA2.

Neste caso, a ginecologista esclarece que o risco permanece o mesmo para pessoas trans que tiverem casos da doença na família, principalmente em relações de parentesco como mãe, irmã e avó. É importante ressaltar que homens cisgênero também podem ter câncer de mama, mesmo que a ocorrência seja consideravelmente menor.

“Algumas coisas são simples, que a pessoa pode fazer e que diminuem esse risco. A gente instrui a população, de uma maneira geral, sobre práticas como atividade física, redução do consumo de álcool e de cigarro, porque sabemos que isso é um fator de risco direto para o aumento do câncer de mama”, destaca.

Em qual idade ou situações exames de mamografia e ultrassonografia são indicados?

Ao identificar um nódulo, se a pessoa tiver menos de 40 anos, o exame indicado é o ultrassom, que permite avaliar as características da lesão. Para pessoas com mais de 40 anos, o exame de referência é a mamografia.

“E o exame de rastreio de câncer de mama vai ser sempre a mamografia como primeira escolha. E se houver a necessidade, aí a gente pede uma ressonância magnética para poder elucidar algum nódulo ou se tem alguma alteração anatômica que está atrapalhando esses exames, pode ser usado a ressonância também”, explica a médica.

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