Edição: Hysa Conrado.
“Preservem o meio ambiente, tudo depende da gente” – esta foi uma das mensagens compartilhadas durante a caminhada realizada por estudantes da EMEF CEU Vila do Sol na última sexta-feira (19), no bairro Vila do Sol, no Extremo Sul de São Paulo. Cerca de 700 alunos caminharam até uma parte da represa Guarapiranga para conscientizar a população do território sobre preservação ambiental.
A escola realiza a “Caminhada pelo Futuro” há mais de dez anos e a mobilização é sempre empolgante: os alunos percorreram os 1,9 km que separam a escola do Parque Náutico Guarapiranga empunhando cartazes com frases de impacto e panelas, que foram usadas como instrumentos musicais para embalar a marcha.
A preparação para a caminhada envolve semanas de aulas sobre a importância da represa para o território e como as famílias podem auxiliar nesse cuidado. Além disso, os estudantes confeccionaram cartazes e lembrancinhas como quebra-cabeças, marcadores de página, chaveiros e brinquedos – tudo feito com material reciclável.
- Crédito: Gislayne Melo
- Crédito: Gislayne Melo
Eles também conversaram com um profissional que coleta materiais recicláveis para que ele pudesse acompanhar a caminhada e plantaram sementes pelo parque.
Clewves Martins, professor de informática e coordenador da Imprensa Jovem Vila do Sol, destaca o protagonismo dos jovens na mobilização não apenas durante a caminhada, mas também na preparação de folhetos para entregar aos moradores.
“Nas aulas sobre o assunto, eles trabalham coisas interessantes sobre o problema e depois vão para o nível pessoal. Então, as aulas se constroem através das vivências. É impressionante ver nossos alunos engajados com a pauta, chamando a atenção de adultos, como em um cartaz escrito ‘não crie araras’, com o desenho do animal que eles mesmos fizeram”, conta.
Preservação da represa

Crédito: Gislayne Melo
A represa Guarapiranga é responsável pelo abastecimento de 4 milhões de pessoas, segundo a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, o que corresponde a 20% do fornecimento de água da Região Metropolitana de São Paulo. Apesar da sua importância para o território, a represa enfrenta riscos devido ao despejo de esgoto.
“O que me preocupa aqui no bairro é que estamos em um ambiente cada vez mais urbanizado. As pessoas da quebrada acabam, de certa forma, negligenciando as questões ambientais, porque têm outras preocupações”, diz Letícia Vitória, de 14 anos, estudante e moradora do Vila do Sol.
Além disso, ela destaca a precariedade do saneamento básico na região. “Se você virar a esquina, tem lixo no chão, bueiros entupidos, temos alagamentos em dias de chuva. E isso não é algo para chamar a atenção somente da comunidade, mas também do governo”, afirma.
Já para Denise Lima, coordenadora da escola, a maior preocupação no momento é com o esgoto sendo direcionado para a represa por conta de ocupações irregulares. Mas ela diz estar esperançosa para o futuro, pois os estudantes estão muito engajados com a temática.
“Nosso território é formado por muitas ocupações, nossos estudantes moram nessas ocupações e em dias de chuvas as casas deles sofrem muito. E estão em torno da represa, e o esgoto é direcionado para lá, então é uma forma de ensiná-los sobre o território e eles se engajam na preservação”, complementa.
Racismo ambiental

Crédito: Gislayne Melo
Há uma grande insatisfação dos moradores da região com o abandono do poder público em relação ao bairro. O professor Clewves Martins acredita que isso está diretamente relacionado ao racismo ambiental, caracterizado pela desigualdade na distribuição dos impactos ambientais, que afetam de forma mais intensa populações vulneráveis, geralmente negras, pobres e periféricas.
“Nossa comunidade é muito carente, passa, de certa forma, por racismo ambiental. Estamos aqui no fundão. Moramos ao lado de córregos que são sujos por culpa governamental”, afirma.
Em conversa com outras crianças, a reportagem da Periferia em Movimento percebeu que a maior preocupação delas é com o lixo jogado nas ruas. Durante o caminho, era possível observar muitas caçambas de lixo cheias e resíduos espalhados no chão.
Para Allice Borges, de 10 anos, a mobilização da escola é importante para conscientizar a população do bairro.
‘‘Minha maior preocupação é a poluição, e a caminhada que estamos fazendo hoje pode mudar o pensamento dos adultos, que eles parem de jogar lixo nos mares para que possamos viver em um lugar mais confortável”, ela diz.
- Crédito: Gislayne Melo
Já para Luiza Costa, de 10 anos, é preciso ampliar a conscientização sobre o descarte do lixo. “As pessoas comem alguma coisa e jogam no chão, aí a poluição no futuro pode tornar nada, a gente não vai ter oxigênio, água, comida, por que vai tá tudo poluído”, alerta.
Chegando ao Parque Náutico Guarapiranga, os jovens deram as mãos e fizeram um simbólico abraço na represa. Logo depois, foram lanchar, e uns diziam para os outros: “Nada de jogar lixo no chão, hein”. Em outra mesa, um grupo de meninas se organizou com sacos de lixo para recolher os resíduos.