Cobertura por André Santos. Edição de texto: Thiago Borges. Edição de vídeo: Vênuz Capel
“Nós estamos cansadas de nossos jovens serem mortos. É um absurdo. As mães estão cansadas de chorar. Então, é hora da gente ir pra rua. Eu tô cansada! Cansada! Porque a luta não é minha, é dos meus antepassados.”
Assim, Jussara Martins, 63 anos, resume a importância de mais uma vez estar nas ruas para denunciar o genocídio negro existente no Brasil. Promotora legal popular (PLP) formada pelo Instituto Geledés, Jussara foi uma das manifestantes que participaram do ato “Pelo fim da violência policial e de Estado, nossas crianças e o povo negro querem viver! Chega de Chacinas!”, que aconteceu na noite de quinta-feira (24/8), na avenida Paulista (região central de São Paulo).
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“Falar do genocídio da população negra, principalmente dos jovens, é uma coisa que precisamos falar todos os dias. O ato marca o debate sobre a justiça não ser feita”, aponta Gessica de Paula, 31, integrante do coletivo Saúde Mental nas Periferias.
A data é emblemática pois marca o aniversário da morte advogado, jornalista e abolicionista negro Luiz Gama. Coletividades integradas à Coalizão Negra por Direitos, à Convergência Negra e outros grupos convocaram protestos em pelo menos 14 cidades de todo o País, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Teresina, Curitiba, entre outras.
“É importante ter um ato nacionalizado porque a violência cresce cada vez mais, então é importante a gente se movimentar e mostrar que a gente tem a nossa ação e que tá vendo o que tá acontecendo”, ressalta a manifestante Camila, de São Paulo.
Organizadas pela Jornada dos Movimentos Negros Contra a Violência Policial, as manifestações aconteceram em um momento de insegurança para a população negra, após uma série de chacinas produzidas em operações policiais que vitimaram dezenas de pessoas nas últimas semanas, na Baixada Santista, em São Paulo; em Salvador (BA); e em favelas do Rio de Janeiro, como o Complexo da Maré. Essas ações resultaram mortes como a da criança Djalma de Azevedo Clemente, de 11 anos, atingido por um disparo enquanto usava uniforme escolar.
Além disso, os atos também pedem justiça por Mãe Bernadete Pacífico, ialorixá e liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho (BA), que foi brutalmente assassinada em 17 de agosto de 2023, dentro de sua casa, em frente aos seus netos. Bernadete denunciava e exigia justiça pela morte de seu filho, Binho Pacífico, também assassinado.
“É uma luta necessária, dado que é uma violência cada vez mais crescente contra a população negra. E é uma luta que vai continuar por muito tempo, enquanto a gente não conseguir acabar com essa política racista que assola nosso País”, denuncia Daniel Santos, doutorando pela Universidade de São Paulo e integrante do Coletivo 18 de Julho.
André Santos, Thiago Borges, Vênuz Capel