Eu só peço a Deus que a dor não me seja indiferente

Eu só peço a Deus que a dor não me seja indiferente

Por Paulo César Pedrini

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Por Paulo César Pedrini*

Essa canção de Leon Giaco imortalizada na voz da Matriarca da Grande Pátria Latinoamericana, Mercedes Sosa, é uma das que expressam com maior fidelidade uma das mais belas dimensões humanas, a solidariedade.

Celebramos a Páscoa cristã num dos momentos mais difíceis e dolorosos de nossa história. Convivemos com uma dor que parece não ter fim. Nesse momento, já tivemos quase 3 milhões de vidas perdidas em decorrência da covid, sendo que mais de 300 mil no Brasil. Dor porque nossos governantes parecem não se preocupar com o verdadeiro sentido da política: a busca do bem comum. Sabemos que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas.

Se tivéssemos de fato como objetivo principal a defesa da vida e da dignidade humana, teríamos tido um lockdown com funcionamento apenas dos serviços essenciais (e não com os governantes mudando a bel prazer através de decretos o que é essencial), teríamos testagem e vacinação em massa e também teríamos a garantia de uma renda emergencial, ou seja, isolamento social com responsabilidade social.

O tríduo pascal se inicia com a celebração do Lavapés e da última ceia. Ali, Jesus nos mostra o verdadeiro sentido da vida: o serviço ao outro , sobretudo os que mais precisam quando mais precisam.

A morte na cruz nos lembra o martírio de Jesus hoje, na população de rua, nos povos indígenas, nos quilombolas, nas comunidades periféricas. Morte essa provocada pelo vírus, pela fome mas principalmente pela indiferença.

A ressurreição é o ponto central da fé cristã e ela significa a vitória da vida sobre a morte. Mas essa luta entre a vida e a morte é cotidiana. Cabe a nós saber de que lado da história queremos estar.

Celebrar a Semana Santa para além dos rituais é renovar o nosso compromisso com a defesa da vida e da dignidade humana. Nosso inesquecível mestre dom Paulo Evaristo Arns dizia: “o Cristianismo não é uma teoria para se saber, mas uma proposta prática para se viver”.

Vale lembrar que a solidariedade não é uma dimensão religiosa e sim uma dimensão humana, e sabemos que historicamente ela não vem dos que têm muito para os que têm pouco. Ela quase sempre vem dos que têm pouco para os que não têm nada.

Sejamos capazes de celebrar e viver a Semana Santa sendo fiéis ao exemplo de Jesus, que deu a sua vida para que todos tenham vida. “Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão”.

Que estejamos vigilantes e atentos para combater tudo aquilo que gera dor, sofrimento e morte ao nosso povo. A luta da vida contra a morte é cotidiana e, para sermos dignos de ser chamados cristãos e mesmo de seres humanos, é necessário que façamos o nosso papel que é fazer com que a Vida esteja sempre em primeiro lugar.

*Paulo Cesar Pedrini, morador da Vila Maria (zona Norte de São Paulo), é coordenador da Rede de Apoio às Famílias de Vítimas de Covid-19 e da Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo; integrante da Frente Interreligiosa Dom Paulo Evaristo Arns, da Ação dos Cristãos pela Abolição da Tortura – ACAT Brasil e dos sindicatos Apeoesp e Sinpeem. É professor de História e Sociologia na rede pública de ensino

1 Comentário

  1. ANTONIA MARIA NAKAYAMA disse:

    Paulo. Sua lembrança dessa linda canção me emocionou. Junto minha voz a sua e ade Mercedes Souza. Não posso ser indiferente a dor de quem e atingido pela doença ou pela pobreza.

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