Apagão na quebrada: População perde a paciência e protesta contra falta de luz, que chega ao 4º dia

Apagão na quebrada: População perde a paciência e protesta contra falta de luz, que chega ao 4º dia

Responsável pela distribuição, a empresa privada Enel diz que 530 mil clientes continuam sem energia na manhã desta segunda-feira (14/10), em toda a Grande São Paulo. Saiba o que fazer em caso de prejuízos

Compartilhe!

A paciência está acabando. Na tarde deste domingo (14/10), a população da Ilha do Bororé, no Grajaú (Extremo Sul de São Paulo), bloqueou o Rodoanel Mario Covas para protestar contra a falta de energia. Mais cedo, quem bloqueou a Estrada Ecoturística de Parelheiros foi o pessoal da Vila Marcelo (na mesma região). A Tropa de Choque da Polícia Militar foi convocada para liberar a via. À noite, outro protesto aconteceu ali perto, no Recanto Campo Belo. Segundo morador local, após a manifestação a luz foi religada nessa madrugada.

Com o apagão entrando no quarto dia, na manhã desta segunda (14/10), mais pessoas saíram às ruas: o protesto bloqueou a Estrada do Campo Limpo (também na zona Sul paulistana).

Foram menos de 30 minutos de chuva com ventos de até 107km/h que atingiram a região metropolitana de São Paulo na noite de sexta-feira (11/10). Isso foi suficiente para deixar vários bairros sem luz.

Queda de árvores atinge veículos e imóveis em Interlagos (foto arquivo pessoal)

Queda de árvores atinge veículos e imóveis em Interlagos (foto arquivo pessoal)

Segundo boletim divulgado às 5h40 de hoje pela Enel, empresa privada responsável pela distribuição de energia na Grande São Paulo, 1,5 milhão de clientes tiveram o serviço restabelecido nos 39 municípios da região. Por outro lado, 530 mil imóveis continuavam no escuro, sendo 354 mil na capital – considerando-se a média de pessoas por casa, calcula-se em torno de 1 milhão de pessoas sem luz há 65 horas seguidas.

De acordo com a concessionária, os distritos mais atingidos pelo apagão persistente são Campo Limpo, Capão Redondo, Campo Grande e Pedreira, todos na zona Sul. Também havia 36,9 mil clientes sem energia em Cotia, 32,7 mil em Taboão da Serra e 28,1 mil em São Bernardo do Campo.

A empresa não dá previsão de retorno da energia e diz que precisa refazer quilômetros de redes de baixa e média tensão que foram afetadas.

Nas redes sociais, a Periferia em Movimento identificou relatos de indignação de quem vive na Vila Prel, no Jardim Catanduva, no Jardim Ingá, no Jardim São Luís, no Parque Santo Antônio, no Parque Maria Regina, no Embura do Alto, no Barragem ou no Marsilac, entre outros bairros que seguem sem energia.

Vias importantes da zona Sul, como a Estrada de Itapecerica ou a Estrada do Alvarenga, continuam com os semáforos apagados. O abastecimento de água pela Sabesp também foi prejudicado pela falta de eletricidade para o funcionamento das bombas.

O que faço em caso de prejuízos?

Com o apagão repentino e o vai e vem no fornecimento, clientes reclamam de aparelhos elétricos danificados, comida estragada na geladeira e prejuízos financeiros causados pela impossibilidade de trabalhar.

As regras da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), reguladora dos serviços de energia no Brasil, permitem o ressarcimento em casos de prejuízos materiais. Para isso, cada cliente tem até 5 anos para reivindicar o direito a partir da data da ocorrência.

Você pode solicitar os valores à empresa responsável pela distribuição – no caso de São Paulo, a Enel. Para isso, deve fazer a solicitação pelo telefone, internet ou nos postos de atendimento presencial com o número de instalação no imóvel, comprovantes de titularidade, documentos como RG e CPF, dados da ocorrência e do equipamento danificado (tipo, marca, modelo e número de série).

Se o prejuízo foi com alimentos e outros itens perecíveis, o Procon-SP diz que o caminho é o mesmo. Junte fotos dos produtos estragados, nota fiscal, embalagens de alimentos ou remédios perdidos por conta da falta de refrigeração para abrir o pedido.

A Enel tem 10 dias para fazer a vistoria no imóvel, em caso de equipamentos, e um dia útil para perecíveis. Em muitos casos, a empresa pode optar por não fazer o procedimento. Depois disso, são 15 dias corridos para um retorno e mais 20 dias para realizar o pagamento à pessoa titular da instalação.

Os serviços de atendimento da Enel são o telefone 0800 7272120, o WhatsApp (21) 99601-9608, o site e o aplicativo disponível para iOS e Android.

Em caso de dificuldades, você pode recorrer com todas as informações e o número de protocolo de atendimento à Aneel pelo telefone 167 ou pelo site (clique aqui).

Também é possível recorrer ao Procon-SP, que é o órgão estadual de proteção às pessoas consumidoras. O telefone é o 0800-282-1512 e você também pode denunciar pelo site aqui.

Segundo o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), todas as pessoas afetadas por apagões têm direito a um ressarcimento administrativo calculado pela Aneel. Esse valor é repassado com desconto na fatura de energia no mês seguinte, e deve ser automático, sem necessidade de solicitação.

O que dizem as autoridades?

A chuva caiu na noite de sexta-feira (11/10) acompanhada de fortes rajadas de vento, que chegaram a 107km/h, a maior em três décadas. Mais de 300 árvores caíram na cidade de São Paulo. Em todo o Estado, ao menos sete pessoas morreram por consequência do temporal.

Depois de sumir no último apagão vivido na cidade, em novembro de 2023, dessa vez o atual prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) mobilizou sua equipe, mas culpou a Enel pela demora na solução dos casos.

Oponente de Nunes na disputa do segundo turno, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) ficou sem luz no Jardim Catanduva e, desde sexta, ataca a “inação” para lidar com o problema. O candidato culpa o prefeito por não realizar poda de árvores que já estavam condenadas nem dispor de agentes da CET para organizar o trânsito.

Nunes, com apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), voltou as críticas ao governo federal e ao presidente Lula (PT) para pedir cassação da concessão da Enel – a fiscalização do serviço fica a cargo da Aneel, que é federal. Nesta segunda, em entrevista coletiva, o Ministro das Minas e Energia Alexandre Silveira (PSD) anunciou uma força-tarefa com quatro distribuidoras de energia para restabelecer o serviço, criticou a falta de planejamento da Enel e disse que Ricardo Nunes espalha fake news.

“Tenho visto a cidade abandonada nos últimos, e falo em especial aqui do Grajaú (…) O primeiro a ser responsabilizado é o prefeito, que não preparou a cidade para esses eventos que todo mundo sabe que vai acontecer”, aponta Naiara do Rosário, moradora do Parque Residencial Cocaia e co-vereadora integrante da Bancada Feminista (PSOL), mandato coletivo reeleito para mais uma legislatura na Câmara Municipal.

Desde o apagão de 2023, a Bancada Feminista tem uma ação na Justiça, que corre em Brasília e que pede o fim da concessão da Enel. Também entrou com uma ação popular contra Ricardo Nunes e o secretário municipal de Meio Ambiente, Marcos Monteiro, responsabilizando-os pela situação uma vez que a prefeitura se omitiu na pode das árvores – desde 2023, a Orefeitura deixou atender aproximadamente 18 mil pedidos.

“A falta de luz tem a ver com a privatização também e a gente tá na cidade mais rica, sem luz e sem perspectiva. E no meu caso, além de luz, acabou a água e ficou uns dois dias e eu fiquei desesperada porque tenho uma bebê de 8 meses”, completa Naiara.

Atualizado às 15h40 de 14/10/24 para incluir novas informações. Foto de capa: Agência Brasil

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Apoie!
Pular para o conteúdo