Acessibilidade é um direito que beneficia toda a sociedade

OPINIÃO

Acessibilidade é um direito que beneficia toda a sociedade

Por: Larissa Pontes e Mariana Clarissa*

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Tempo de leitura: 5 minutos

No Brasil, é estimado que haja 14 milhões de pessoas com deficiência, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e, apesar da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da ONU, da qual o país é signatário desde 2008, definir a acessibilidade como condição fundamental para a participação plena e efetiva das pessoas com deficiência, e da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), de 2015, estabelecer diretrizes para garantir acessibilidade em diferentes áreas, sua implementação ainda enfrenta obstáculos.

Congresso Inova.aê, promovido pelo Instituto Eficientes./Crédito: Nina Xará

A não efetividade das práticas acessíveis na sociedade acontece por falta de interesse dos poderes públicos que não destinam recursos para atender às demandas deste grupo. Acontece ainda pela falta de conscientização da população sobre o tema, que compreende apenas que acessibilidade é destinada apenas às pessoas com deficiência. 

Mas, é importante ressaltar que seus impactos são mais amplos. Quando barreiras arquitetônicas, tecnológicas ou atitudinais são eliminadas, não apenas o grupo com deficiência é beneficiado, mas toda a sociedade, afinal, em algum momento da vida, todos podem precisar de recursos acessíveis, seja por uma deficiência adquirida, por limitações temporárias ou pelo próprio processo de envelhecimento.

Por exemplo, o uso de rampas normalmente é feito por pessoas idosas, gestantes, entregadores e famílias com carrinhos de bebê. Do mesmo modo, legendas em vídeos, pensadas inicialmente para pessoas surdas, são utilizadas por usuários em ambientes ruidosos, estudantes de línguas estrangeiras e internautas que preferem assistir a conteúdos sem som.

Essa lógica é chamada de desenho universal: a concepção de produtos, serviços e espaços que possam ser utilizados pelo maior número possível de pessoas, sem a necessidade de adaptações.

O conceito já é adotado em países onde políticas públicas exigem que novas construções, serviços digitais e equipamentos urbanos sejam projetados sob essa perspectiva.

Além do impacto social, há também uma dimensão econômica. Estudos do Banco Mundial, de 2021, estimaram que a exclusão de pessoas com deficiência do mercado de trabalho pode gerar perdas de 3% a 7% no Produto Interno Bruto (PIB) de um país. A acessibilidade, portanto, não deve ser vista como gasto, mas como investimento em produtividade e inovação.

Congresso Inova.aê./Crédito: Nina Xará

Empresas que incorporam práticas inclusivas ampliam seu público consumidor, fortalecem sua marca e atraem profissionais qualificados que, de outra forma, ficariam à margem.

Especialistas ressaltam ainda a importância da acessibilidade digital, especialmente após a pandemia de covid-19, que acelerou a migração de serviços para o ambiente online. Após analisar 26 mil sites, o Movimento Web Para Todos identificou que apenas 2,9٪ dos portais em geral no Brasil são acessíveis.

Dentro desse contexto, fica a reflexão: quando sites e aplicativos não seguem critérios de acessibilidade, eles excluem milhões de usuários, comprometendo o princípio de igualdade de acesso à informação e à participação social, além de amplificar os problemas de desinformação existentes no país. 

A acessibilidade não é privilégio, tampouco um favor. É um direito previsto em lei e um benefício coletivo. Ao assegurar ambientes inclusivos, a sociedade se torna mais democrática, inovadora e preparada para o futuro. É uma questão de cidadania, de desenvolvimento sustentável e de justiça social. Lutar por ela é lutar por cidades mais humanas e por uma democracia que não deixa ninguém para trás.

Sobre as autoras

Larissa Pontes é presidente do Instituto Eficientes. Jornalista, pós-graduada em Jornalismo Independente e Gestão de Negócios na Universidade Católica de Pernambuco, especialista em acessibilidade comunicacional. Co-fundadora do portal Eficientes. Também atua como assessora de comunicação da Associação Pernambucana de Cegos.

Mariana Clarissa é vice-presidente do Instituto Eficientes. Jornalista, mestre em Indústrias Criativas e especialista em Acessibilidade Comunicacional. Fundadora da Lume Acessibilidade, iniciativa de produção de conteúdos e projetos acessíveis que nasce do projeto Acessibilidade Jornalística: um problema que ninguém vê, vencedora do Innovation Challenge do GNI em 2021. 

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