“A gente tem que parar a cidade e colocar nossa pauta”, diz Claudio Aparecido da Silva, mais conhecido como Claudinho, novo coordenador de políticas para juventude do município de São Paulo.
Com 38 anos nas costas, ele passou a infância em Vitória (ES), onde ficou dois anos na rua e foi apreendido na Febem capixaba.
De volta a São Paulo, cresceu e viveu no Jardim Monte Azul, comunidade pobre na zona Sul paulistana onde participou das atividades da Associação Comunitária Monte Azul e de frentes de lutas populares.
Cria da quebrada, Claudinho defende a “centralização” dos movimentos de resistência contra a redução da maioridade penal.
“Se a gente não caminhar para a centralidade dos movimentos, fica perigoso [passar a redução da maioridade penal]. A fragilidade é muito grande”, ressalta Claudinho.
A discussão sobre a redução da maioridade penal toma as redes e ruas desde o final de março, quando a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados considerou admissível a tramitação da proposta de emenda constitucional (PEC) 171 de 1993, conhecida como PEC da maioridade penal. Para vigorar de fato, a proposta precisa ser aprovada pelo plenário da Câmara e posteriormente pelo Senado. Por se tratar de uma PEC, não cabe veto da presidenta Dilma Rousseff.
“As pessoas na quebrada estão apoiando essa proposta porque não entendem ainda o que ela significa”, complementa André Luís, integrante do coletivo de comunicação TV DOC Capão.
O papo aconteceu neste sábado (09 de maio), logo após o encontro [con]Versas realizado no Campo Limpo pela Escola de Notícias, que teve como tema o questionamento: “Como construir uma cidade de fora para dentro?”.
Thiago Vinicius, articulador da Agência Solano Trindade e União Popular de Mulheres do Jardim Maria Sampaio e Adjascências, também participou da roda de conversa sobre juventudes nas periferias.
“Se temos escola, posto de saúde ou até água hoje, se deve às lutas históricas de quem foi jovem antes da gente”, aponta Thiago. “E hoje vivemos uma ressignificação das lutas populares”.
Para o MC e militante Panikinho da CT, a própria construção da identidade étnica que temos hoje não existiria há 15 ou 20 anos.
“A impressão é que a dor do racismo nos impunha uma autonegação, e isso é um fenômeno que impacta, por que como vamos lutar contra essa violência que é o racismo se você se nega?”, questiona Panikinho.
Essa juventude que se mobiliza pela igualdade racial, contra a violência e ocupando espaços públicos também quer wi-fi, por exemplo, e que a cidade seja entregue para ela.
“São espaços de resistência cultural que temos construído nos cantões da cidade e do Brasil que colaboram para a abertura de novas perspectivas e redefinição de trajetórias das juventudes negras e periféricas”, completa Claudinho. “Acredito muito mais nisso aqui, nesse espaço, do que no lugar que ocupo hoje”.
Entretanto, Claudinho aponta que, para além das microrrevoluções promovidas pelos indivíduos nas quebradas, é necessário promover a revolução dentro do Estado e, a partir daí, pensar em políticas específicas para cada território.
“Temos a triste tarefa de combater um monstro que é esse sistema racista, que olha para a periferia e também vê todos iguais”, diz ele. “O SUS é modelo para o mundo como sistema universal, é motivo de orgulho, mas o sistema racista é um milhão de vezes mais organizado porque se coloca de diferentes formas, dependendo do lugar”.
Contra esse sistema racista que continua em vigor após 127 anos da Abolição da Escravatura, completados nesta quarta-feira (13 de maio), Claudinho aponta que é hora de se posicionar.
“Nós estamos transformando nossos territórios e chegou a hora da gente dizer que a revolução parte daqui”, conclui. “Se não vier da periferia, ela não virá de lugar nenhum do mundo”
A propósito…
Neste dia 13 de maio, movimentos populares ocupam o Largo da Batata para denunciar a falsidade da Abolição e da democracia, “só fez cristalizar as desigualdades e a hierarquia social a partir, principalmente, da ideologia do racismo”, como colocado pelos organizadores.
A pauta do ato inclui a redução de direitos trabalhistas, terceirização, redução da maioridade penal, encarceramento, violência policial, chacinas, torturas, negação de acesso à universidade e sucateamento do ensino público.
Anotaí!
Ato 13 de maio de Luta
Quando? Quarta, 13 de maio, às 17h
Onde? Largo da Batata – Metrô Faria Lima – Pinheiros – São Paulo
Thiago Borges