Artistas se multiplicam na zona sul, mesmo sem contar com leis de incentivo

Artistas se multiplicam na zona sul, mesmo sem contar com leis de incentivo

De acordo com Mapeamento Sociocultural da Zona Sul, apenas 5,9% dos grupos da zona sul de SP são beneficiários de algum tipo de programa de incentivo fiscal.

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Tempo de leitura: 4 minutos

Fonte: Instituto Pólis

Os grupos e espaços artísticos se multiplicam na periferia da zona sul de São Paulo, mesmo sem contar com o suporte de leis de incentivo à cultura. Essas são algumas das conclusões do Mapeamento Sociocultural da Zona Sul, desenvolvido pelo Instituto Pólis em parceria com o Sesc Santo Amaro, ao longo de quase dois anos.

De acordo com a pesquisa, apenas 5,9% dos grupos da zona sul de SP são beneficiários de algum tipo de programa de incentivo fiscal. Não por acaso a falta de recursos é a principal reclamação dos artistas da região pesquisada. Quase 90% dos grupos relatam problemas de escassez de recursos financeiros e 72,4% reclamam de  infraestrutura inadequada.

Os grupos da zona sul têm sua própria dinâmica. É uma pena que o poder público não tenha percebido o potencial e a criatividade desses artistas, afirma Ana Paula do Val, pesquisadora do Instituo Pólis e coordenadora-executiva da pesquisa.

Os dados e o próprio site www.sescsp.org.br/santoamaroemrede foram apresentados e lançados nesta sexta-feira, 14 de maio, em eventos simultâneos em cinco localidades na zona sul, todos transmitidos em tempo real, pela internet.

A gente se financia pelos nossos trabalhos, independentes desse. Temos outros empregos. Infelizmente não conseguimos viver disso [produção de vídeos]. Nós ganhamos um edital, mas mesmo assim não é o suficiente para cada um de nós arcar com suas contas. Ninguém vive do VAI. A gente participa porque é um modo de manter a qualidade mínima do trabalho, afirma Antônio “Chê” Araújo, da produtora de vídeos Berinjela Filmes.

Outro artista mapeado também presente no lançamento foi o produtor cultural Jaime Lopes, o Diko, que participa do site Central Hip Hop – Bocada Forte. Para Diko, o dinheiro público é de grande valia, mas os grupos artísticos da periferia não devem contar com ele para levar adiante seus projetos.

Mesmo o programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais da Cidade de São Paulo), que é uma política pública concebida para artistas e coletivos com pouco acesso a recursos financeiros, ajuda a sustentar apenas 11% dos grupos. “Apesar de ser uma das principais políticas culturais da região, é muito pouco ainda o número de grupos que o VAI atinge”, afirma o geógrafo Cléber Lopes, pesquisador do projeto.

A gente não espera muito desses negócios, não [recursos públicos], porque se a gente esperasse, não faz as coisas acontecerem. Mas não é algo que a gente negue. Porém, o dinheiro público não é suficiente para todo mundo. Se for depender disso, o projeto morre. Mas se ele vier de alguma forma vai ser bem-vindo, afirma Diko.

Periferia 2.0

Outra conclusão que a pesquisa revela é o uso cada vez maior da internet por parte dos grupos e artistas para a divulgação de seus trabalhos. Entre os grupos mapeados da zona sul, 79,6% deles usam a internet para divulgação. O meio virtual só é superado pelo tradicional boca a boca, forma usada por 89,3% dos grupos.

Além de estarem conectados com as novas tecnologias, os grupos e entidades produtoras de cultura estão conectadas entre si. De acordo com o levantamento feito pelos pesquisadores, 57,93% dos grupos participam de alguma rede ou fórum.

Os pesquisadores mapearam, ao longo de quase dois anos, 326 grupos culturais, artistas individuais, entidades e equipamentos públicos na zona sul de São Paulo. O mapa sociocultural da região deixará à disposição para estudiosos, jornalistas e interessados em produção cultural as informações sobre cada grupo, além do banco de dados quantitativo e qualitativo levantado pelos pesquisadores do projeto.

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