Um ano de fortalecimento da consciência negra no Grajaú

Ser negra em Cuba, se descobrir negra ao sair da África, se reconhecer negra na "democracia racial": confira como foi o primeiro aniversário da Roda de Estudos Afro-brasileiros do Centro de Arte e Promoção Social do Grajaú

Compartilhe!

Tempo de leitura: 5 minutos

No último sábado (26 de novembro), o Centro de Arte e Promoção Social – CAPS Grajaú celebrou o primeiro aniversário de sua Roda de Estudos Afro-brasileiros, que acontece todo quarto sábado do mês no Centro Cultural Grajaú.
“A gente trata de uma história que foi invisibilizada, de questões que não estão nos escritos oficiais e que é preciso a gente revisitar e entender sobre as nossas histórias, as nossas raízes”, diz Lucimeire Juventino, pedagoga responsável pela mediação dos encontros.
Confira mais no vídeo da transmissão ao vivo realizada pelo Periferia em Movimento, na ocasião:

Uma das homenageadas foi Jacira Roque, que saiu da Vila Nova Cachoeirinha, na zona Norte de São Paulo, e falou da questão emocional das mulheres negras. Mãe do rapper Emicida, Jacira relembrou cartas de amor que escrevia para si mesma, de depressão e alcoolismo, do tempo da escola em que as meninas negras eram tiradas da sala de aula para ajudar na faxina. “Sua parte emocional vai se envenenando sem nem ao menos você perceber”, conta.
Veja mais no vídeo:

Jacira relembra do curso de diáspora africana na Universidade de São Paulo, onde conheceu a Raquel Trindade – artista plástica, coreógrafa e ialorixá de Candomblé que é filha de Solano Trindade, poeta, pintor, teatrólogo, ator e folclorista que fundou a Frente Negra Pernambucana, fincou raízes em Embu das Artes (SP) e estabeleceu um clã de artistas que contribui para o resgate das culturas negras na Grande São Paulo.
Representando sua mãe, que não pode comparecer, Vitor da Trindade agradeceu à homenagem enquanto seu filho, o rapper Zinho Trindade, cantou uma música própria e recitou um poema do bisavô Solano Trindade. Veja:

 

Debate entre mulheres

Fundadora da Roda de Estudos, Lucimeire participou ainda de uma roda de conversa mediada pela psicóloga Elânia Francisca, em que algumas mulheres negras contaram suas experiências.
A maquiadora Camila Lima (integrante do coletivo Claudias Eu? Negra!) falou sobre o reconhecimento e a valorização da beleza negra, enquanto a pedagoga Janeide Silva (do Sarau da Rema na Voz) apontou a importância do ensino da História e Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas a partir de sua experiência em uma creche localizada dentro da Universidade de São Paulo.
Já a professora Sebastiana Gonçalves de Souza, criada na periferia do município de Sumaré (interior de São Paulo) contou sua experiência de se reconhecer enquanto mulher negra. “Eu achava que sofria preconceito porque minha mãe não morava comigo ou porque morava na periferia, e achava que era normal ter só amigas negras”, conta ela.
O encontro também contou com a presença de mulheres negras de outros países.
A professora e antropóloga Maria Ileana Iglesias, da Universidade de Havana, está no Brasil há três anos quando veio convidada a um colóquio de Direitos Humanos e resolveu ficar após sofrer perseguição do governo cubano. “Existe um mito de que a Revolução Cubana de Fidel Castro acabou com a discriminação racial em Cuba e de que favoreceu principalmente a população afro-cubana”, conta ela, que sofreu perseguição por denunciar o racismo institucional em seu país de origem.
Segundo Ileana, apesar do governo socialista implementado após a Revolução de 1959, ainda hoje a população negra (maioria do país) continua relegada às periferias urbanas, longe dos espaços de poder e com menos oportunidades – 85% dos presidiários de Cuba são jovens negros. “A justiça tem cor no meu país, como no Brasil ou na América do Sul”, observa. “O negro é preso por roubar uma galinha. O branco é preso por roubar milhões”.
Já a advogada congolesa Jolie Angela Cameli Peniba, que três anos atrás fugiu da guerra civil em seu país natal no continente africano, falou da busca por uma nova vida no refúgio no Brasil. “Racismo eu nunca vivi no meu País (…) Ó meu Deus, saí do meu país pra salvar minha vida. Cheguei no Brasil e vivo um problema mais complicado que ficar no meu país. Eu disse uma vez: se soubesse que passaria isso aqui no Brasil, eu preferia morrer no meu país”.
Confira mais no vídeo da transmissão ao vivo realizada pelo Periferia em Movimento, na ocasião:

Além dos graffitis, oficinas, lançamentos de livros e venda de produtos temáticos, o encontro foi encerrado com um sarau especial e apresentações de Mariana do Berimbau, Marcio Ricardo, Luiz Semblantes, Denise Alves, Nayra Laís, entre outras atrações. Veja nas fotos:

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Apoie!
Pular para o conteúdo