“A gente está pela gente, não é por PSDB ou PT”

“A gente está pela gente, não é por PSDB ou PT”

Na luta por educação, não tem arrêgo. Enquanto Brasília pega fogo, estudantes constróem o próprio movimento contra a máfia das merendas e a institucionalização de Grêmios Estudantis.

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Tempo de leitura: 9 minutos

Por Pedro Borges.

Colaboração entre Periferia em Movimento e Alma Preta

Na luta por educação, não tem arrêgo. Nessa terça feira, estudantes secundaristas das escolas estaduais de São Paulo se reuniram em um novo protesto para denunciar o desvio de verba das merendas. Em pauta, também estavam a  institucionalização dos grêmios estudantis nas escolas e a tentativa do governo de emplacar em 2016 a reorganização escolar. O ato aconteceu na tarde do dia 29 de março, terça-feira, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, ALESP.

Os jovens e adolescentes se encontram no cruzamento da Avenida Paulista com a Brigadeiro Luis Antônio para caminharem em sentido à ALESP. Depois de acompanharem a sessão parlamentar e cobrarem os deputados por suas pautas, os secundaristas interditaram o tráfego da Avenida Pedro Álvares Cabral. A repressão policial dispersou os adolescentes, que seguiram com o protesto até a Avenida Paulista. Lá, os jovens também interditaram a avenida e, ao se aproximarem do acampamento a favor do impeachment, instalado em frente à FIESP, foram recebidos com gás de pimenta pela Tropa de Choque da PM.

Estudantes fecham a Avenida Pedro Álvares Cabral. Foto: Mariana Caires

Estudantes fecham a Avenida Pedro Álvares Cabral. 

Gustavo Souza, 14 anos, estudante do colégio Fernão Dias, nega qualquer influência partidária no ato e ressalta a autonomia da manifestação. “O governador de São Paulo é do PSDB e como a gente se manifesta contra ele, colocam a gente totalmente contra o PSDB e a favor do PT. Mas não, a gente não está de nenhum lado, a gente está na resistência dos estudantes, sem ligação com nenhum partido. E é isso que eles colocam, como se a gente estivesse dando o apoio contra um para outro, mas não é isso, a gente está pela gente, não está por nenhum dos dois”.

E não é difícil entender que a luta dos estudantes é legítima e apartidária quando se sabe que o problema está afetando diretamente sua alimentação. Desde que a E.E. Fernão Dias foi desocupada, em 10 de novembro, a falta de merenda tem sido constante. “Teve uma época que o Fernão ficou sem merenda e, quando voltou, foi um mínimo. Tinha uns caroços de feijão e arroz e eles estavam com uns bichinhos dentro. Ninguém comeu.”, conta Gustavo.

1.1 Estudantes entoaram gritos em sessão na ALESP

Estudantes entoaram gritos em sessão na ALESP. 

As explicações que os estudantes escutam das direções são diversas, e transparecem a retaliação após o movimento de ocupação secundarista. “Eles falam que foi porque a gente ocupou a escola e os alunos roubaram as merendas, sendo que nem era com a merenda da escola que a gente comia, era com doação do pessoal da rua que doava para a gente ocupar a escola. Isso é um reflexo do governo roubando mesmo”, conta Isabela Ferreira, 16 anos, também estudante da EE. Fernão Dias, que ficou ocupada por 55 dias em 2015.

As investigações da Máfia da Merenda (Operação Alba Branca) já prenderam sete pessoas envolvidas nos desvios em cinco municípios diferentes do estado. Mesmo com as prisões e a apuração do caso, não há previsão para que a alimentação nas escolas se regularize. Enquanto isso, os estudantes veem seu cardápio ficar cada dia pior. “Hoje, no Amélia Kerr Nogueira (escola do bairro Jardim Horizonte Azul, extremo sul de São Paulo), só deram uma barrinha e água para nós. Tem dia que eles dão arroz, dia que arroz só com carne, não dão salada, nem nada”, denuncia Guilherme Augusto da Silva, 14 anos.

“É uma manipulação o que eles estão fazendo. A própria diretora está querendo comandar o grêmio”

No ano passado,  o governo de Geraldo Ackmin tentou sem sucesso emplacar a reorganização escolar. O projeto culminaria na transferência de professores e no fechamento de salas de aula em todo o Estado, atingindo uma rede de 311 mil alunos. A medida foi vista pelo movimento secundarista como um retrocesso. Foi com muita mobilização que as “Escolas de Luta’ conseguiram a saída do secretário da Educação, Herman Voorwald, e, no fim de 2015, a suspensão do projeto de reorganização em Declaração no Diário Oficial.

Para 2016, o governo apresentou a proposta de criação de Grêmios em todas as Escolas, afim de estabelecer um diálogo com a juventude, veja aqui. As eleições aconteceriam já nos dias 13 e 14 de abril, mas estudantes relatam que isso não está sendo feito de forma politizada. Para o movimento secundarista, os diretores aliados ao governador querem um grêmio favorável às suas intenções, como mostra recente o comunicado do Sub-comando das Escolas em Luta da Região Oeste:

Guilherme Augusto pensa que o diálogo com a diretoria deve existir, mas destaca que há um limite para a participação da escola nas discussões. “O movimento é estudantil, então não tem essa de diretor. Eles podem ter um porta-voz, mas entrarem no meio não, porque é entre os estudantes. É uma manipulação o que eles estão fazendo. A própria diretora está querendo comandar o grêmio”. Isabela Ferreira concorda de que há uma vontade do estado e das escolas de coordenar a atuação política dos jovens e avisa “que não é assim, quem manda são os estudantes. O próprio nome já fala, grêmio de estudantes, então é isso ai”.

A tentativa de controlar o movimento estudantil por meio da institucionalização já está em curso. O relato de uma jovem estudante do bairro do Grajaú, Extremo Sul de São Paulo que, por segurança, não quis se identificar, descreve o procedimento político interno de um colégio estadual que busca o debate a seu modo, tentando despolitizar a ideia do grêmio.

Me chamaram, mas a reunião já tinha começado. Quando cheguei lá, pelo o que eu percebi, já estava sendo dito que sairia dali dez pessoas com um determinado cargo. Depois da mediadora apresentar algumas questões eu fiz algumas perguntas, como sobre o processo de democrático, se ele seria mesmo pulado. Ela pediu para eu explicar as etapas, e então eu fiz. Quando ela começou a dizer que concordava comigo, o pessoal achou estranho e uma menina chegou a questionar com os seguintes dizeres: “O professora? Nós teremos que seguir o que ela tá falando, certo? Mas isso não é totalmente diferente do que você disse? Do que era um grêmio e as etapas?”, e claro, ela gelou e tentou revirar as coisas dizendo que estava se referindo a um grêmio já formado. Mas o que eu percebi e me irritou é que ela jogou as coisas no meu colo, ela me exaltou do início ao fim, e (ao menos para mim) estava na cara que era proposital, ela tentou me ganhar…”

 

A luta dos Estudantes Secundaristas continua. Fortaleça os espaços de discussão!

Anota Aí!

Roda de conversa sobre Grêmios, Máfia da Merenda e Fechamento de Salas+ Exibição do Doc Ocupe-se.

Quando? Domingo, 03 de abril.

Onde? Apeoesp – Subsede Sul – R. Amleto Farro, 480 – Santo Amaro

Ato contra a Máfia da Merenda e o fechamento de salas

Quando? Terça, 04 de abril, às 6h30

Onde? Estrada do M’Boi Mirim. Praça do Piraporinha – nº970.

Relembre a luta das escolas da periferia em:

Antes de a gente ocupar já tinha polícial batendo. Periferia é outra história

Volta às aulas. Não tá tranquilo, mas pode ser favorável

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