É o clima: O que as quebradas e aldeias têm a ver com a COP 21?

É o clima: O que as quebradas e aldeias têm a ver com a COP 21?

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Tempo de leitura: 6 minutos

A partir da próxima segunda (30), representantes de governos e da sociedade civil de países de todo o mundo se encontram em Paris para discutir ações para frear as mudanças climáticas no planeta durante a 21ª Conferência do Clima ( COP 21 ) das Nações Unidas.

Tá, e daí?

E daí, que os principais prejudicados por essas alterações feitas na natureza pelo próprio ser humano serão os mais pobres: campesinos, favelados, periféricos, indígenas, ribeirinhos, quilombolas… todos que estão à margem da sociedade global são os mais vulneráveis às catástrofes naturais, escassez de alimentos, seca dos mananciais.

Pra se ter uma ideia, a temperatura da Terra subiu 1º C nos últimos 200 anos. Parece pouco, mas é o mesmo aumento observado nos 10.000 anos anteriores.

O debate sobre o tema ainda é muito elitizado, restrito às universidades e grupos de ambientalistas, mas há cerca de duas semanas agricultores, artistas, militantes de movimentos sociais e indígenas guaranis se reuniram no Grajaú para prosear sobre como isso vai impactar aldeias e quebradas.

Nessa porção da metrópole, 1 milhão de pessoas vivem às margens da represa Billings – o maior reservatório água em área urbana do mundo, com um volume equivalente a todo o Sistema Cantareira, mas subutilizado devido à poluição. “Isso é um contrassenso, porque tem morador que mora do lado da represa, mas sofre o pior racionamento de água”, nota Vinicius de Souza Almeida, gestor do Parque Linear Cantinho do Céu, onde aconteceu a conversa.

Os moradores relatam que ficam até cinco dias sem fornecimento de água. “Mas esse racionamento não começou há um ano, e sim há muito mais tempo para quem mora na região do Grajaú ou Parelheiros”, ressalta Mariana Belmont, agente marginal do coletivo artístico Imargem.

Além da Billings, a região Extremo Sul abriga dezenas de mananciais que também abastecem a Guarapiranga. Duas áreas de preservação ambiental (APAs) foram criadas para proteger essas águas, mas a pressão urbana é constante.

Por isso, Valcenir Karai destaca a necessidade da demarcação de terras indígenas no território. “Defender a demarcação é defender áreas verdes, a represa, os rios com peixes”, diz ele, que vive na aldeia guarani Tenondé Porã, uma das cinco que existem no Extremo Sul. Além da demora em delimitar essas áreas, hoje povos indígenas de todo o Brasil convivem com uma ameaça real: a aprovação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 215, que transfere da Funai para o Congresso Nacional a responsabilidade pelas demarcações.

“Antes, nossos antepassados eram mortos pela arma de fogo, mas hoje isso não acontece mais. Não se mata mais com arma, e sim com as leis. Estão querendo acabar com os indígenas do Brasil e tomar seus territórios”, completa Karai.

O que está em discussão na COP 21 em si não é o clima, somente, mas que tipo de sociedade pretendemos construir.

“O trânsito pode ser evitado e a especulação imobiliária, que joga a população para lugares longe do centro, pode parar se a prioridade do uso de recursos for para atender às pessoas”, explica Ricardo Abramovay, professor titular do Departamento de Economia da Faculdade de Economia da USP e autor de “Muito Além da Economia Verde”.

“O Brasil é o País de maior biodiversidade do mundo, mas nossa economia é de destruição a natureza. Nós temos que mudar isso para a economia do conhecimento da natureza. E quem melhor sabe disso são os indígenas e ribeirinhos”, continua.

E esse potencial é abundante no Extremo Sul. A agricultora de orgânicos Valéria Macorati se mudou de Guaianases para o Grajaú nos anos 1990 e, desde 2007, mantém um sítio na Chácara Santo Amaro. “Se você cruza o rio, fica difícil encontrar aquela mata original, com rios e animais”, diz Carol Ramos, do coletivo Bora Plantar, que faz o plantio de árvores nativas em Parelheiros.

Já o articulador sociocultural Adolfo Duarte, mais conhecido como Ferruge, recentemente criou o projeto Meninos da Billings, com aulas de canoagem e navegação nas penínsulas da Billings. “Trabalhamos o resgate cultural do cara que mora à margem da represa mas não usa por conta de um conceito cultural que se tem de morar aqui e pela poluição dessas águas”, diz ele. “Queremos valorizar o que temos na porta de casa”.

Anotaí!

A COP 21 começa na segunda-feira (30/11) e, neste domingo, acontece uma grande Mobilização Mundial pelo Clima. Em São Paulo, vai rolar na avenida Paulista com uma série de atividades e encerramento com shows de Lenine, Arnaldo Antunes e Mariana Aydar no Auditório do Ibirapuera.

Quando? Domingo, 29 de novembro, a partir das 11h

Onde? Próximo ao MASP – Avenida Paulista – Centro de São Paulo

Mais informaçõs aqui.

1 Comentário

  1. […] Para resgatar a identidade cultural local, ele se engajou em projetos náuticos que focam na apropriação da represa e no reconhecimento da cidade a partir das águas da Billings. “Trabalhamos o resgate cultural do cara que mora à margem da represa mas não usa por conta de um conceito cultural que se tem de morar aqui e pela poluição dessas águas”, disse. […]

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