No último sábado (03 de agosto), os cerca de 4 mil moradores ficaram presos na Ilha do Bororé – que, na verdade, é uma península localizada no extremo sul de São Paulo e banhada pela represa Billings.
Por cerca de três horas, um grupo de manifestantes que vive na ilha paralisou a balsa que faz a travessia sobre o reservatório até a avenida Dona Belmira Marin, no Grajaú, que fica na outra margem da Billings. Além da embarcação, a outra alternativa para sair do Bororé é pela estrada Paulo Guilguer Reimberg, uma via não pavimentada que liga a península até a região deParelheiros em um percurso de mais de uma hora.
A manifestação foi acompanhada pela equipe do Periferia em Movimento, que também ficou ilhada enquanto desenvolvia uma atividade no local com agentes marginais do coletivo Imargem e participantes do festival HUB Escola.
O protesto foi motivado pela recente troca da balsa. Segundo os moradores, o veículo anterior transportava 20 carros e demorava para cruzar a represa. Além da capacidade menor (a balsa atual suportaria até dez carros), o tempo gasto para a travessia subiu para 25 minutos, de acordo com relatos de moradores.
“A gente fica até duas horas na fila e não temos resposta de ninguém”, aponta o morador Marcelo Lima, que trabalha em Interlagos. “Resolvemos fechar a balsa porque a segurança tá escassa”, continua.
Marcelo e vizinhos reclamam que, com a menor capacidade e o maior tempo de espera pela balsa, as filas de carro à espera do embarque têm sido cada vez maiores e criminosos têm aproveitado para praticar assaltos no local.
“Os caras chegam de moto pedindo tudo e você vai fazer o quê?”, questiona o morador Agamenon Rodrigo Araújo, cuja filha teve o carro levado por assaltantes recentemente. “A alternativa era aumentar [a capacidade] da balsa e andar mais rápido. Não tem lombada na água”, diz.
Procurada pela reportagem, a EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia, responsável pela administração da balsa Bororé) informa que não houve mudanças quanto à capacidade ou tempo de travessia da represa.
Confrontada com as queixas dos moradores, a empresa diz que a embarcação transporta 440 mil veículos por ano, com capacidade para 12 veículos leves por viagem, e o tempo de percurso em água é de quatro minutos.
Além da Bororé, há outras duas embarcações sobre a Billings no município de São Bernardo do Campo.
Segurança
Sobre os assaltos, a EMAE diz que é responsabilidade da Polícia Militar. Presente com pelo menos quatro viaturas no protesto de sábado, a PM tentou negociar com os manifestantes para liberação da balsa e comentou os crimes.
“Não é responsabilidade nossa”, explica o sargento Nakazato, do 50º Batalhão (em Vila São José), que faz a patrulha na Ilha do Bororé. Os assaltos estariam ocorrendo na outra margem, no lado do Grajaú. “Do lado de lá [da balsa], está a cargo do 27º Batalhão (no Parque América)”, diz ele, que promete um policiamento maior na área sob seu comando.
Bairro localizado dentro de uma área de proteção ambiental, a Ilha do Bororé vive compõe a periferia de uma periferia, que é o distrito do Grajaú. Com apenas uma escola, um posto de saúde e uma linha de ônibus para atender à população, os moradores da Ilha do Bororé dependem da balsa para fazer quase tudo e prometem novas manifestações.
“Se alguém passa mal do lado de cá, fica difícil até de socorrer”, diz Marcelo. “Isso aqui é só uma advertência”.
Thiago Borges